"Aquilo que a personagem Ivana está vivendo vivi desde a infância: não queria brincar de bola, não queria dançar quadrilha, ficava constrangida de ir ao banheiro. Não fazia amigos pelo meu comportamento arredio e solidão constantes” - Carol Marra, atriz e modelo
O assunto é sério e delicado: o debate sobre a transição de gênero proposto por Glória Perez na novela A força do querer com a personagem Ivana (Carolina Duarte) não é ficção, mas, sim, questão vivida por muitas pessoas na vida real. Aqui em BH, em Minas, em todas as cidades do país, já que, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-se que uma em cada 100 pessoas sejam transgêneros, isto é, transitam entre os gêneros. Entre os famosos, há os atores Carol Marra e Tarso Brant, o ex-atleta e patriarca da família Kardashian, Bruce Jenner, a eterna sex symbol Roberta Close e muita gente mais.
No entanto, o conceito ainda é incompreendido pela maioria, confusão que se dá pela própria nomenclatura, como explica Flávia Teixeira, antropóloga, professora do Departamento de Saúde Coletiva do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, pós-doutora e pesquisadora na área de gênero. “Transexual e transgênero são conceitos diferentes: transgênero é um termo guarda-chuva, que tem por objetivo reunir um conjunto de pessoas que transitam no gênero sem necessariamente se diferenciar ou reivindicar um pertencimento identitário. Já transexuais se refere a homens trans e/ou mulheres trans que se identificam com gênero oposto ao atribuído ao nascimento”.
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IDENTIFICAÇÃO
Na trama, a autora vem apresentando etapas da história de Ivana. Em um primeiro momento, a jovem vive um processo de descoberta da transexualidade. Mais tarde, já identificando o que se passa, apresenta o desejo de adequar o corpo à identidade de gênero com a qual se identifica e começa a empreender ações para se submeter à transição, também chamada transexualização. No folhetim, quem ajuda a personagem é Tarso Brant, um transexual “de verdade”.
Natural de Belo Horizonte, ele nasceu menina, foi batizado Tereza e viveu como mulher boa parte da vida, até se decidir por adequar o corpo para o gênero masculino. “Desde criança, percebia minha inconformidade com meu gênero biológico, identificava-me mais com o sexo oposto. Nasci sendo menino”, afirmou. A partir da certeza, Tarso procurou ajuda e começou a trilhar a transição aos 19 anos.
A atriz Carol Marra também se identifica com a história de Ivana na novela. “Aquilo que a personagem Ivana está vivendo, vivi desde a infância: não queria brincar de bola, não queria dançar quadrilha, ficava constrangida de ir ao banheiro. Não fazia amigos pelo meu comportamento arredio e solidão constantes. Meus pais me levaram a inúmeros psicólogos e, invariavelmente, se havia uma sala cheia de brinquedos, eu ia direto nas bonecas, me interessava por coisas de meninas, dançava as músicas da Xuxa. Penso que eles imaginavam que eu fosse gay”, conta a atriz Carol Marra. No entanto, ela nunca se identificou com os amigos homossexuais. “Quando comecei a me transvestir, queria ser igual à minha irmã, uma mulher.”
Com a história de Tarso, da Carol e da personagem Ivana, um outro assunto entrou em debate nacional: a questão da transição de gênero, ou seja, quando o transexual decide fazer modificações no corpo para o gênero com o qual se identifica. Mas, quais são, de fato, as possibilidades de adequação existentes hoje no país?