O retrato da sociedade brasileira revela uma população que envelhece a passos largos, mas ao contrário do cenário de um passado não tão distante, os idosos do século 21 não experimentam a maturidade estacionados em um sofá. Muito pelo contrário, como aponta a psicóloga Isabelle Chariglione: “A depender do ponto de vista, a vida pode começar na terceira idade”, diz, lembrando que a qualidade e a expectativa de vida do brasileiro aumentaram significativamente nos últimos anos. “O idoso de algumas décadas atrás já não mais corresponde ao de atualmente, ainda tão cheio de vida, de saúde e de desejos”, afirma.
A especialista destaca ainda que a nova longevidade é uma conquista da humanidade, e que muitos idosos já estão aproveitando a oportunidade para vivê-la plenamente. “O Brasil tem um número significativo de octogenários e centenários. Então, a pergunta para os que chegam aos 60 anos é: o que você pensa fazer nos próximos 10, 20, 30 ou 40 anos?. Com certeza, é algo que podemos planejar e pensar qual seria a melhor maneira de viver estes próximos anos, que podem ser de finalizações de alguns ciclos, mas de descobertas de outros também”, sugere.
Prova vem de uma academia de ginástica de BH, onde alunas de 76, 92 e 96 anos mostram que nunca é tarde para cuidar do corpo, da mente e fazer amigos. Em coro, contam que a rotina é movimentada e alegre, e afirmam que nunca é tarde para começar. Para elas, se jogar na malhação e em outras atividades de um cotidiano animado faz bem e gera felicidade.
NUNCA É TARDE PARA COMEÇAR
Na sala de musculação, chama a atenção a disposição de Ângela Vieira Brandão: aos 96 anos e bisavó de oito crianças, ela frequenta a academia três vezes por semana, praticando musculação e alongamento. “Minha mente é de 69!”, brinca. De estatura mignon, a simpática senhora esbanja disposição e afirma que com a atividade física sente a saúde “cada vez melhor”. Ao contrário do que muitos podem imaginar, ela se matriculou na academia já em idade avançada, aos 90. “Fui entrando e gostando de tudo. Além da academia, subo os três andares do meu prédio pelo menos umas três vezes por dia: são 57 degraus”, orgulha-se.
A rotina inclui ainda almoçar fora diariamente, reuniões semanais da filosofia Seicho-No-Ie, compromissos sociais, fins de semana em companhia da família e cerca de quatro viagens por ano. “Mamãe adora Itacaré, na Bahia”, destaca a filha, Maria Helena, que celebra a longevidade e a disposição da mãe. “Enquanto a maioria leva os pais idosos ao médico, eu a levo para passear. Agradeço todos os dias a disposição, a amizade, a independência dela.” Por falar em amizade, vem da convivência com o marido, já falecido, as mais doces recordações. “Ele foi um grande companheiro, piauiense, um grande amor e um exemplo de que devemos seguir com alegria, pois a vida é uma matemática: cheia de problemas, mas o segredo é não se preocupar e saber que, mesmo diante das vicissitudes, devemos manter a boa vontade, o alto astral. É preciso amar, perdoar e agradecer, sempre, e viver o dia de hoje em plenitude, não guardar mágoa do que já foi e nem prever o que será amanhã. Progredir ao infinito”, ensina.
INDEPENDÊNCIA CELEBRADA
Com quase 92 anos completos, Maria Lage Alves, a Lia, é aluna da hidroginástica. “Fazia musculação, mas por ordem médica, depois dos 90, passei para a atividade na piscina, que também adoro”, cita. Comunicativa, ela diz que foi uma das pioneiras na academia, local que frequenta há mais de 15 anos. “Trouxe muita gente comigo, pois acredito que a prática de uma atividade física faz bem para o corpo e para a mente: aqui fazemos amizade, falamos da vida, esquecemos os problemas.”
Muito ativa e vaidosa – do estilo que não tira o colar nem para dormir, como revela –, Lia espera comemorar o centenário bem como está hoje. “Bato perna o dia inteiro e corro 40min no corredor da minha casa. Além da rotina de atividade física, gosto de visitar o comércio do bairro, ir até a Savassi, muitas vezes até sem gastar nada, apenas pelo prazer de apreciar as vitrines e conversar com os lojistas. Moro só, mantenho minha independência e fico sozinha numa boa”, revela.
De personalidade forte e otimista, ela é reconhecida entre as colegas da academia pela positividade perante a vida, que leva com “alegria, paz e amor”, como caracteriza. “Ficar carrancuda pra quê? Já perdi um filho, uma grande tristeza, mas superei por acreditar que Deus dá, Deus tira. Ele sabe a hora de cada um. Até por isso não tenho medo de nada, e agradeço todos os dias pelo prazer de viver ao lado de minha família, filhos, netos, bisnetos, das amigas e da minha própria companhia, com a qual também me divirto”, registra.
VOVÓ SARADA
A mais “broto” delas, Kalidja Ramn, terapeuta e professora de kabalah, está com 76 anos e esbanja um corpo sarado, de contornos esculpidos pela musculação com personal trainer, atividade que pratica pelo menos três vezes na semana. “Não tenho um segredo para estar com essa forma. Apenas busco uma vida saudável, faço tudo com muito amor, da ginástica às tarefas domésticas, e alimento a alma de espiritualidade”, discorre.
Mãe e avó, ela conta que viveu quatro casamentos e atualmente está sozinha. Mas, positiva como é, a vovó atlética não deixa a peteca cair. “A espiritualidade é vital, o cultuar o divino, pois acredito que não somos só o corpo físico. Outra forma de manter o alto-astral é sorrir para a vida, amar a si, procurar o autoconhecimento”, ensina ela, que ainda aposta em uma boa alimentação e em noites de sono tranquilas para manter uma maturidade jovial. “Tenho orgulho de dizer minha idade e estou sempre disposta a viver o novo.”