Participaram da pesquisa pacientes do Hospital Antônio Pedro, da Universidade Federal Fluminense (UFF), no Rio de Janeiro. O local é especializado no tratamento de indivíduos com doenças neuromusculares e neuroinfecciosas. O experimento foi feito entre dezembro de 2015 e maio de 2016.
Os 40 pacientes apresentavam enfermidades neurológicas distintas — 29 tinham síndrome de Guillain-Barré (GBS); sete, encefalite; três, mielite transversal; e um, polineuropatia desmielinizante inflamatória crônica (Leia Para saber mais). Os voluntários foram submetidos a dois exames: de sangue e de análise do líquido cefalorraquidiano (presente no sistema nervoso). Pelos resultados, os cientistas constataram que 35 pacientes (88%) apresentavam evidências de infecção recente do zika vírus. Desses, 27 tinham GBS; cinco, encefalite; dois, mielite transversa; e um, polineuropatia desmielinizante inflamatória crônica.
Para a equipe de investigadores, os dados reforçam a suspeita de impactos do vírus além dos inicialmente constatados. “Observamos uma tendência para o aumento da incidência de internações hospitalares para síndromes neurológicas agudas, incluindo GBS, encefalite e mielite transversa, em comparação à era pré-zika no Brasil”, ressaltam.
Apesar de algumas limitações da análise, como curto período de tempo e observações feitas em apenas um hospital, os pesquisadores acreditam que os resultados poderão ajudar no desenvolvimento de estratégias mais eficientes de combate ao vírus. “Um corte brasileiro feito em um único centro de saúde associou a infecção por zika a um aumento da incidência de um espectro diverso de síndromes neurológicas graves. Os dados também sugerem que testes sorológicos e moleculares usando amostras de sangue e líquido cefalorraquidiano podem servir como estratégia de diagnóstico alternativa menos dispendiosa nos países em desenvolvimento”, concluem.
Pistas rastreadas
Cláudia Barata Ribeiro, neurologista e fisiatra do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, e presidente regional da Associação Brasileira de Medicina Física e Reabilitação, acredita que, apesar das limitações, o estudo traz dados importantes, principalmente por ter usado dois testes para rastrear pistas do vírus zika. “Nos dois exames, eles observaram a presença do IGM, o anticorpo que aponta se essa infecção aguda ocorreu.
A médica também acredita que o método usado pelos pesquisadores poderá servir como base para diagnósticos mais completos. “Geralmente, realizamos apenas a análise do soro (sangue), que é o mais fácil, mas, com esse tipo de observação mais ampla, teríamos uma comprovação bem mais completa e confiável”, diz.
Palavra de especialista
Abordagem inicial
“A microcefalia é atualmente reconhecida como um dos resultados possíveis da síndrome de zika congênita. Os efeitos no sistema nervoso central ligados a essa enfermidade incluem atrofia cerebral, calcificações intracranianas, defeitos do tubo neural, entre outros. É extremamente importante compreender tanto o espectro quanto a frequência de doenças neurológicas induzidas pelo vírus zika. Esse artigo representa uma abordagem inicial para esse problema.
Kenneth L. Tyle, pesquisador do Departamento de Neurologia da Universidade do Colorado, em editorial publicado na revista Jama
Para saber mais
Desordens diversas
A síndrome de Guillain-Barré (GBS) é uma enfermidade autoimune, acontece quando o sistema imunológico ataca o sistema nervoso por engano, gerando inflamação dos nervos e fraqueza muscular. A polineuropatia desmielinizante inflamatória crônica ocorre de forma semelhante, mas a fraqueza persiste por mais de oito semanas. Já a encefalite é uma inflamação do cérebro causada quando um vírus infecta diretamente o órgão. No caso da mielite, há uma infecção ou uma inflamação da matéria branca da medula espinhal, parte do sistema nervoso que atua como ponte entre o cérebro e o resto do corpo..