Ossos fraturados são tratados com enxerto, procedimento demorado e passível de complicações. Em busca de uma alternativa mais eficaz, cientistas norte-americanos criaram uma técnica de regeneração óssea que une terapia genética e ultrassom. A combinaçãosurtiu resultados positivos em testes com porcos e foi detalhada na edição da última semana da revista Science Translational Medicine. A aposta da equipe é que, se funcionar em humanos, o tratamento melhore consideravelmente as intervenções ortopédicas.
Segundo os autores, todos os anos, mais de 2 milhões de enxertos ósseos são realizados no mundo. As lesões nesse tecido humano, porém, podem gerar lacunas largas no local da quebra, o que dificulta a regeneração por meio do procedimento usual. “Infelizmente, os enxertos ósseos trazem desvantagens. Há grandes necessidades não satisfeitas no reparo do esqueleto”, destacou, em comunicado, Dan Gazit, professor de cirurgia no Centro Médico Cedars-Sinai, nos Estados Unidos, e um dos pesquisadores do estudo.
No teste para o novo tratamento, inicialmente, os cientistas desenvolveram uma matriz de colágeno - proteína usada pelo corpo para reconstruir ossos - e implantaram a peça entre os dois lados de ossos fraturados em pernas de porcos. A matriz recrutou as próprias células tronco do membro lesionado após duas semanas. Em uma segunda etapa do experimento, os pesquisadores aplicaram, nos ossos lesionados, um gene indutor de osso, para provocar a regeneração, e microbolhas, para facilitar a entrada do gene nas células. O ultrassom foi usado para facilitar ainda mais a inserção do material.
Oito semanas depois, a abertura óssea estava fechada e a fratura da perna curada em todos os animais que participaram do teste. Além disso, os ossos repostos pelo organismo eram tão fortes quanto os produzidos por enxertos ósseos cirúrgicos. “Esse estudo é o primeiro a demonstrar que a entrega de genes mediada por ultrassom pode ser efetivamente usada no tratamento de fraturas de ossos não cicatrizantes. Ele aborda uma grande necessidade ortopédica não satisfeita e oferece novas possibilidades de tradução clínica”, destacou Gadi Pelled, professor-assistente de cirurgia no Cedars-Sinai e coautor do estudo.
MENOS COMPLICAÇÕES
Para Michal Alexander Danin, ortopedista do Hospital Brasília, o trabalho tem resultados empolgantes, principalmente para os brasileiros. “Nos Estados Unidos e na Europa, existem enxertos com uma qualidade melhor, que são retirados de cadáveres. Mas a nossa política não permite usar esse recurso”, explicou o especialista, que não participou do estudo. Danin também ressaltou as vantagens do método em comparação ao enxerto. “Quando o espaço da lesão é pequeno, o enxerto consegue resolver o problema, mas, quando essa falha óssea tem mais de dois centímetros, a situação fica mais difícil.
O ortopedista destacou ainda a possibilidade de reduzir as complicações durante o tratamento ortopédico com o uso da nova técnica. “Outra vantagem é que, para fazer o enxerto, você precisa tirar um pedaço do quadril dos pacientes, por exemplo, e usá-lo em outro local. Mas isso pode trazer incômodos e até o risco de infecção.” Segundo Danin, os cientistas precisam repetir os testes em animais maiores e ter certeza da eficácia da técnica. “Acho importante ver como funcionaria em animais de grande porte, como cavalos, cordeiros, já que eles têm uma mobilidade maior. Outro ponto interessante é saber se o osso regenerado tem a mesma força que o original. Também é necessário ter a certeza de que problemas genéticos não possam surgir, como um câncer ósseo”, listou.
Mesmo cientes dos novos desafios, os autores estão otimistas com os resultados já alcançados e preveem avanços históricos. “Estamos no início de uma revolução em ortopedia. Combinamos uma abordagem de engenharia com uma biológica para avançar na engenharia regenerativa, que acreditamos ser o futuro da medicina”, ressaltou Gazit.
REFORÇO
O procedimento consiste na retirada de uma quantidade de osso de outro ponto do esqueleto para ajudar a tratar a parte lesionada. O material pode ser retirado do próprio paciente e ser obtido de um doador. Há ainda apossibilidade de uso de um material artificial. Geralmente, os médicos utilizam os ossos da costela ou do quadril..