A menopausa - período que determina o fim da menstruação - é uma etapa pela qual todas as mulheres passarão, porém, muitas delas enfrentam essa mudança hormonal mais cedo que o considerado normal, antes dos 45 anos. Para evitar essa situação, que pode causar problemas de saúde, como um risco maior de doença cardiovascular e osteoporose, a alimentação pode ser a resposta, como mostram cientistas americanos. Os pesquisadores acompanharam mais de 100 mil mulheres durante 20 anos e observaram que uma dieta rica em cálcio e vitamina D reduziu as chances de a menopausa precoce ocorrer. Os autores do estudo, publicado na revista American Journal of Clinical Nutrition, acreditam que os achados podem resultar em mais estratégias que protejam a saúde das mulheres.
A investigação americana foi baseada em pesquisas recentes feitas em animais, que mostraram como a vitamina D regula a secreção de hormônios que impedem o processo de deterioração dos ovários. “Como o envelhecimento acelerado dos ovários é a característica principal da menopausa precoce, os achados desses estudos laboratoriais nos levaram à hipótese de que uma maior ingestão de vitamina D pode estar associada a um risco menor desse ‘adiantamento’. Por isso, resolvemos realizar o estudo, que é o primeiro a investigar essa possível relação”, destacou Alexandra Purdue-Smithe, autora principal do artigo e pesquisadora da Universidade de Massachusetts, nos Estados Unidos.
No trabalho, os cientistas analisaram por duas décadas 116.430 enfermeiras que tinham entre 25 e 42 anos em 1989, data em que a pesquisa teve início. A cada dois anos, elas responderam a questionários com perguntas sobre seu estilo de vida e condições médicas.
Suspeitas
Os investigadores ainda não conseguiram legitimar as causas dessa relação, mas cogitam duas hipóteses sobre os resultados observados. “A vitamina D pode regular a secreção hormonal, nosso ponto de partida da pesquisa, e sabemos também que alimentos derivados do leite são uma fonte rica de esteroides sexuais. A ingestão de ambos deve aumentar os níveis de esteroides sexuais circulantes e tornar mais lento o envelhecimento dos ovários”, explicou Purdue-Smithe.
Cristiane Moulin, endocrinologista da clínica Metasense, em Brasília, e doutora em ciências médicas pela Universidade de São Paulo (USP), destacou que os achados do trabalho americano são inéditos na área, mas disse que a ligação da vitamina D com o sistema hormonal era algo suspeito. “Temos visto muitos estudos que mostram a relação desse suplemento com outras patologias e sabemos também da existência de receptores de vitamina D no ovário. Mas é apenas uma hipótese, estudos futuros são necessários”, opinou a especialista, que não participou do estudo.
“Também acredito que outras particularidades do trabalho devem ser mais avaliadas, por exemplo, os cientistas observaram a ingestão de alimentos fortalecidos, que são mais consumidos nos Estados Unidos, mas aqui no Brasil não temos esse costume. Outro ponto que merecia atenção é a quantidade de luz solar a que as mulheres avaliadas foram expostas, que não foi avaliada”, complementou Moulin.
Proteção
Os cientistas ressaltam que mais investigações são necessárias para que seja possível confirmar a ingestão de vitamina D e cálcio como fatores preventivos à menopausa precoce. Eles destacam que a evolução do trabalho pode render estratégias que protejam a saúde das mulheres, extremamente necessárias para a área médica. “Menopausa precoce aumenta o risco de doença cardiovascular, declínio cognitivo precoce e outras condições.
Lindinalva Giovanni, ginecologista e obstetra do Laboratório Exame, em Brasília, enfatiza que o trabalho americano aborda um tema de grande relevância para a saúde da mulher. “Evitar que a menopausa chegue cedo é importante, pois impede que as mulheres sofram com problemas emocionais, principalmente em sua vida profissional, prejudicando assim a sua qualidade de vida”, ressaltou a especialista, que não participou do estudo.
A médica ressalta os cuidados que especialistas recomendam às mulheres para evitar que a menopausa chegue antes da hora. “Essa busca exagerada que vemos atualmente, de permanecer jovem, tem seu lado positivo, pois faz com que a mulher melhore o estilo de vida que leva. Sabemos que realizar exercícios físicos e acabar com hábitos nocivos, como fumar, pode evitar essa mudança precoce. O uso do tabaco pode adiantar em até dois anos a menopausa”, detalhou. “Seria interessante dar continuidade a essa pesquisa e analisar grupos mais distintos de mulheres, em outras profissões e de outras etnias, por exemplo, já que, ao confirmar esses dados vistos no estudo, teríamos mais medidas que ajudem a prevenir a menopausa precoce”, complementou Giovanni.
A autora do estudo adianta quais são os próximos passos. “A fim de responder a essas questões de forma conclusiva, os nossos trabalhos seguintes avaliarão os níveis de vitamina D e de alimentos lácteos que podem interferir no risco da menopausa precoce.