Com o avanço da idade, diversas enfermidades surgem e podem prejudicar a qualidade de vida dos idosos. Um dos problemas de saúde mais frequentes nessa etapa da vida é a osteoartrite, que ocorre quando a cartilagem — tecido flexível presente nas extremidades dos ossos — se desgasta, o que dificulta a locomoção.
Em busca de estratégias que combatam esse problema, pesquisadores americanos utilizaram a adenosina, uma das moléculas responsáveis pelo armazenamento de energia das células, para tratar roedores diagnosticados com a doença. A intervenção gerou resultados positivos, com a recuperação do movimento das cobaias. As conclusões da pesquisa, apresentadas na revista Nature Communications, ainda precisam ser testadas em humanos, mas podem ajudar a criar uma alternativa de terapia mais eficaz que as usadas atualmente.
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No experimento, os cientistas analisaram 12 ratos que não produziam adenosina. Os pesquisadores observaram que as cobaias não se reproduziam e tinham dificuldade em agarrar seus alimentos à medida que ficavam mais velhas. “Depois que fizemos um raio X de suas patas, nós vimos que todos os animais tinham osteoartrite. O que provavelmente os impediu de montar nas fêmeas e se reproduzir”, detalhou Cronstein.
Os cientistas aplicaram adenosina nas cobaias e, posteriormente, observaram uma grande melhora na locomoção dos roedores. “A injeção de adenosina nas juntas lesadas de ratos impediu que a doença avançasse e mostrou a reversão dos danos. Esse achado sugere que podemos usar essa substância ou agentes semelhantes à adenosina para tratar a osteoartrite, uma forma muito comum de artrite. Até 10% da população dos EUA temosteoartrite, o que acredito que provavelmente seja semelhante no Brasil”, ressaltou Cronstein.
De acordo com o Ministério da Saúde, a osteoartrite atinge cerca de 15 milhões de brasileiros. Dados da Previdência Social mostram que a doença é responsável por 7,5% do total de afastamentos do trabalho.
Segundo os cientistas, a melhora desencadeada pela adenosina ocorreu porque a substância é derivada da adenosina trifosfato (ATP), uma molécula indispensável para a vida, já que armazena a energia necessária para as atividades vitais e básicas das células.
“A ATP é uma das moléculas mais abundantes na célula e é o combustível para funções celulares, ela tem muita influência em todo o corpo. Para entender melhor: os níveis de adenosina no cérebro aumentam durante a noite, ajudando na indução do sono. A cafeína bloqueia os receptores de adenosina no cérebro para mantê-lo acordado”, detalhou o autor do estudo.
Resultado promissor
Sandra Maria Andrade, reumatologista do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, e membro titular da Sociedade Brasileira de Reumatologia, destaca que o estudo é interessante e detalha como as articulações são influenciadas pela adenosina. “Esse artigo mostra algo novo e promissor: a adenosina como um agente que pode ajudar a estimular os condrócitos.
Ao serem excitados, eles formam os colágenos, que são os responsáveis pela água que faz a cartilagem funcionar, proporcionando assim o amortecimento”, destacou a especialista, que não participou do estudo. “Durante o envelhecimento, a quantidade dessa água diminui e ocorrem rachaduras, o que marca o início da osteoartrite”, completou.
Com os resultados positivos vistos no experimento em ratos, os autores da pesquisa acreditam que estratégias terapêuticas mais eficazes para a osteoartrite estejam próximas de ser alcançadas. “Esperamos desenvolver adenosina em laboratório ou agentes semelhantes a ela para serem utilizados nas articulações de pacientes com artrite.
Dessa forma, poderemos prevenir a progressão e possivelmente revertê-la se estiver presente. Assim, diminuiríamos a necessidade de cirurgia. A adenosina já é usada na medicina (para o tratamento e diagnóstico de doenças cardíacas), por isso acreditamos que seremos capazes de trazê-la para a área clínica com relativa rapidez”, adiantou Cronstein. “Poderíamos adiar consideravelmente a necessidade de tratamento das articulações com essa estratégia, que seria feita apenas uma vez, com total eficácia”, ressaltou.
Sandra Andrade também acredita que os achados americanos podem render tratamentos futuros, que seriam muito bem recebidos pela área médica.“É importante evitar esse problema precocemente, hoje temos muitos pacientes que convivem com próteses, seria interessante ter uma opção melhor do que as usadas atualmente”, destacou a especialista.