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Pesquisa que comparou esportes mostra quais são os campeões em benefícios para a saúde

Algumas atividades físicas podem reduzir os riscos de morte mais do que outras

Vilhena Soares
Corrida e futebol não apresentaram níveis significativos de redução do risco de morte - Foto: Carlos Silva / CB / D.A PressJá se sabe que a prática de esportes é uma aliada da saúde. Porém, alguns exercícios podem ser mais amigos do organismo humano do que outros. É o que mostra pesquisa realizada por cientistas australianos. Em uma análise científica com 80 mil pessoas, os especialistas observaram que esportes realizados com raquete, além de natação, ciclismo e aeróbica, reduzem os riscos de morte mais do que a corrida e o futebol. Os autores do estudo, publicado na revista internacional British Journal of Sports Medicine, acreditam que os achados podem ajudar as pessoas na hora da escolher um esporte adequado.

Na pesquisa, os cientistas analisaram adultos com mais de 30 anos. Os pesquisadores usaram informações obtidas por meio de questionários respondidos anualmente, de 1994 a 2008, na Inglaterra e na Escócia, que englobaram dados sobre a prática de seis diferentes tipos de atividade física: ciclismo, natação, esportes com raquete - como tênis, squash e badminton -, aeróbica, futebol e corrida.

Ao calcular os riscos de morte de cada modalidade e comparar os dados, os cientistas encontraram diferenças significantes: o risco de morte era 47% mais baixo entre aqueles que praticavam esportes com uso de raquete, 28% mais baixo entre nadadores, 27 % mais baixo entre aqueles que realizavam aeróbica e 15% mais baixo entre os ciclistas. Os pesquisadores não encontraram níveis significativos relacionados aos participantes que praticavam futebol e corrida. “Nossas descobertas indicam que não é só o quanto e com que frequência, mas também que tipo de exercício que você faz que parece fazer a diferença”, destacou em um comunicado à imprensa Emmanuel Stamatakis, um dos autores do estudo e pesquisador da Faculdade de Ciências da Saúde e da Escola de Saúde Pública da Universidade de Sydney, na Austrália.

O levantamento foi feito com 80 mil esportistas com mais de 30 anos de idade - Foto: Greg Wood / AFP Getúlio Bernardo Morato Filho, médico do esporte da clínica Meta, em Brasília, acredita que a pesquisa mostra resultados interessantes, mas ressalta que outros pontos no trabalho devem ser considerados na interpretação dos resultados. “Esse estudo tem que ser analisado com cuidado, já que foram utilizadas revisões de trabalhos anteriores, não foram grupos que foram acompanhados, o que renderia uma investigação mais detalhada. Não podemos atribuir as taxas de sobrevivência apenas a esses dados, pois outros fatores podem estar envolvidos. Por exemplo, sabemos que pessoas que fazem esportes individuais têm um cuidado maior com elas mesmas, e praticantes de tênis possuem mais poder aquisitivo
. Ou seja, outros fatores, como recursos financeiros, podem ter influenciado esse resultado”, detalhou o médico.

Getúlio Filho também acredita que as diferenças de esforço envolvidas nos esportes analisados explicam a distinção observada na análise internacional.“Podem existir algumas características que favorecem a probabilidade de sobrevida, como a intensidade do esporte que é feito; a natação mesmo exige muito do corpo. Talvez a mensagem desse trabalho seja exatamente essa, que atividades leves trazem benefícios à saúde, mas as de maior intensidade aumentam mais a sobrevida”, complementou o especialista.

Julian Machado, ortopedista do Hospital Santa Lúcia e diretor científico da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia do Distrito Federal, acredita que os dados da pesquisa australiana são importantes para a área de pesquisa médica e refletem diferenças nos níveis de esforço exigidos nos esportes analisados. “Tudo que conseguirmos descobrir sobre o efeito das atividades físicas é positivo. Esses achados são questões que já se suspeitava na área médica, mas com essa análise agora passa a haver dados científicos para comprovação e, realmente, os dados diferentes podem ter sido vistos, pois os esportes mais intensos mostraram resultados melhores. A exceção foi do futebol, mas nesse caso a atividade foi avaliada de forma semelhante à corrida, já que o jogador, quando não está com a posse da bola, passa boa parte do tempo correndo”, ressaltou o ortopedista.

Benefício para a saúde
Os autores do estudo acreditam que a pesquisa pode ajudar em estratégias de cuidados com a saúde e como um auxiliar na hora da escolha da atividade física adequada. “A participação em esportes específicos pode ter vários benefícios para a saúde. Essas observações, somadas às provas existentes, devem apoiar a comunidade esportiva para que, junto com outros setores projete e implemente programas de exercícios e atividades físicas em geral”, ressaltou Stamatakis.

O médico Getúlio Filho destaca que a prática de atividades físicas necessita de uma certa regularidade para que rendam resultados positivos em quem as executa.“O recomendado pelo American College os Sports, nos Estados Unidos, que estuda os efeitos dos esportes, é que sejam realizados pelo menos cinco vezes por semana, em sessões de 60 minutos, equilibrados entre exercícios considerados de intensidade moderada ou intensa. Por causa disso também é importante fazer algo que se goste, para que essa frequência ocorra, e não apenas optar por um esporte que esteja entre os com taxas maiores de sobrevida, além de outros pontos individuais serem considerados”, ressaltou Filho.

Machado também acredita que o esporte precisa ser levado a sério, pois assim como carrega benefícios também pode prejudicar. “O esporte pode ser muito positivo para a saúde, mas caso seja realizado em excesso pode trazer danos e deixar de ser saudável”, detalhou o especialista. Os autores do estudo darão continuidade à pesquisa e pretendem entender melhor como as atividades físicas impactam pessoas de diferentes faixas etárias e estilos de vida.