Impulsionar o sistema imune para combater doenças graves é uma estratégia que tem sido bastante explorada na área médica. Com base em resultados positivos dessa prática, os investigadores resolveram testar a mesma técnica contra a LMA, a leucemia mais comum em adultos. “Métodos de imunoterapia alavancam os sistemas de defesa do corpo para combater as células cancerosas. Ao criar uma vacina personalizada, usamos o poder do sistema imunológico para, seletivamente, segmentar o câncer de cada paciente e evitar os efeitos colaterais da quimioterapia”, explica, em comunicado, David Avigan, um dos autores e professor de Medicina da Universidade de Harvard.
A vacina foi desenvolvida com células de defesa retiradas de um paciente com leucemia e células dendríticas, que libertam células-T, capazes de eliminar tumores. “O desenvolvimento dessa vacina personalizada se baseou na premissa de que o tratamento eficaz de cânceres estabelecidos exige a indução de imunidade com vários antígenos (substâncias que ativam a resposta imune do corpo), incluindo os neoantígenos, especificamente expressos pelas células de câncer do próprio paciente”, destaca Donald Kufe, também autor e pesquisador do Instituto do Cancro de Dana-Farbe, em Boston.
A fórmula foi testada em 17 pessoas que haviam realizado quimioterapia e se recuperavam do tratamento, período em que as recaídas são bastante comuns. Os participantes mostraram tolerância à fórmula protetiva, que desencadeou a expansão de células-T específicas para o combate à leucemia por mais de seis meses. Nenhum deles mostrou recaídas depois de um ano da vacinação e 12 permaneceram sem leucemia após quatro anos e nove meses. “Com a vacina, usamos o sistema imunológico para direcioná-lo ao tumor, incluindo células que podem ser resistentes à quimioterapia
Volney Lara Vilela, médico hematologista do Centro de Oncologia do Hospital Sírio-Libanês, unidade de Brasília, avalia que o trabalho norte-americano merece destaque pelos efeitos obtidos. “Essa estratégia de potencializar o sistema imune vem sendo testada com outras doenças, como o mieloma múltiplo. Outros estudos também exploraram o uso de uma vacina para tratar a leucemia, mas sem resultados positivos. Esse é um trabalho pequeno, com poucos participantes, mas que se mostra muito promissor”, diz.
Bom para idosos
Outro ponto da pesquisa que animou os autores do estudo foi o fato de a vacina funcionar bem nos mais vividos, a maioria dos participantes tinha em média 63 anos. A fórmula, portanto, serviria como uma alternativa ao transplante de medula óssea, não indicado a esses pacientes. “O transplante é uma das tentativas de cura para esse problema de saúde, mas, em pessoas mais velhas, envolve um alto risco. A vacina seria uma alternativa para esse grupo pela sua fácil aplicabilidade. Ela pega apenas a parte boa do transplante, que é a da reação imunológica, a capacidade de fazer a varredura da doença”, explica Vilela.
O hematologista também acredita na possibilidade de a fórmula funcionar como um tratamento auxiliar para a LMA. “Os pesquisadores citam, no estudo, que essas células leucêmicas podem criar um mecanismo para fugir do sistema imune. Caso isso realmente ocorra, uma opção seria usar a vacina com os medicamentos que já são empregados no tratamento da leucemia, em uma terapia conjunta”, opina.
A equipe liderada por Rosenblatt realizará outros experimentos em pacientes atendidos em 15 centros de pesquisa de câncer
Primeira etapa
“A leucemia mieloide aguda é tratada com quimioterapia, mas, quando o paciente não responte aos medicamentos, a alternativa para erradicar a doença é o transplante de medula óssea, no qual é necessário um doador que tenha compatibilidade com o paciente, reduzindo, assim, os riscos de rejeição. Trata-se de um procedimento rápido, como uma transfusão de sangue. Antes, porém, o paciente se submete a um tratamento para destruir a própria medula. Só depois disso, terá condições de receber as células da medula sadia de um doador.