A rede particular de saúde está tentando reverter a escalada de cesáreas historicamente registradas em seus hospitais. E, por meio de um projeto-piloto de incentivo ao parto normal, já tem conseguido bons resultados. É o que mostram os dados do programa Parto Adequado, implantado em 26 hospitais – 22 privados e quatro maternidades do Sistema Único de Saúde (SUS) – em abril de 2015. Passados 18 meses do início do programa, as mudanças cultural, de infraestrutura e de operação nos hospitais participantes resultaram no aumento de 76% dos partos normais nessas unidades. Com isso, mais de 10 mil cesáreas sem indicação clínica foram evitadas. Da lista de participantes, a unidade Santo Agostinho do Hospital Mater Dei, em Belo Horizonte, alcançou o melhor resultado, com 52% de partos normais entre todos os nascimentos que registrou. Essa é a maior taxa do país em um serviço particular.
O percentual ainda coloca o Mater Dei entre os nove hospitais do grupo piloto que conseguiram atingir ou superar individualmente a meta estabelecida, de 40%. No global, ao alcançar o aumento de 76% nos partos normais, as 26 instituições de saúde tiveram um salto de 16 pontos percentuais – saindo de 21% em 2014 para 37% ao final do projeto, em 2016. Outros nove hospitais também integraram o projeto, partilhando experiências ou tendo acesso a materiais, monitoramento dos resultados e reuniões. Se incluídas essas nove unidades, o crescimento médio da taxa de partos normais foi de 43% – mais de 10 pontos percentuais – passando de 23,8% para 34%. Segundo a coordenadora do Serviço de Ginecologia, Obstetrícia e Urinoginecologia do Mater Dei, Márcia Salvador, o próprio nome do método explica a importância de sua adoção
Também diretora clínica e vice-presidente assistencial da rede de hospitais Mater Dei, Márcia explica que o nome do projeto, Parto Adequado, diz da necessidade de atender a cada caso conforme suas especificidades. E que é essencial avaliar e identificar o tipo de parto que traga maior segurança à mãe e ao bebê, de acordo com a individualidade de cada dupla. Ela afirmou ainda que, desde 2006, o hospital conta com uma estrutura de governança clínica e trabalha indicadores de performance do corpo clínico com o percentual de partos normais. “Com o projeto, reforçamos essa cultura, associamos os resultados de aumento de taxa de parto normal aos resultados perinatais”, disse. Ela destacou ainda que a unidade implantou o Código Rosa, iniciativa pioneira de socorro rápido a casos emergenciais, que coloquem em risco a vida da gestante do feto. Mediante acionamento, um time de obstetra, anestesista e pediatra, capacitado para o atendimento, é solicitado e se desloca até a gestante em até cinco minutos, de qualquer setor do hospital até o bloco obstétrico. “Essa é uma importante ação, pois em obstetrícia, casos que necessitam de intervenção de emergência podem fazer grande diferença”, completa.
Esperança
Como justificativa para o sucesso do hospital no Projeto Parto Adequado, Márcia Salvador aponta o diálogo, a criação de protocolos e o treinamento da equipe, composta por enfermeiros, administração e 35 ginecologistas e obstetras plantonistas, como fator crucial. Como resultado, segundo ela, o hospital superou a meta individual de 40% de partos vaginais, além de diminuir as complicações decorrentes do procedimento e aumentar a satisfação dos clientes, que são atendidos de forma individualizada. De maneira ainda mais ampla, a vice-presidente do hospital acredita que o projeto possibilita uma mudança na cultura e na percepção acerca do nascimento
O projeto Parto Adequado foi desenvolvido pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), em parceria com o Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE) e o Institute for Healthcare Improvement (IHI). A iniciativa, que será expandida para mais 150 hospitais, conta com o apoio do Ministério da Saúde (MS).
Na rede pública, desde 2011, gestantes também são incentivadas a realizar o parto normal por meio do Programa Rede Cegonha. Com ele, a mulher é acompanhada na atenção básica do Sistema Único de Saúde (SUS), desde o início da gravidez até a criança completar 2 anos de idade. No SUS, a taxa de partos cesarianos já representa números bem abaixo da rede particular e tem demostrado ainda mais redução. De acordo com o Ministério da Saúde, em 2015, foram feitos 1,1 milhão de partos normais (59,80%), no Brasil. Em 2016 foram realizados até novembro, 710 mil (59,40%).