Silenciosa e com alto poder de letalidade. A desatenção da população com cuidados básicos de alimentação e bem-estar, somada à falta de prevenção e tratamento de fatores de risco, faz das doenças cardiovasculares a principal causa de morte no Brasil e no mundo. Medidas simples poderiam melhorar um quadro preocupante. Além disso, um terço dos óbitos registrados em todo o planeta poderiam ser evitados. Nos casos mais graves, o coração segue a evolução da medicina, com as cirurgias que se mostram cada vez mais seguras e menos invasivas para os pacientes.
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Doenças cardiovasculares provocam cerca de 950 mortes por dia no BrasilQuase 30% das mortes no Brasil são por doenças cardiovasculares Participação de mulheres em pesquisa sobre cura e prevenção de doenças cardiovasculares é pequenaNovo paradigma na insuficiência cardíaca. A droga sacubitril/valsartanPesquisa mostra que cuidar do corpo e da mente já na meia idade também evita insuficiência cardíacaE quem pensa que coração é doença de idoso, engana-se. Com a chegada dos antibióticos, vacinas e medidas de saneamento básico nas décadas de 1940 e 1950, a população passou a morrer menos de doenças infecciosas e mais das chamadas “doenças de adultos”. Segundo o presidente da SBC, Marcus Vinícius Bolívar Malachias, o Brasil enfrenta o mesmo problema que os Estados Unidos, mas aqui morre-se cinco a 10 anos antes. “Não fazemos a prevenção e não tratamos fatores de risco. Há ainda uma dificuldade de acesso à medicina, mas as pessoas chegam até ela por meio dos programas públicos de saúde. Outro problema é que o brasileiro não controla fatores de risco: hipertensão, colesterol alto, diabetes, tabagismo, obesidade, sedentarismo e alimentação irregular”, afirma.
TABAGISMO Segundo o cardiologista, a única vitória entre os quatro grandes fatores – hipertensão, colesterol, tabagismo e diabetes – é em relação ao fumo. Por causa das leis brasileiras que proibiram o cigarro em vários espaços e de propagandas massivas de combate ao mau hábito, o médico diz que houve redução drástica no tabagismo. “As doenças vêm se reduzindo no Brasil em relação ao crescimento da população, mas ainda é tímido tendo em vista os conhecimentos da medicina e da ciência.”
O médico, que também é professor da Faculdade de Ciências Médicas em Belo Horizonte e doutor em cardiologia pela Universidade de São Paulo (USP), aponta melhoria no atendimento da emergência nas unidades de saúde, mas diz que o país ainda peca na parte primária – a prevenção. Ele ressalta que 30% da população com idade superior a 18 anos é hipertensa, o correspondente a 36 milhões de brasileiros. Desses, só 20% têm a pressão controlada. “Temos 80% dessas pessoas sujeitas a fatores de risco e às consequências da doença, que são infarto e derrame, as principais causas de mortes cardiovasculares”, alerta Marcus Bolívar.
À medida que a idade aumenta, cresce o problema – 50% de homens e mulheres acima de 55 anos sofrem de pressão alta, por exemplo, segundo dados da pesquisa Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefônico (Vigitel), feita pelo Ministério da Saúde. “Se considerarmos que há pessoas que nem sequer sabem ter o problema, esses dados são subestimados.”
À medida que avançam as doenças cardiovasculares, avançam também os tratamentos, deixando as cirurgias que fazem médicos abrirem a caixa torácica cada vez mais no passado. Com a melhora dos tratamentos clínicos, muitas vezes nem se chega à intervenção mais radical e, quando é necessária, os cateteres e técnicas híbridas têm sido grandes aliados. Caso do implante valvar aórtico transcateter, chamado de Tavi (do inglês transcatheter aortic valve implantation), usado há mais de uma década nos Estados Unidos e Europa e indicado para o tratamento de pacientes idosos de alto risco com diagnóstico de estenose valvar aórtica (condição que calcifica uma das válvulas cardíacas). No Hospital Madre Teresa, a técnica é aplicada pela equipe de cardiologia por meio dos serviços de hemodinâmica e cirurgia cardiovascular.
Nesse procedimento, a válvula é substituída por inserção de um cateter de 18 milímetros de diâmetro na perna, que segue até o coração. O procedimento é minimamente invasivo e traz diversos ganhos para o paciente, como a redução da taxa de mortalidade de 30% na cirurgia tradicional de peito aberto para 4% na intervenção para implante da Tavi, segundo os médicos Marcos Antônio Marino (coordenador do Serviço de Hemodinâmica), Rodrigo Bernardes (coordenador do Serviço de Cirurgia Cardiovascular) e Fernando Roquette Reis (cirurgião cardiovascular do Madre Teresa). O tempo de cirurgia também é diferenciado e pode durar cerca de uma hora e meia – no procedimento tradicional, pode chegar a cinco horas.
Menos tempo de internação, menos risco de sangramentos e complicações e retorno mais breve às atividades habituais são outros ganhos, muito parecidos com as vantagens do Da Vinci, primeiro e único sistema robótico de Minas Gerais, considerado o que há de mais inovador no campo da cirurgia minimamente invasiva. O robô foi comprado pela Fundação Educacional Lucas Machado (Feluma) – mantenedora da Faculdade de Ciências Médicas, do Instituto de Pós-Graduação, do Hospital Universitário Ciências Médicas (antigo São José) e do Instituto Robótica. E está montado no Hospital Vila da Serra, em Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte.
Nessas intervenções, o médico usa uma ferramenta com visualização tridimensional e alta definição para reproduzir todas as características de uma cirurgia aberta convencional. Além de atuar em várias cirurgias, entre elas a cardíaca, o Da Vinci surge como possibilidade de pesquisa e experimentação de novas técnicas cada vez menos invasivas.