Brasília – Lembrar a hora de um compromisso, o nome de um conhecido recente ou um endereço da loja visitada há poucos dias são exemplos de memória de curto prazo, também chamada de memória do trabalho. Acredita-se que essa recordação cotidiana seja mantida pelo cérebro apenas pela ativação de neurônios, mas estudo publicado na revista Science traz uma nova abordagem. Pesquisadores dos Estados Unidos descobriram que outras regiões cerebrais estão ligadas a esse tipo de recordação e que há, inclusive, a possibilidade de reavivá-lo por meio de estimulação magnética. Os achados, acreditam, poderão ajudar em tratamentos de problemas de saúde, como o Alzheimer.
O trabalho partiu de um experimento anterior em que a mesma equipe observou que a atividade dos neurônios durante a ativação da memória curta desaparecia. “Queríamos medir como a força de atividade de uma memória pode variar para que uma lembrança ocorra. Para nossa surpresa, durante os experimentos vimos que a atividade da memória de trabalho não diminuiu apenas, ela desapareceu”, explica ao Estado de Minas Bradley Postle, um dos autores e pesquisador da Universidade de Wisconsin-Madinson. O trabalho contou com a participação de cientistas da Universidade de Notre Dame, também dos Estados Unidos.
No experimento novo, para entender a fundo esse mecanismo, voluntários foram expostos a estímulos de memória curta: viram imagens de um rosto e de uma palavra enquanto eram analisados por meio de um software que mapeava a atividade cerebral deles. Após a exibição das imagens, os participantes foram distraídos, o que fez com que a atividade cerebral ligada à memória curta desaparecesse. Mas, ao ser perguntados sobre o que viram, os participantes conseguiam se lembrar das figuras mesmo sem a ativação no cérebro ter sido registrada pelo equipamento.
Com base nesse achado, os cientistas acreditam que outros mecanismos possam estar ligados à retenção de eventos cotidianos.
“O fato de que a memória de trabalho pode ser recuperada em um momento de aviso prévio, quando se pede para lembrar de algo, mesmo sem detectar a atividade dos neurônios, sugere que, talvez, ela esteja sendo realizada de uma maneira diferente. Talvez, seja mantida da mesma maneira que as memórias de longo prazo são armazenadas”, avalia Postle.
Segundo o neurocirurgião brasileiro Mauro Suzuki, a pesquisa muda conceitos antigos sobre a memória de trabalho. Anteriormente, ela era atribuída apenas ao córtex pré-frontal, área do cérebro que, quando sofre atrofia, como danos causados pelo acidente vascular cerebral (AVC) ou pelo Alzheimer, diminui consideravelmente a memória de curto prazo. “Por isso que são recomendadas as atividades que estimulam essa região, como fazer exercícios, e aquelas que aumentam a repetição, os cálculos, por exemplo. Servem como uma espécie de treinamento para o cérebro”, esclarece.
Neurônios ativados Em uma segunda etapa, os cientistas norte-americanos resolveram testar o uso de estimulação magnética nos voluntários. O pulso aumentou a atividade dos neurônios quando os participantes foram instigados a buscar as lembranças cotidianas. Os cientistas ainda não sabem explicar a razão desse efeito positivo, mas levantam uma hipótese.
“A estimulação magnética produz um pulso que ativa os neurônios de forma não específica. Se o fluxo dessa corrente for guiado pelo padrão de forças de conexão que estamos discutindo (ligadas à memória curta), pode ser que a estimulação esteja, de maneira grosseira, produzindo o mesmo efeito no cérebro de que quando você, voluntariamente, começar a puxar pela memória a lembrança de que precisa”, compara Bradley Postle.
Apesar da necessidade de mais estudos para comprovar a ação da estimulação magnética e os mecanismos que estão envolvidos na memória curta, a equipe acredita que os resultados alcançados podem impulsionar novos campos na pesquisa médica relacionada a distúrbios neurológicos.
“Alguns problemas psiquiátricos são distúrbios do pensamento: a depressão está associada à ruminação de pensamentos negativos, a esquizofrenia pode ser acompanhada por alucinações, o que equivale à ativação de lembranças de formas anormais. Assim, pode-se imaginar que o trabalho pode contribuir para tratamentos que permitam aos pacientes exercerem mais controle sobre os seus pensamentos”, detalha Postle.
Suzuki também ressalta que mais estudos são necessários para que as descobertas possam contribuir para a área clínica. “Esse mecanismo ainda é incerto, não temos como provar como a estimulação agiu, mas ele corrobora um conceito que já sabemos, o da plasticidade do cérebro. Antes, cada função era determinada para uma área cerebral específica, mas isso mudou. Caso um estímulo possa ser usado, ele pode gerar funções que não eram originais dessa área neural”, diz o especialista.
Conexões profundas
A memória de curto prazo é transformada em de longo prazo no hipocampo, uma região mais profunda do cérebro. Essa área neural ajuda a solidificar as lembranças com o auxílio de conexões realizadas por células cerebrais e também grava as memórias de diferentes regiões sensoriais do cérebro, como sons e cheiros.
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No experimento novo, para entender a fundo esse mecanismo, voluntários foram expostos a estímulos de memória curta: viram imagens de um rosto e de uma palavra enquanto eram analisados por meio de um software que mapeava a atividade cerebral deles. Após a exibição das imagens, os participantes foram distraídos, o que fez com que a atividade cerebral ligada à memória curta desaparecesse. Mas, ao ser perguntados sobre o que viram, os participantes conseguiam se lembrar das figuras mesmo sem a ativação no cérebro ter sido registrada pelo equipamento.
Com base nesse achado, os cientistas acreditam que outros mecanismos possam estar ligados à retenção de eventos cotidianos.
“O fato de que a memória de trabalho pode ser recuperada em um momento de aviso prévio, quando se pede para lembrar de algo, mesmo sem detectar a atividade dos neurônios, sugere que, talvez, ela esteja sendo realizada de uma maneira diferente. Talvez, seja mantida da mesma maneira que as memórias de longo prazo são armazenadas”, avalia Postle.
Segundo o neurocirurgião brasileiro Mauro Suzuki, a pesquisa muda conceitos antigos sobre a memória de trabalho. Anteriormente, ela era atribuída apenas ao córtex pré-frontal, área do cérebro que, quando sofre atrofia, como danos causados pelo acidente vascular cerebral (AVC) ou pelo Alzheimer, diminui consideravelmente a memória de curto prazo. “Por isso que são recomendadas as atividades que estimulam essa região, como fazer exercícios, e aquelas que aumentam a repetição, os cálculos, por exemplo. Servem como uma espécie de treinamento para o cérebro”, esclarece.
Neurônios ativados Em uma segunda etapa, os cientistas norte-americanos resolveram testar o uso de estimulação magnética nos voluntários. O pulso aumentou a atividade dos neurônios quando os participantes foram instigados a buscar as lembranças cotidianas. Os cientistas ainda não sabem explicar a razão desse efeito positivo, mas levantam uma hipótese.
“A estimulação magnética produz um pulso que ativa os neurônios de forma não específica. Se o fluxo dessa corrente for guiado pelo padrão de forças de conexão que estamos discutindo (ligadas à memória curta), pode ser que a estimulação esteja, de maneira grosseira, produzindo o mesmo efeito no cérebro de que quando você, voluntariamente, começar a puxar pela memória a lembrança de que precisa”, compara Bradley Postle.
Apesar da necessidade de mais estudos para comprovar a ação da estimulação magnética e os mecanismos que estão envolvidos na memória curta, a equipe acredita que os resultados alcançados podem impulsionar novos campos na pesquisa médica relacionada a distúrbios neurológicos.
“Alguns problemas psiquiátricos são distúrbios do pensamento: a depressão está associada à ruminação de pensamentos negativos, a esquizofrenia pode ser acompanhada por alucinações, o que equivale à ativação de lembranças de formas anormais. Assim, pode-se imaginar que o trabalho pode contribuir para tratamentos que permitam aos pacientes exercerem mais controle sobre os seus pensamentos”, detalha Postle.
Suzuki também ressalta que mais estudos são necessários para que as descobertas possam contribuir para a área clínica. “Esse mecanismo ainda é incerto, não temos como provar como a estimulação agiu, mas ele corrobora um conceito que já sabemos, o da plasticidade do cérebro. Antes, cada função era determinada para uma área cerebral específica, mas isso mudou. Caso um estímulo possa ser usado, ele pode gerar funções que não eram originais dessa área neural”, diz o especialista.
Conexões profundas
A memória de curto prazo é transformada em de longo prazo no hipocampo, uma região mais profunda do cérebro. Essa área neural ajuda a solidificar as lembranças com o auxílio de conexões realizadas por células cerebrais e também grava as memórias de diferentes regiões sensoriais do cérebro, como sons e cheiros.