A primeira autora do artigo, Alice Ricardo-Silva, pesquisadora do Laboratório Interdisciplinar de Vigilância Entomológica em Díptera e Hemíptera do Instituto Oswaldo Cruz, explica que, no Brasil, essa espécie só é encontrada em Roraima e, até hoje, nenhum exemplar do inseto estava infectado pelo Trypanosoma cruzi, o parasita que causa a doença de Chagas. Os insetos alojados no imóvel de Boa Vista estão sendo analisados para verificar a infecção. Além de Roraima, o Triatoma maculata foi detectado na Colômbia, na Guiana, no Suriname e na Venezuela — nesse último país, é o segundo mais importante vetor de Chagas, depois do Rhodnius prolixus.
A pesquisadora, que investiga a presença do barbeiro em três municípios de Boa Vista para sua tese de doutorado, conta que esta é a primeira vez que se documenta o aparecimento do inseto em uma área urbana do estado. “Eu fui convidada a dar uma aula prática em um curso de capacitação.
Pombos
Segundo Alice Ricardo-Silva, provavelmente a presença do barbeiro no local está associada a um ninho de pombos, construído no nicho. “O Triatoma maculata parece ser ornitofílico; ele se alimenta de aves, e o pombo é uma ave urbana”, diz. Em áreas rurais, ele também é detectado em galinheiros e currais. A pesquisadora diz que o resultado do trabalho serve de alerta de que é preciso manter a vigilância sobre o vetor também nas áreas urbanas, focando no controle de pombos, que, atualmente, não são alvo das políticas de manejo. “Quanto mais próximo dos centros urbanos, mais próximo o inseto fica das pessoas”, lembra.
A professora Teresa Cristina Monte Gonçalves, pesquisadora do Laboratório Interdisciplinar de Vigilância Entomológica em Díptera e Hemíptera do Instituto Oswaldo Cruz e orientadora da tese de Alice Ricardo-Silva, destaca também a importância de se educar a população para o combate ao vetor. “Esse foi um achado importante. O fato de o Triatoma maculata ter sido encontrado em diferentes estágios de desenvolvimento (havia desde ovos a adultos) mostra que ele está bem estabelecido e tem condições de viver nesse local”, afirma. “A população deve estar atenta à presença do inseto e notificar a Secretaria de Saúde sempre. É muito importante a participação da comunidade.
"O fato de o Triatoma maculata ter sido encontrado em diferentes estágios de desenvolvimento (havia desde ovos a adultos) mostra que ele está bem estabelecido e tem condições de viver nesse local” - Teresa Cristina Monte Gonçalves, pesquisadora do Laboratório Interdisciplinar de Vigilância Entomológica em Díptera e Hemíptera do Instituto Oswaldo Cruz
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