O termo foi criado em 2004 pelo psiquiatra Steven Bratman. “Era um terapeuta e militante da alimentação saudável. Ele e outras pessoas do seu círculo começaram a ter os sintomas. A partir disso, criou o termo”, explica Miguel Ângelo Montagner, professor do programa de pós-graduação em saúde coletiva da UnB. Ainda pouco conhecido, o distúrbio se caracteriza pela obsessão de consumir apenas alimentos “benéficos” para o organismo.
“Essa preocupação com a qualidade da comida limita a variedade. Alguns grupos alimentares são excluídos, o que leva a carências nutricionais. A pessoa cria sua própria regra alimentar”, ensina a nutróloga Helena Mahon. “Uns não ingerem proteínas; outros não ingerem verduras cozidas, gorduras ou produtos industrializados. Existem ainda os que se preocupam com a forma de preparo, com que tipo de panela será o cozimento”, descreve a especialista.
A ortorexia ainda não consta no DSM-5 (o manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais) e, por isso, os profissionais da área de saúde mental ainda são cautelosos em suas avaliações. “Fato é que há pessoas que apresentam esse padrão comportamental e sofrem com isso. A partir do momento em que gera sofrimento para si ou para terceiros, é um problema. Nesses casos, deve-se buscar ajuda profissional”, aconselha o psicólogo André Lepesqueur. Outro aspecto que dificulta o diagnóstico é a conivência da família com as obsessões do paciente.
“É uma doença disfarçada de virtude, já que a pessoa tem certeza de que está fazendo algo positivo”, lembra a nutróloga Helena Mahon. A vida social, porém, fica prejudicada. “Em nossa cultura, eventos sociais quase sempre envolvem comida e bebida. Não poder comer ou beber nesses ambientes gera uma natural perda de interesse pelo evento”, ressalta André Lepesqueur.
O tratamento passa pela identificação das causas “ocultas” do distúrbio. “Frequentemente, a ortorexia tem como função a fuga ou esquiva de um problema, como a insatisfação com relacionamentos afetivos, dificuldades no trabalho ou na escola e até mesmo questões existenciais”, explica André Lepesqueur. Desfazer as convicções do paciente demanda tempo e paciência. Nesse processo, o acompanhamento de amigos e familiares têm grande importância.
Principais sinais
Trata-se de um distúrbio difícil de ser diagnosticado, mas alguns sinais comuns entre os pacientes são:
- Militância: o assunto principal do indivíduo é a alimentação saudável. Tenta convencer os outros de que está certo.
- Isolamento: a pessoa se afasta na hora de comer e prefere se alimentar em casa. Evita sair para eventos que tenham comida e também comer em restaurantes, pois não sabe a procedência do prato.
- Mercado: o ortoréxico passa muito tempo comprando os alimentos, verificando todos os ingredientes. Ele também não se importa em ter gastos excessivos para conseguir alimentos saudáveis.
- Preparação: o tempo gasto com o planejamento das refeições é exagerado. O ortoréxico prepara os alimentos com dias de antecedência e leva a própria comida para todos lugares, pois não consegue imaginar a ideia de sair da dieta.