As doenças mentais têm relação com o ambiente em que a pessoa vive e eventos que ocorrem anos antes da manifestação do problema, apontam dois estudos dinamarqueses apresentados ontem no encontro da Associação Internacional de Psicose Precoce (Iepa, na sigla em inglês), que ocorre até amanhã em Milão, Itália. Enquanto um dos trabalhos focou a influência dos pais e da família sobre o bem-estar de crianças, o outro analisou os efeitos de longo prazo do uso de álcool e drogas.
Na primeira das pesquisas, especialistas da Faculdade de Saúde e Ciências Médicas da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, recolheram evidências de que crianças cujo um dos pais é diagnosticado com esquizofrenia ou transtorno bipolar são mais suscetíveis a sofrer com problemas mentais por volta dos 7 anos.
Liderado por Anne Thorup e Merete Nordentoft, o trabalho coletou dados de 522 crianças que tinham essa idade no início da análise. Desse grupo, 202 tinham um dos pais com esquizofrenia, e 120, um dos genitores com bipolaridade. As 200 restantes nasceram de pai e mãe considerados saudáveis.
Para avaliar as crianças, os pesquisadores utilizaram uma ferramenta chamada Child Behaviour Checklist (Inventário de Comportamento Infantil, em tradução livre), composta por mais de 100 perguntas que são respondidas pelos pais e professores dos pequenos.
Dessa forma, é possível identificar problemas comportamentais ou sinais que podem indicar algum transtorno. Quanto maior o resultado do teste, mais desses prolemas são observados. O escore médio das crianças avaliadas no estudo foi de 27,2 no primeiro grupo (um dos pais esquizofrênico), 23,5 no segundo (um dos pais bipolar) e, por fim, 17,1 no terceiro (pai e mãe sem esses diagnósticos).
Os meninos e meninas dos dois primeiros grupos se mostraram mais suscetíveis a problemas como ansiedade, transtorno do deficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e estresse. Eles também se mostraram mais sujeitos a apresentar problemas ou atrasos neurocognitivos, além de, geralmente, estarem em famílias com status social mais baixo, tornando-se, assim, mais vulneráveis a eventos adversos.
“Nós planejamos acompanhar as crianças até os 11 anos para conduzir uma nova avaliação antes da puberdade”, informa Thorup em um comunicado. “Nós não sabemos se as crianças que apresentam problemas vão melhorar no aspecto neurocognitivo ou se seus transtornos mentais vão ter remissão. Mas, como aspectos sociais e fatores ambientais contribuem significativamente para o desenvolvimento infantil — e elas já foram muito marcadas até os 7 anos — esperamos resultados semelhantes ou até mesmo piores aos 11 anos”, completa.
O professor dinamarquês, porém, diz que a universidade está, ao mesmo tempo, implementando um programa de intervenção precoce baseado no apoio à família e às crianças, do qual participam profissionais de diferentes áreas de forma integrada. “Nossa intenção é prevenir ou atrasar o desenvolvimento de doenças mentais severas em indivíduos com pais com esquizofrenia ou transtorno bipolar”, explica.
Excesso perigoso
Em outra investigação mostrada no encontro internacional, Stine Mai Nielsen e Merete Nordentoft, também da Universidade de Copenhague, mostrou-se que o álcool, a maconha e outras drogas ilícitas podem elevar o risco de desenvolver esquizofrenia mais tarde na vida.
Estudos prévios investigaram possíveis ligações entre o abuso dessas substâncias e esquizofrenia, mas o tema segue em debate. Na nova pesquisa, os cientistas se debruçaram sobre uma ampla base de registros de saúde da Dinamarca, contendo dados de 3,1 milhões de pessoas. Foram identificados 204.505 casos de uso exagerado de álcool e drogas e 21.305 diagnósticos dessa forma de psicose.
Técnicas estatísticas foram aplicadas com a preocupação de se eliminar possíveis interferências de fatores como gênero, uso combinado de substâncias, existência prévia de outros transtornos mentais e status socioeconômico da família, entre outros. A metodologia levou à conclusão de que o abuso da maconha é o mais perigoso, aumentando em 5,2 vezes os riscos de a pessoa apresentar sintomas da doença. Porém, outros produtos também aumentam a probabilidade: álcool, 3,4 vezes; drogas alucinógenas, 1,9; sedativos, 1,7; e anfetaminas, 1,24.
Embora ressaltem que o estudo mostra apenas uma relação estatística, ou seja, não prova que é de fato o abuso da maconha ou de outra droga que levou à manifestação do problema, Nielsen e Nordentoft acreditam que os indícios são bastante relevantes. “O risco aumentado se mostrou significante mesmo 10 a 15 anos depois de o abuso da substância ser identificado. Nossos resultados trazem associações robustas entre o uso exagerado de qualquer substância e uma probabilidade maior de desenvolver esquizofrenia mais tarde”, escreveram os autores em um comunicado.
Em crianças
Os dados também apontam um risco aumentado de uma criança desenvolver esquizofrenia quando o pai ou a mãe abusam do consumo de maconha e álcool. A probabilidade cresce 6 vezes quando a mãe usa maconha de maneira excessiva e 5,5 quando o uso é paterno. Quanto ao álcool, esses números foram de 5,6 se a mãe abusa da substância antes do nascimento e 4,4 se o consumo exagerado é do pai.
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Liderado por Anne Thorup e Merete Nordentoft, o trabalho coletou dados de 522 crianças que tinham essa idade no início da análise. Desse grupo, 202 tinham um dos pais com esquizofrenia, e 120, um dos genitores com bipolaridade. As 200 restantes nasceram de pai e mãe considerados saudáveis.
Para avaliar as crianças, os pesquisadores utilizaram uma ferramenta chamada Child Behaviour Checklist (Inventário de Comportamento Infantil, em tradução livre), composta por mais de 100 perguntas que são respondidas pelos pais e professores dos pequenos.
Dessa forma, é possível identificar problemas comportamentais ou sinais que podem indicar algum transtorno. Quanto maior o resultado do teste, mais desses prolemas são observados. O escore médio das crianças avaliadas no estudo foi de 27,2 no primeiro grupo (um dos pais esquizofrênico), 23,5 no segundo (um dos pais bipolar) e, por fim, 17,1 no terceiro (pai e mãe sem esses diagnósticos).
Os meninos e meninas dos dois primeiros grupos se mostraram mais suscetíveis a problemas como ansiedade, transtorno do deficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e estresse. Eles também se mostraram mais sujeitos a apresentar problemas ou atrasos neurocognitivos, além de, geralmente, estarem em famílias com status social mais baixo, tornando-se, assim, mais vulneráveis a eventos adversos.
“Nós planejamos acompanhar as crianças até os 11 anos para conduzir uma nova avaliação antes da puberdade”, informa Thorup em um comunicado. “Nós não sabemos se as crianças que apresentam problemas vão melhorar no aspecto neurocognitivo ou se seus transtornos mentais vão ter remissão. Mas, como aspectos sociais e fatores ambientais contribuem significativamente para o desenvolvimento infantil — e elas já foram muito marcadas até os 7 anos — esperamos resultados semelhantes ou até mesmo piores aos 11 anos”, completa.
O professor dinamarquês, porém, diz que a universidade está, ao mesmo tempo, implementando um programa de intervenção precoce baseado no apoio à família e às crianças, do qual participam profissionais de diferentes áreas de forma integrada. “Nossa intenção é prevenir ou atrasar o desenvolvimento de doenças mentais severas em indivíduos com pais com esquizofrenia ou transtorno bipolar”, explica.
Excesso perigoso
Em outra investigação mostrada no encontro internacional, Stine Mai Nielsen e Merete Nordentoft, também da Universidade de Copenhague, mostrou-se que o álcool, a maconha e outras drogas ilícitas podem elevar o risco de desenvolver esquizofrenia mais tarde na vida.
Estudos prévios investigaram possíveis ligações entre o abuso dessas substâncias e esquizofrenia, mas o tema segue em debate. Na nova pesquisa, os cientistas se debruçaram sobre uma ampla base de registros de saúde da Dinamarca, contendo dados de 3,1 milhões de pessoas. Foram identificados 204.505 casos de uso exagerado de álcool e drogas e 21.305 diagnósticos dessa forma de psicose.
Técnicas estatísticas foram aplicadas com a preocupação de se eliminar possíveis interferências de fatores como gênero, uso combinado de substâncias, existência prévia de outros transtornos mentais e status socioeconômico da família, entre outros. A metodologia levou à conclusão de que o abuso da maconha é o mais perigoso, aumentando em 5,2 vezes os riscos de a pessoa apresentar sintomas da doença. Porém, outros produtos também aumentam a probabilidade: álcool, 3,4 vezes; drogas alucinógenas, 1,9; sedativos, 1,7; e anfetaminas, 1,24.
Embora ressaltem que o estudo mostra apenas uma relação estatística, ou seja, não prova que é de fato o abuso da maconha ou de outra droga que levou à manifestação do problema, Nielsen e Nordentoft acreditam que os indícios são bastante relevantes. “O risco aumentado se mostrou significante mesmo 10 a 15 anos depois de o abuso da substância ser identificado. Nossos resultados trazem associações robustas entre o uso exagerado de qualquer substância e uma probabilidade maior de desenvolver esquizofrenia mais tarde”, escreveram os autores em um comunicado.
Em crianças
Os dados também apontam um risco aumentado de uma criança desenvolver esquizofrenia quando o pai ou a mãe abusam do consumo de maconha e álcool. A probabilidade cresce 6 vezes quando a mãe usa maconha de maneira excessiva e 5,5 quando o uso é paterno. Quanto ao álcool, esses números foram de 5,6 se a mãe abusa da substância antes do nascimento e 4,4 se o consumo exagerado é do pai.