Criar filhos e filhas não tem receita: aprender pela experiência é direito de toda mãe e de todo pai

A idealização do amor materno e da maternidade como experiência plena deixa as mulheres inseguras. O erro faz parte de toda relação humana e não deve se transformar em culpa, sob o risco de a mulher não confiar na sua maternagem

por Valéria Mendes 07/11/2016 09:50
Aprender pela experiência é direito de toda mãe. E de todo pai. Cuidar não tem gênero. E esse é um dos desafios políticos, culturais e sociais que precisa ser constantemente enfrentado – até que seja vencido - para que as mulheres não se sintam solitárias e inseguras no exercício da maternidade. E confiem em si mesmas. Toda mulher e todo homem já foram crianças, já foram cuidados e são capazes de entender, pela sensibilidade e pelo vínculo, as necessidades do bebê. “A fragilidade, o não saber a priori, lidar com os erros e acertos. O direito do aprendizado pela experiência configura a chance de uma relação humana e sensível, baseada no reconhecimento da diferença, de que vale a pena tentar de novo, da atenção nas necessidades daquele bebê, sem comparações”, observa a psicóloga Patrícia Ferreira da Costa, mestre em psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), psicanalista, professora do Instituto Brasileiro de Psicanálise Winnicottiana (IBPW) e diretora do Centro Winnicott de Belo Horizonte.

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A idealização da maternidade romantiza a exploração do trabalho doméstico e o cuidado com as crianças, gera insegurança, culpa e julgamento social. A maternagem perfeita é uma ilusão. Criar filhos e filhas é uma tarefa difícil que exige dedicação, investimento de tempo e disponibilidade afetiva. O encontro de uma mãe com seu bebê é particular e único. Não existe receita.

Se engana quem espera que os livros terão todas as respostas, que a ciência dará conta de embasar todas as decisões, que erros não serão cometidos. “A maternidade é uma construção que se dá pela experiência. O quê um bebê precisa é de alguém suficientemente interessado em entender o quê ele necessita. Os erros inevitavelmente ocorrerão e eles não são o problema. Ao contrário. É exatamente na tentativa constante de remendar os possíveis desencontros com o bebê que a mãe comunica que o ama”, afirma a psicóloga.

Acolher que somos humanos e que nessa humanidade está nossa riqueza é importante para aceitar que não existe um modo único de cuidado e que o saber instrumentalizado pode, inclusive, interferir negativamente por não dar conta das particularidades. Cada bebê tem seu ritmo. Cada bebê tem seu tempo. Impor rotinas ‘ensinadas’ em livros é adestrar. “O bebê, por si só, tem o potencial para crescer. Mas para que essa criança venha ao mundo de forma criativa e não, submissa, o desafio de cada mãe, de cada pai é descobrir o ritmo e o tempo da sua criança. Gradualmente, esse bebê vai entrar no ritmo da família”, salienta Patrícia Ferreira.

Nesta reportagem, o Saúde Plena fala sobre o desenvolvimento espontâneo da relação – única e pessoal – de mães e pais com seus filhos e filhas. E reflete sobre a importância de se romper com idealizações em torno da maternidade, principalmente. Ser mãe, ser pai, ser cuidador ou cuidadora é uma experiência que nos enriquece enquanto seres humanos, que gera alegria e prazer, mas também frustrações e dúvidas. Sentir medo faz parte. Chorar também. É um trabalho constante, mas com potencial para mudar o mundo para melhor.

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Cada mãe uma história
Livros com o objetivo de ensinar mulheres a cuidarem de seus filhos têm se transformado em manuais para a educação de crianças. Entenda a importância de confiar em si mesma e como essa atitude é importante para criar meninos e meninas criativos

Bruna Tassis / Arquivo Pessoal
Bebel Soares com o filho Felipe e o marido Alexandre. Ela recorreu a alguns livros na gravidez e diz que hoje teria algumas atitudes diferentes (foto: Bruna Tassis / Arquivo Pessoal )
Fundadora da Rede de Empoderamento Feminino Pós-Maternidade ‘Padecendo no Paraíso’, a arquiteta Bebel Soares, 41 anos, é mãe de Felipe, 7. Ela e o marido, Alexandre, planejaram a gestação, engravidaram rápido e já sabiam que teriam um único filho. Ela se diz uma mãe instintiva e que valoriza a experiência de gerações anteriores. “Eu sempre soube que queria um parto normal, não concebia uma cesariana sem necessidade. Minha avó tinha 1,45m e teve cinco partos normais”, diz.

Foi pela via vaginal que Felipe veio ao mundo, mas o universo do excesso de intervenções na assistência obstétrica no Brasil não era um tema que Bebel conhecia, mas que sentiu na pele. “O Felipe nasceu e já saiu de perto de mim. Levaram ele para o berçário e isso me incomodou. Nos separaram. Naquela época era padrão o bebê passar a noite no berçário [as maternidades brasileiras mudaram esse protocolo]. Mas não deixei. Queria meu filho comigo e exigi que assim fosse feito”, recorda-se.

Alguns livros ajudaram a arquiteta na gestação, pós-parto e início da trajetória como mãe. Ela comprou ‘O que esperar quando você está esperando’ e o considera um bom livro por ser no formato perguntas e respostas e conseguir esclarecer dúvidas-padrão de forma simples e objetiva. Bebel também foi presenteada com ‘Bebê, manual do proprietário’, de Joe Borgenicht e Louis Borgenicht, título que traz questões básicas “como posição do bebê para arrotar”. Segundo ela, foi mais útil para Alexandre.

A amamentação transcorreu com tranquilidade, Bebel Soares já sabia que não teria babá e que o filho iria para o berçário aos quatro meses. Nesse início de construção de vínculo mãe e filho, o que a arquiteta gostaria de ter feito diferente era de ter levado Felipe para sua cama quando ele acordava de madrugada. “Eu tinha essa coisa de que o Felipe tinha que dormir no berço dele. E eu passava as madrugadas em claro. A pediatra me indicou o método do livro ‘Nana nenê’ (Robert Bucknam e Gary Ezzo) e na época achei que seria uma boa solução. Não penso mais assim. Mudei completamente a cabeça e hoje o Felipe pode ir para minha cama quando acorda ou sente medo de madrugada”, relata.

O método do ‘Nana nenê’ é polêmico e, bem resumidamente, consiste em treinar o bebê para que ele pegue sozinho no sono. Na prática, para a criança ‘aprender’ a dormir sozinha o choro é inevitável e a técnica recomenda que pai ou mãe deva entrar no quarto a intervalos regulares para dizer ao bebê que estão por ali. Mas saem novamente, sem pegar o filho no colo. Esse intervalo é aumentado ao longo dos dias até que, na teoria, o bebê não chore mais e consiga dormir sozinho.

A psicanalista, psicopedagoga e neurocientista Cristina Silveira afirma que livros com embasamento teórico, psicológico e pedagógico fundamentados podem oferecer uma base de conhecimento sobre o desenvolvimento infantil e até minimizar a insegurança de mães e pais de primeira viagem. “Mas um livro nunca deve ser visto como um manual para criação de filhos”, reforça. Para ela, mesmo o núcleo familiar estando inserido na sociedade - com suas regras e normas de convivência e seus modelos culturais -, a criação de meninos e meninas se dá no meio familiar, que é individual e único.

A psicóloga e psicanalista Patrícia Ferreira da Costa considera de extrema importância a reflexão sobre até onde o conhecimento instrumentalizado e o saber científico podem auxiliar ou perturbar as famílias no cuidado com os bebês. “São processos muito sutis que se desenvolvem na relação única que está sendo estabelecida entre a mãe e o bebê (ou o pai e o bebê)”, pondera.

Segundo a especialista, estudo conduzido ao longo de 50 anos pelo psicanalista e pediatra inglês Donald Woods Winnicott com 60 mil crianças (e suas famílias) oferece uma perspectiva interessante sobre o tema. “O conhecimento de uma mãe (cuidador ou cuidadora) não é apenas mental e não tem como ser ensinado já que não passa sequer pelo plano representacional. Não é possível ensinar uma pessoa a cuidar de seu bebê, isso só pode se desenvolver numa experiência única e singular que vai sendo construída com cada criança que nasce”, observa.

Patrícia Ferreira da Costa explica que uma mãe desenvolve um conhecimento complexo da profunda sintonia que estabelece no contato íntimo com seu bebê. “Esse conhecimento é constituído de forma espontânea, baseado nas experiências dessa pessoa, e não inerente ao aprendizado livresco. O cuidar não demanda intelectualidade, mas disponibilidade, atenção às necessidades do bebê, entrega e tempo”, reforça.

Segundo ela, no início de seu desenvolvimento, o bebê não precisa de um educador, mas de condições para começar a existir a seu modo. “Essas condições são fornecidas por alguém que esteja profundamente identificado com as necessidades mais básicas dessa criança, que precisa alcançar sua própria espontaneidade e ritmo, para posteriormente alcançar os ritmos das relações com os adultos e se afinar com elas”, salienta.

 Rafael Hoffmann / Arquivo Pessoal
Patrícia Ferreira da Costa diz que o desafio de cada mãe e de cada pai é descobrir o ritmo e o tempo de seus bebês (foto: Rafael Hoffmann / Arquivo Pessoal)
A professora do Instituto Brasileiro de Psicanálise, Patrícia Ferreira Costa, concorda que o saber científico pode ajudar a iluminar o que acontece em cada estágio do crescimento de uma criança, mas jamais substituir aquilo que o adulto-cuidador precisará oferecer. “Na verdade, o excesso de informações pode afetar a espontaneidade da relação. Uma mãe temerosa de errar pode se submeter às normas de livros de pediatria ou best sellers que vão prejudicar a confiança que brota da relação mãe e filho”, diz.

A psicóloga ressalta ainda que há uma lógica perturbadora por detrás das propostas de ‘adestramento’ de bebês como a concepção de que eles não crescem por si mesmos e precisam ser moldados pela educação. “Isso sem levar em conta o perigo de que todos os bebês sejam considerados iguais e moldáveis a um padrão serial. Na realidade, os bebês trazem uma tendência à integração, mas dependem essencialmente de um ambiente facilitador que torne possível esse acontecimento”, afirma.

Livros que existem para ‘ensinar mulheres a serem boas mães’ devem ser vistos com cautela já que partem da concepção de que há uma forma única – e em geral idealizada – de cuidado. “Se a mulher não alcança esse ideal, ela pode se sentir frustrada por não conseguir ser uma boa mãe. Esses níveis de perfeição são impossíveis de serem alcançados. Na criação de filhos é preciso acolher as imperfeições como elementos que tornam a relação viva, real e pertinente à condição de ser”, salienta Patrícia Ferreira da Costa.

A maternidade é uma tarefa exaustiva que suscita sentimentos dos mais diversos, incluindo raiva, medo e dúvidas. “A ideia de que ser mãe é apenas sentir coisas boas em relação aos filhos e às filhas é violenta”, observa a psicóloga.

Euler Junior/EM/D.A Press
Mariana Bicalho aproveitou a experiência com Lucas, 5 anos, e vive uma matenagem mais leve com Laura, 7 meses (foto: Euler Junior/EM/D.A Press)

Mãe feliz, criança feliz
Informação, intuição e troca de experiências com outras mulheres é o que baliza as decisões tomadas pela empresária e advogada Mariana Bicalho, 37 anos, mãe de Lucas, 5, e de Laura, um bebê de 7 meses que mama em livre demanda. Idealizadora do projeto Mommys e diretora de uma revista que leva o mesmo nome, ela media um grupo no Facebbok que reúne 3 mil mães e vivencia a diversidade de opiniões e formas de conduzir a educação das crianças. Esse grupo virtual é, segundo ela, um caldeirão de dúvida, angústia, medo, insegurança, mas também de troca de experiências e um exercício de se colocar no lugar da outra e respeitar cada história.

Mariana diz que, graças à experiência com Lucas, a chegada de Laura tem permitido que ela viva uma maternidade mais leve. “Quando criei o grupo ainda estava grávida do Lucas. Eu queria conversar com outras mulheres que estavam na mesma fase da vida. Eu tinha um monte de perguntas, comprei um monte de livros, acompanhava sites e me cadastrei para receber boletins semanais sobre as fases da gestação e os marcos de desenvolvimento do bebê”, relata.

Quando o mais velho nasceu, o livro de cabeceira da empresária foi o best-seller ‘A Encantadora de Bebês’, escrito por Tracy Hogg e Melinda Blau. A obra é mundialmente conhecida por uma metodologia simples que é estruturada na imposição de rotinas ao bebê que, segundo as autoras, interferem positivamente no dia-a-dia e na relação mãe e filho. Intitulado E.a.s.y, a rotina inclui comer, brincar, dormir e o tempo da mulher. Em inglês, eating, activity, sleeping e yourself. Assim, desde cedo, o bebê aprenderia que existe hora para tudo. “Na criação do Lucas eu procurei seguir muito essas rotinas. O livro foi muito importante porque me deu uma direção. Com a Laura, foi um pouco diferente, eu já me sentia mais segura porque descobri, na primeira experiência, que eu dava conta, sim”, afirma.

Mariana Bicalho exemplifica essa mudança de rumo justamente no tema ‘eating’, de ‘A Encantadora’. “Eu seguia muito bem o modelo proposto e o Lucas tinha hora para mamar, com intervalo de três em três horas. Já a Laura, mama quando quer”, cita.

Outro aprendizado que Lucas trouxe e que a mãe considera o mais impactante na relação que hoje ela estabelece com as crianças é o fato de a mulher também ter direito aos seus momentos e à sua individualidade. “Antes eu achava que a presença física era o mais importante e fiz de tudo para trabalhar em casa e ficar com o Lucas em tempo integral. Quando ele fez 2 anos, consegui. Ficávamos juntos 24 horas por dia, mas aí a ficha caiu e vi que ele precisava mais do que a minha presença física, ela precisava de momentos comigo em que eu estivesse inteiramente disponível para ele”, pondera.

Desde então, Mariana não voltou a trabalhar fora de casa. Ela largou definitivamente o Direito e montou um negócio de festas infantis. “Hoje, trabalho em casa e tenho uma pessoa para me ajudar com a Laura. Vi que me sentir realizada faz bem para os meus filhos que têm o meu melhor quando estou com eles”, garante.

REFLEXÃO
Para a psicóloga e psicanalista Patrícia Ferreira da Costa, as mães, pais e cuidadores precisam confiar no seu papel de estabelecer os pilares para o desenvolvimento saudável de seus filhos e suas filhas. “As mulheres geralmente se cansam de um longo dia dedicado ao cuidado com as crianças, mas se alegram enormemente de perceberem que têm feito um bom trabalho quando aquele menino ou aquela menina se torna cada dia mais ele mesmo, enriquecido na personalidade que está se formando e se fortalecendo no contato íntimo, respeitoso, seguro, afetivo e pessoal que recebe da mãe”, diz.

Amor não estraga
A ideia de que colo demais gera adultos mimados é equivocada. Educar com afeto e empatia é o caminho mais curto para um mundo melhor

Psiquiatra, psicanalista e professora do curso de pós-graduação em psiquiatria da Faculdade IPEMED Ciências Médicas, Gilda Paoliello lembra que apesar de a medicina considerar a maternidade o desígnio biológico da mulher, a psicanálise ensina que não se nasce conhecendo o amor materno. “Não é algo transmitido pelo código genético, mas pela experiência individual de cada um. Não basta ter um filho para tornar-se mãe (ou pai)”, observa. 

Marcílio Nicolau/Divulgação
Gilda Paoliello diz que o amor materno não é algo transmitido pelo código genético, mas pela experiência de cada pessoa (foto: Marcílio Nicolau/Divulgação)
Por isso, segundo ela, é importante diferenciar maternidade e maternagem. “Enquanto a primeira é o processo biológico de tornar-se mãe, portanto, uma condição física e, nem sempre, uma opção, a maternagem é sempre uma escolha, nem sempre tem como suporte a condição biológica e nem, tampouco, o gênero. Está amparada no afeto e no desejo de cuidar”, explica.

Apesar de equivocada, ainda persiste na sociedade a ideia de que os bebês ficam manhosos ou mimados se receberem atenção. Segundo a psicóloga Patrícia Ferreira da Costa, essa concepção foi muito divulgada na década de 70 quando as mães eram instruídas na maternidade a deixarem seus bebês sozinhos nos quartos à noite para não serem mal-acostumados com colo e aprenderem a dormir sem incomodar.

A especialista explica que fatores culturais pesam na compreensão das normas estabelecidas em cada época. “As normas sociais podem mudar, mas as necessidades dos bebês não mudam, independentemente do espaço ou do tempo. Os bebês precisam ter assegurada uma adaptação a princípio, absoluta, às suas necessidades. Gradualmente essa adaptação se torna relativa”, pondera.

E é a partir da relação corporal e de uma comunicação sutil – toque, cheiro, afagos, olhar, tom de voz – que as mães vão desenvolver a identificação com a vulnerabilidade de seu bebê e construir o vínculo com sua criança. “Colo é oferecer segurança”, reforça a especialista.

Patrícia Ferreira da Costa acredita que cabe aos especialistas em infância – principalmente aos pediatras - facilitar que as mães descubram o seu próprio poder de serem as pessoas mais adequadas a escolherem o que é melhor para o seu bebê, com apoio do companheiro ou companheira, dos familiares e da sociedade. “Está na pediatria a tarefa de prevenção de distúrbios psíquicos graves, por ser a disciplina que está mais em contato com as mães”, observa. Na rotina dos consultórios cheios, UPAs lotadas e consultas expressas, esta é uma realidade distante na relação entre famílias e pediatras.

Cuidar é, segundo a psicóloga, fornecer elementos que incrementam o sentimento de segurança e de confiança da criança. “Elas compreendem desde o início que são amadas e que os pais estão ali, dispostos a sustentarem a situação, cuidando, colocando limites, apoiando. Bebês têm urgência de colo, afeto e toque, condições essenciais para o desenvolvimento”, diz.

Segundo a especialista, um bebê que é deixado a sós, sem nenhum contato humano familiar, torna-se susceptível a terríveis angústias. “O que um ambiente suficientemente bom oferece é a confiabilidade e a previsibilidade através da continuidade dos cuidados. Se houver falhas nessa continuidade, o desenvolvimento emocional do bebê pode não ocorrer ou ocorrer de forma distorcida. Por isso, a característica essencial do ambiente é que ele seja oferecido por pessoas que se adaptem de forma específica às necessidades de cada criança, de forma estável e espontânea, flexível e humana, não livresca ou intelectualizada”, defende Patrícia Ferreira Costa.

'A culpa é da mãe'
No Brasil, a maioria das mulheres ainda assume o papel de principal responsável - às vezes a única - pelo cuidados dos filhos e da casa. “A culpa da mãe é um círculo vicioso no ambiente machista e misógino de uma sociedade predominantemente patriarcal. A saída para o mercado de trabalho gerou mais peso nessa responsabilidade”, acredita Patrícia Ferreira da Costa. Isso por que, mesmo contribuindo financeiramente, as tarefas domésticas e o cuidar ainda são considerados afazeres de mulher. “É injusto acusar as mulheres se algo dá errado com os filhos. Essa mãe está inserida num contexto muito mais amplo - companheiro, família, escola, sociedade. Todos são responsáveis em prover condições genuínas para o desenvolvimento humano”, sintetiza.

A especialista não ignora a inexorabilidade da condição humana, uma vez que o acaso e elementos imponderáveis podem favorecer ou prejudicar o alcance do envolvimento de uma mãe com seu bebê. “Não se pode esperar que sejam bem-sucedidas o tempo todo. A mãe necessita de uma “cobertura protetora” que envolva o pai, familiares e sociedade. Por isso, o exercício da maternidade não é um dado, é uma construção que pode não se dar ou ser afetada por diversos fatores”, sintetiza.

Cristina Silveira aponta ainda que a mãe, assim como qualquer pessoa, é resultado de diversas conexões emocionais e sociais únicas. “Para cada criança que nasce, nasce uma mãe, que deve ser respeitada em seus valores e individualidade no processo de criação de seus filhos e ainda acolhida por toda a sociedade, para inseri-la da melhor maneira na cultura da comunidade”, pondera.

Educação sem violência
Outro tema que envolve a criação de meninos e meninas que não foi superado é o castigo físico. Mesmo com a Lei Menino Bernardo, que começou a vigorar em junho de 2014, esse é ainda um desafio para grande parte das famílias. “Nem sempre o ideal é possível e acho que não deve existir uma mulher que não tenha ‘pagado língua’. Antes de ser mãe, eu achava que nunca daria uma palmada no meu filho. Mas já dei. Não é o que acredito e tenho plena consciência de que a palmada é um descontrole do adulto e, não, culpa da criança. Sou eu que não consegui me controlar e tenho tentado trabalhar essa questão”, reflete Mariana Bicalho, mãe de Lucas, 5 anos, e Laura, 7 meses.

A naturalização da violência com a criança – seja ela física e emocional – é um tema que precisa ser debatido com seriedade pela sociedade. Infelizmente, a palmada ainda é vista como um instrumento de educação e não como violação do corpo de meninos e meninas. “Sempre fui contra palmada, tenho histórias de amigos que apanharam muito na infância e tiveram muitos problemas na vida adulta. Infelizmente, não posso dizer que nunca bati. Foram raras as vezes, em momentos que perdi a cabeça, e penso muito sobre esse assunto”, afirma Bebel Soares.

Crianças são seres mais frágeis, com pouca experiência e que cometem mais erros. São vulneráveis e precisam ter sua saúde física e emocional protegidas pela família. Publicado em maio deste ano no Journal of Family Psychology, estudo que analisou dados coletados ao longo de 50 anos em 75 pesquisas com uma amostra de 160 mil crianças, mostra, por exemplo, que dificuldade de aprendizado, distração, dificuldade para se relacionar, depressão e tendência ao isolamento podem ser resultados de agressões físicas na infância e adolescência.

Arquivo Pessoal
Luciana Cury e o marido Charles educam a filha dela, Maria Clara, e o filho dele, Felipe, em sintonia com os outros pais biológicos das crianças de forma harmônica (foto: Arquivo Pessoal )


Educação de gênero
Luciana Nunes Silveira Cury, 37 anos, está no segundo casamento e mora com a filha Maria Clara, 5 anos, o enteado Felipe, 11, e o atual marido Charles Cury. O casal tem conseguido conciliar, respectivamente, com o pai e a mãe biológicos das crianças uma maneira única de conduzir a educação dos dois. Para ela, a receita que dá certo é o diálogo, a valorização dos estudos, a liberdade e o respeito ao outro. “Prezamos muito a educação formal porque desejamos que eles possam escolher uma boa profissão e não sejam dependentes no futuro. Meus pais me criaram para correr atrás e estudar. Acho que é assim que deve ser”, afirma a assistente social que, agora, está cursando Direito.

Na casa dela não tem tabu, conversa a porta fechada ou dúvidas que ficam para depois. “Eu e meu marido conversamos sobre tudo com eles, sempre nos atentando em transmitir aos dois a importância de aceitar as diferenças e respeitá-las. Não somos do tipo de sentar para conversar, o ‘assunto sério’ vem quando a pergunta surge”, acredita.

Luciana concorda que, socialmente, o peso da educação dos filhos recai muito sobre as mulheres, mas diz que, no caso dela, o marido é muito presente. “Outro dia uma mulher me chamou na porta da escola me questionando se eu não era ‘mãe o suficiente’ para conversar com a minha filha e dizer que menina não bate. A Maria Clara tinha batido em um coleguinha da turma e fui conversar com ela para entender o que tinha acontecido. Minha filha me contou que o garoto tinha puxado a calcinha dela e quando fui argumentar com a outra mãe ouvi dela que ‘mãe que é mãe explica para a filha que menina tem que ser princesa’”, relata. A assistente social retrucou: “Respondi que ela deveria ensinar ao filho dela a respeitar as pessoas e que mulher tem que ser é forte. Em toda essa discussão, essa mãe me culpava e me julgava e sequer citou a palavra pai”, conta.  

Bebel Soares acredita que seu maior desafio como mãe de menino é não perpetuar a desigualdade de gênero e a cultura machista. Recentemente, ela iniciou uma discussão com outras mães em ambiente virtual – o Padecendo no Paraíso, projeto que ela idealizou, tem um grupo no Facebook – sobre furar ou não as orelhas de meninas. “Foi uma polêmica. O curioso foi o comentário de uma mãe que escreveu que o filho de 10 anos pediu para furar a orelha e ela negou o pedido argumentando que é uma decisão muito séria sobre o corpo dele para ser tomada nessa idade. Por que podemos então decidir sobre os corpos das meninas que acabaram de nascer e isso não é problematizado?”, questiona.

A psicanalista, psicopedagoga e neurocientista Cristina Silveira afirma que tem aumentado a procura por atendimento psicológico das famílias em busca de apoio e orientação para lidar com problemas de comportamentos das crianças e adolescentes. Para ela, a razão é a dificuldade que algumas famílias enfrentam por estarem inseridas em um ambiente consideravelmente distinto do qual foram educadas. “A própria configuração familiar mudou, mudanças não apenas nos padrões de funcionamento entre seus membros [os homens estão sendo cobrados a participar mais], mas também de diferentes arranjos familiares. O conceito de família mudou e isso provoca um processo de assimilação e formulação de novos valores e práticas”, explica.

Segundo ela, essa passagem de um modelo a outro tem exigido das famílias uma adaptação às mudanças de relacionamento, tanto nos papéis da organização e estrutura familiar, quanto nas respostas que estes passaram a dar às demandas do ambiente.

Pai ausente
Abandono paterno é situação comum a muitas crianças, ainda que seja perceptível o crescente envolvimento dos pais no cuidado com os filhos e filhas

Há quem brinque que deveríamos cuidar do primeiro filho como se fosse o segundo. A experiência parece realmente fazer diferença quando mãe e pai estão diante de um recém-nascido e já sabem que aquele bebê, apesar de frágil, dará conta desse mundo. Mas as histórias não se repetem e, no caso da empresária Kátia Heroína Monteiro, 51 anos, a chegada de Andrey, hoje com 10 anos, a deixou mais insegura do que quando pegou Felipe, 19 anos, nos braços pela primeira vez. “Meu mundo caiu completamente. Descobri na sala de parto que Andrey tinha síndrome de Down depois de um pré-natal tranquilo e com todos os resultados de exames dentro do esperado. O pai dele ficou sabendo na maternidade e lá mesmo tomou a decisão dele. Registrou e foi embora”, relata.

Cristina Horta/EM/D.A Press
Kátia Monteiro cria os filhos Felipe, de 19 anos, e Andrey, de 10, sem a ajuda paterna (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)

A maternidade solo não era novidade para Kátia, que se separou do pai do primeiro filho quando o garotinho tinha um ano e meio. Esse pai não participou da criação, educação e cuidado com o filho. O pai de Andrey também não. “Sou forte por natureza. Nunca tive um colo para correr quando precisei. Meu pai nem conheceu os netos. Minha mãe mora longe. Só tenho a ajuda que posso pagar. Quando o Andrey nasceu, a sensação é que eu estava começando do zero. Eu não tinha nenhum parâmetro. Só o amor que era igual”, diz.

A psicóloga e psicanalista Patrícia Ferreira da Costa afirma que muitos homens, ao se separarem das mulheres, abandonam ou fragilizam o cuidado com os filhos. “Essa mentalidade do papel do masculino na relação com os filhos precisa ser urgentemente repensada. A lei tem agido com mais rigor no pagamento da pensão, na exigência da guarda compartilhada, mas ainda temos muito a caminhar na compreensão de que a tarefa de cuidar é de todos os envolvidos na concepção de uma criança. Os homens não são e não deveriam ser meros coadjuvantes no cuidado com seus filhos. Felizes os que se aventuram integralmente nessa tarefa”, diz.

Com dois filhos para criar, Kátia não teve tempo para ler livros sobre crianças atípicas ou participar de grupos de mães com quem pudesse compartilhar as dúvidas. O dia na casa dela começa às 6h e ela só retorna da empresa às 19h. Faz questão de almoçar com os filhos, de acordá-los, de conversar sobre a escola, no caso de Andrey, e sobre o início do curso de graduação em fisioterapia, no caso de Felipe.

Kátia resume sua ‘receita’ de maternidade em algumas palavras: luta e coragem. “Antes de Andrey chegar até o colégio em que está matriculado, passou por oito escolas. Seis eu levei na Justiça. Duas eu registrei boletim de ocorrência por maus tratos e discriminação. Lembro de uma vez – quando cheguei para pegar meu filho – de vê-lo sentado na recepção da escola enquanto a turma inteira dele estava numa excursão. Ele passou a tarde naquele lugar. Já briguei muito, já fiz barraco. Fiz tudo o que achava que tinha que fazer para defendê-lo. Meu filho frequenta escola desde os 2 anos e foram oito anos de luta”.

Andrey tem idade cognitiva de 4 anos “no corpo de um menino de dez”, está começando a conhecer as letras e escrever o próprio nome. Kátia e o filho mais velho aproveitam todos os momentos juntos para estimular o desenvolvimento do garoto. “Na descida do elevador, mostramos os números, no caminho para a escola as cores. Fazemos o possível. Um degrau por dia”, diz.

Para ela, a maternidade não tem segredo e se constrói no dia a dia “com lutas, decepções e um pouquinho de alegria”. “É a presença e o carinho que fazem a diferença”, resume. A empresária sabe que está no caminho certo quando vê o entrosamento dos dois filhos e pensa: “Nós somos uma família”.

Responsabilidade compartilhada
Patrícia Ferreira da Costa salienta que a presença do companheiro ou de familiares é importantíssima como suporte para a mulher. “É direito da mãe dizer que está difícil, que precisa de colo, de ter alguém com quem possa dividir o cuidado com os filhos. A ajuda é como uma cobertura protetora para que a mãe possa estar voltada à exigente tarefa de cuidar de seu filho. Se não houver segurança para a mulher, dificilmente ela conseguirá sustentar uma relação tranquila com a criança, o que pode trazer prejuízos e sofrimento para ambos. Esse deveria ser um direito de todas as mulheres que estão cuidando de bebês”, reforça.

Esse apoio é fundamental para a mulher se sentir segura no que ela faz de melhor e não ser influenciada pelo o quê a vizinha, a sogra ou o livro dizem. “Apoio é diferente do ‘fazer por ela’. Conselhos como ‘no meu tempo fazia assim’ podem ser invasivos e autoritários”, observa a psicóloga.

Não é raro, segundo a especialista, ouvirmos a frase ‘você pode cuidar dele agora para mim?’. “Como se a tarefa de cuidar do filho fosse apenas da mãe. Isso vem sendo questionado atualmente e já notamos mudanças. A responsabilidade da criação dos filhos é de ambos”, diz. Para ela, é preciso romper com a ideia de que o cuidado tem gênero. “Homens e mulheres são capazes de sustentarem o cuidado com os bebês, sem competição ou hierarquia. Essa mudança vem acontecendo devagarinho. Se levada adiante trará muitos benefícios para a sociedade”, acredita.

Paulo Filgueiras/EM/D.A Press
Cristina Silveira diz que presença do pai facilita à criança a passagem do mundo da família para o da sociedade (foto: Paulo Filgueiras/EM/D.A Press)

O papel do pai
A psiquiatra e psicanalista Gilda Paoliello lembra ainda que a participação do pai é tão fundamental quanto à da mãe. “Na verdade, é uma função que se exerce em conjunto e a coerência das posições é fundamental. A figura do pai como lei absoluta e a da mãe como fonte exclusiva de afeto já não cabem mais em nossa contemporaneidade. Além disso, as novas formas de família são cada vez mais presentes e esses novos arranjos não podem ser vistos como ameaças e, sim, como novas possibilidades de realização”, acredita. 

Para a psicopedagoga Cristina Silveira, até alguns anos atrás, o homem manteve-se protegido, em seu silêncio e distanciamento, mas hoje se exige um pai que dialoga e participa, de forma mais próxima e lúdica, da infância de seus filhos e suas filhas. “Esse homem foi surpreendido pela ruptura da hierarquia doméstica e pelo constante questionamento de seu papel como modelo de autoridade para os filhos. Devemos dar visibilidade ao aspecto positivo da atual fase de transição da família, que permite ao homem reinventar seu papel e construir a subjetividade de pai com uma nova postura. Devemos valorizar o pai que transita entre valores novos e arcaicos, questionando o silêncio e o distanciamento impostos por determinações culturais e que se vê diante de uma oportunidade para que, nesse momento, a palavra seja dada a eles. É difícil? Sim, mas não é impossível realizar essa transição”, considera.

A especialista explica que o pai representa a possibilidade do equilíbrio pensado como regulador da capacidade da criança em investir no mundo real. “A necessidade da figura paterna ganha contornos no processo de desenvolvimento, de acordo com cada etapa da vida da criança. Sabemos que o contato corporal entre o bebê e o pai, no cotidiano, é referência na organização psíquica da criança, devido à sua função estruturante no desenvolvimento do ego. No segundo ano de vida, quando já existe a imagem do pai e da mãe, a figura paterna ganha relevo, não só para ancorar o desenvolvimento social da criança, mas para servir de suporte para as dificuldades inerentes ao aprendizado desse período. É este apoio que vai alavancar o desprendimento da criança da estrutura doméstica confortável, até então, garantida pela mãe. A figura paterna é o símbolo que promove a estruturação psíquica da criança e lhe permite abrir-se para horizontes de novas possibilidades. É ele, o pai, o primeiro “outro” que a criança encontra fora do ventre de sua mãe”, diz. É a presença desse pai que irá facilitar à criança a passagem do mundo da família para o da sociedade.

Cristina Silveira pondera que, em casos de pais ausentes, existem outras formas de configurações que podem se unir para formar um modelo referencial necessário às crianças. “Professores, avôs, tios, amigos, terapeutas podem compor uma colcha de retalhos que também aquece”, observa. Para ela, cabe a esse “pai contemporâneo” mais presença e identificação com as exigências da família, cabe a esse pai expor a sua face afetiva e próxima da intimidade cotidiana da criança.

Lilian de Castro Dias Bicalho / Arquivo Pessoal
Andreza Lopes, o marido Alex William e o filho, Abner, de 3 anos. A família é evangélica e tenta educar a criança dentro de seus valores e crenças (foto: Lilian de Castro Dias Bicalho / Arquivo Pessoal )
Referências de maternidade
O primeiro modelo de maternidade e paternidade que temos é o da nossa própria criação e ela vai influenciar seja pela semelhança, seja pelo oposto. “Quando vivemos as identificações com nossos pais de forma positiva tendemos a repeti-las. Se a criticamos, procuramos construir outros modelos, que, muitas vezes, são o oposto do que recebemos”, explica Gilda Paoliello.

No caso da advogada Andreza Lopes, 31 anos, a referência de criação que recebeu norteia suas decisões como mãe. “Sou evangélica, tive uma criação rígida e sou muito feliz com o retorno da educação que recebi. No entanto, em uma sociedade que antecipa a liberdade às crianças e aos jovens me preocupo um pouco com possíveis conflitos em virtude da educação que tenho buscado dar a meu filho”, afirma.

Mãe de Abner, 3 anos, ela diz que se baseia nos ensinamentos bíblicos, mas que já se deparou com alguns desafios. “O papai noel, por exemplo. A igreja diz que não se deve incentivar a crença nele e eu apoiava essa proibição. Mas ‘paguei língua’. Meu filho tem várias fotos com o papai noel, inclusive”, relata. Por outro lado, a família não participa de bloquinhos infantis de carnaval e festas como o Halloween. “Oriento meu filho sobre o motivo pelo qual não participamos”, explica.

Para Gilda Paoliello, mães e pais são livres para escolherem a forma de educar a criança, dentro dos limites do respeito e do senso crítico. “O senso crítico vai permitir um discernimento nas escolhas e também na submissão às normas e padrões. É preciso saber respeitar a singularidade e o tempo de cada um”, avalia.

A escola tem papel fundamental na formação de sujeitos justos, que não só tolerem, mas respeitem as diferenças sejam elas de gênero, raça, orientação sexual ou religiosa. Como um espaço de socialização da criança, a escola não deve impor um ponto de vista, mas é o lugar em que pessoas com histórias das mais diversas se encontram e, portanto, o espaço ideal para se promover reflexões que contribuam para a empatia com o outro.

LIMITES
Gilda Paoliello afirma que os limites são fundamentais na criação dos filhos, pois vão possibilitar tanto as aquisições físicas que as crianças precisam dominar na infância, como também o saber lidar com as frustrações e com a vida em coletividade. “Ao longo da história, vemos que a forma e extensão desses limites se alteram nas diversas fases da cultura. Nos últimos 30 anos esses limites são mais flexíveis e os pais se colocam muito mais proximamente aos filhos, o que é muito bom, mas exige uma coerência muito maior entre o que se fala e o que se faz. Vejo o exemplo como a melhor maneira de introduzir os limites na vida da criança, para que sejam aceitos como possibilidades e não como impedimento para uma vida plena”, reforça.