Leia Mais
Ansiedade pode ser problema durante e até depois da organização de uma festa de casamentoEstudo sugere que pessoas com menos experiência têm mais chances de casamentos duradourosLaços que unem pais e filhos devem ser preservados mesmo após o fim do casamentoHomens e mulheres que traem comparam sexo dentro e fora do casamento Você pagaria para ser madrinha de casamento?As cientistas contam que se interessaram pelo tema após revisarem um estudo sobre o comportamento de risco de adolescentes. O trabalho mostrava que jovens com forte expectativa de casamento tinham uma probabilidade menor de usar drogas. “Eu me perguntei se eles também eram menos propensos a cometer atos delinquentes, especialmente porque sabemos que, quando as pessoas se casam, elas têm, em geral, uma tendência menor a comportamentos criminosos”, explica ao Correio Rachel Arocho, uma das autoras do estudo.
Na pesquisa, Arocho e sua colega, Claire Kamp Dush, analisaram informações da Pesquisa Longitudinal Nacional da Juventude, um trabalho com dados de 7.057 pessoas com idades entre 15 e 20 anos quando os dados foram coletados, em 2000 e 2001. Nesse levantamento, os participantes foram motivados a, entre outras coisas, estimar a probabilidade de eles estarem casados no prazo de cinco anos. Eles também foram indagados se haviam cometido atos delinquentes — que incluíam roubo, agressão pessoal, tráfico de drogas e destruição de propriedade.
Em 2000, os respondentes diziam haver, em média, 43% de chances de eles se casarem em cinco anos. Já entre os participantes que responderam ao questionário em 2001, esse índice médio foi maior, de 48%. As pesquisadoras notaram, então, que o número de jovens que diziam ter cometido alguma transgressão caía de um período para o outro. Ou seja, havia menos adolescentes delinquentes no grupo que tinha uma expectativa maior de matrimônio.
Compromisso
“Nosso trabalho sugere diferenças mensuráveis entre jovens que pensam que vão se casar logo e aqueles que não acreditam nisso”, observa Arocho. As pesquisadoras acreditam que a redução de atos delinquentes registrados pode ser influenciada pela necessidade de mudanças comportamentais diante da expectativa de matrimônio.
Para Vladimir Melo, psicólogo e terapeuta familiar, a pesquisa mostra dados coerentes com o estágio da vida em que os participantes do estudo foram avaliados. “Como a análise foi feita com jovens, as expectativas de formar uma família representam uma mudança no estilo de vida. Existe também um resgate de valores, que é uma condição importante a ser passada para as crianças, por exemplo. Na terapia familiar, é o que chamamos de força centrípeta, que puxa a energia para o centro familiar, com estabilidade e dedicação muito maiores a ela”, analisa o especialista, que não participou do estudo.
Casada há apenas quatro meses, Daniela Cardoso, 25 anos, considera que a conclusão da pesquisa faz sentido. Segundo a administradora, tanto ela quanto o marido, Víctor Hugo Maciel, 26, tiveram mudanças de comportamento antes da união. “Eu e meu marido nunca fomos muito baladeiros, mas diminuímos muito o nosso lazer, porque queríamos juntar dinheiro para comprar um apartamento. Nossas prioridades mudaram, deixamos algumas coisas de lado, como visitar um restaurante, para começar a vida de casados. Abdicamos de certas coisas para dar início a um projeto juntos, o que valeu muito a pena”, conta.
Víctor Hugo concorda com a mulher.
Ainda em alta
As professoras da Universidade de Ohio acreditam que outra conclusão trazida pelo estudo é de que os jovens, pelo menos os norte-americanos, continuam valorizando o casamento. “O matrimônio mudou muito ao longo dos últimos 30, 40 anos, mas a maioria dos jovens ainda diz que espera se casar. Surpreendeu perceber que eles ainda se importam com o matrimônio, e aqueles com maiores expectativas já agem de forma diferente”, diz Arocho.
Melo observa algo parecido na nova geração brasileira. Apesar de terem um novo olhar para a união, os jovens brasileiros continuam a valorizá-la. “Muitas pessoas, dificilmente, vão ter apenas um casamento na vida, porque elas têm mais liberdade de escolha e veem esse compromisso de outra forma, com mais autonomia. Antes, a pressão familiar e social era muito maior e, agora, elas têm a possibilidade de reconstruir a vida”, observa o terapeuta.
O trabalho das autoras terá continuidade. “Pretendemos estudar as expectativas conjugais usando dados diferentes e focando em outras amostras, como os casais que já vivem juntos. Quero saber mais sobre como essas expectativas são formadas e que outros comportamentos elas influenciam”, adianta Arocho. .