Muitas das pessoas com vitiligo têm histórico familiar, ou seja, algum parente também apresenta a doença que causa a descoloração da pele e dos pelos em algumas partes do corpo. Esse fato sugere que o problema, cuja causa permanece um mistério, pode ter relação com a genética. Baseados nesse dado, um grupo da Universidade do Colorado, nos Estados Unidos, têm se dedicado a amplas análises do DNA de pessoas com e sem a enfermidade. Em seu estudo mais recente, a equipe, liderada pelo geneticista Richard Spritz, identificou 23 novos genes que parecem ligados ao mal.
Publicado recentemente na revista Nature Genetics, o trabalho fornece novos dados para os pesquisadores interessados na genética por trás do vitiligo. “Esse estudo dobra o número de genes conhecidos envolvidos no risco de vitiligo”, afirma Spritz. Além disso, reforça a antiga suspeita de que o problema tem relação com outras doenças autoimunes, como diabetes tipo 1, lúpus e artrite reumatoide — esses males, muito frequentemente, surgem associados ao problema dermatológico.
Os autores se dedicam ao tema há anos, realizando análises em milhares de pessoas de diferentes grupos étnicos. “O meu grupo estuda a base genética do vitiligo desde 1997, originalmente a pedido da Sociedade Vitiligo (com base na Inglaterra). Muito pouco se sabia sobre essa enfermidade naquele momento. A esperança era que, ao descobrir os genes, aprenderíamos sobre a biologia da doença e descobriríamos abordagens para tratá-la”, conta Spritz, que é diretor do Programa de Genética da universidade americana.
Tratamento
No novo artigo, foram estudados o DNA de 4.680 pessoas com vitiligo e 39.586 participantes sem a enfermidade, todos com ancestralidade europeia. Por meio de comparações, eles chegaram aos 23 genes que parecem ligados ao problema. Os cientistas acreditam que os achados devem ajudar na busca por tratamentos, algo difícil para a indústria.
Isso porque, de acordo com Spritz, o estudo da genética tem mostrado que as causas de doenças complexas como o vitiligo estão mais ligadas à regulação que à estrutura dos genes. Isso significa que não é por herdar uma determinada variante de um gene que a pessoa desenvolve a enfermidade. O que mais importa é a forma como esse gene se expressa, um processo que sofre a influência de vários fatores, internos e externos ao organismo.
Mesmo que o desenvolvimento de novas terapias não seja rápido, Gustavo Guida, geneticista do Laboratório Exame de Brasília, vê como promissores os caminhos abertos pelo novo estudo. “Quando você conhece o caminho feito pela célula causadora da doença, você pode interferir na sua função. É possível usar um bloqueador que interfira no mecanismo. Isso aconteceu, por exemplo, com a esclerose tuberosa. Foram descobertos genes envolvidos com essa doença, e pesquisadores viram que um medicamento antineoplásico afetava a ação desregulada desses genes”, explica o especialista, que não participou do estudo.
Guida destaca ainda que o tipo dos genes descobertos na pesquisa é mais interessante que a quantidade de estruturas descobertas. “Nesse trabalho os cientistas mostram alguns genes que têm um papel pequeno na origem da enfermidade, mas são mais importantes porque estão presentes na maior parte da população”, afirma.
Ligação
Richard Spritz ressalta a importância do estudo também para o entendimento das doenças autoimunes, aquelas em que as células de defesa interpretam erradamente uma determinada parte do corpo como uma ameaça, lançando um ataque interno a esses tecidos ou células. “Em grande parte devido aos nossos trabalhos, é aceito agora que o vitiligo é uma enfermidade autoimune que tem ligações genéticas com outros males desse tipo, que ocorrem frequentemente em pacientes com vitiligo e seus familiares, como diabetes tipo 1, artrite reumatoide, anemia perniciosa e lúpus”, afirma o pesquisador.
Dos 23 genes identificados no trabalho, 12 deles parecem estar associados a mecanismos que causam outras doenças autoimunes. Os achados abrem, então, possibilidades de investigar tratamentos também para esses males. “Uma vez que os nossos resultados destacam ligações genéticas para outras doenças, é evidente que algumas das mesmas vias biológicas estão envolvidas nesses problemas. Assim, os mesmos fármacos podem ser úteis em diferentes doenças autoimunes”, detalhou o autor.
Essa relação pode até mesmo ajudar a baratear os remédios. “Como é muito caro desenvolver e testar novos medicamentos, as empresas farmacêuticas desejam encontrar novos usos para drogas que já estão em desenvolvimento para outras enfermidades. Assim, as companhias e os médicos podem planejar ensaios clínicos para testar tratamentos já desenvolvidos para o vitiligo. Na verdade, haverá uma reunião internacional para discutir isso em dezembro, em Roma”, adianta Spritz.
O autor e seu grupo de estudo darão continuidade à pesquisa e planejam uma análise mais detalhada dos genes identificados. “Para fazer isso, estamos estudando 350 famílias em que várias pessoas têm vitiligo, bem como outras doenças autoimunes, para descobrir quais são os genes compartilhados”, detalha o líder do trabalho. “Isso permitirá o uso de testes genéticos para diagnóstico refinado e o desenvolvimento de uma medicina personalizada para o vitiligo, de modo que o tratamento seja receitado com base exatamente no que está provocando o vitiligo em cada paciente”, completa.
Publicado recentemente na revista Nature Genetics, o trabalho fornece novos dados para os pesquisadores interessados na genética por trás do vitiligo. “Esse estudo dobra o número de genes conhecidos envolvidos no risco de vitiligo”, afirma Spritz. Além disso, reforça a antiga suspeita de que o problema tem relação com outras doenças autoimunes, como diabetes tipo 1, lúpus e artrite reumatoide — esses males, muito frequentemente, surgem associados ao problema dermatológico.
Os autores se dedicam ao tema há anos, realizando análises em milhares de pessoas de diferentes grupos étnicos. “O meu grupo estuda a base genética do vitiligo desde 1997, originalmente a pedido da Sociedade Vitiligo (com base na Inglaterra). Muito pouco se sabia sobre essa enfermidade naquele momento. A esperança era que, ao descobrir os genes, aprenderíamos sobre a biologia da doença e descobriríamos abordagens para tratá-la”, conta Spritz, que é diretor do Programa de Genética da universidade americana.
Tratamento
No novo artigo, foram estudados o DNA de 4.680 pessoas com vitiligo e 39.586 participantes sem a enfermidade, todos com ancestralidade europeia. Por meio de comparações, eles chegaram aos 23 genes que parecem ligados ao problema. Os cientistas acreditam que os achados devem ajudar na busca por tratamentos, algo difícil para a indústria.
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Mesmo que o desenvolvimento de novas terapias não seja rápido, Gustavo Guida, geneticista do Laboratório Exame de Brasília, vê como promissores os caminhos abertos pelo novo estudo. “Quando você conhece o caminho feito pela célula causadora da doença, você pode interferir na sua função. É possível usar um bloqueador que interfira no mecanismo. Isso aconteceu, por exemplo, com a esclerose tuberosa. Foram descobertos genes envolvidos com essa doença, e pesquisadores viram que um medicamento antineoplásico afetava a ação desregulada desses genes”, explica o especialista, que não participou do estudo.
Guida destaca ainda que o tipo dos genes descobertos na pesquisa é mais interessante que a quantidade de estruturas descobertas. “Nesse trabalho os cientistas mostram alguns genes que têm um papel pequeno na origem da enfermidade, mas são mais importantes porque estão presentes na maior parte da população”, afirma.
Ligação
Richard Spritz ressalta a importância do estudo também para o entendimento das doenças autoimunes, aquelas em que as células de defesa interpretam erradamente uma determinada parte do corpo como uma ameaça, lançando um ataque interno a esses tecidos ou células. “Em grande parte devido aos nossos trabalhos, é aceito agora que o vitiligo é uma enfermidade autoimune que tem ligações genéticas com outros males desse tipo, que ocorrem frequentemente em pacientes com vitiligo e seus familiares, como diabetes tipo 1, artrite reumatoide, anemia perniciosa e lúpus”, afirma o pesquisador.
Dos 23 genes identificados no trabalho, 12 deles parecem estar associados a mecanismos que causam outras doenças autoimunes. Os achados abrem, então, possibilidades de investigar tratamentos também para esses males. “Uma vez que os nossos resultados destacam ligações genéticas para outras doenças, é evidente que algumas das mesmas vias biológicas estão envolvidas nesses problemas. Assim, os mesmos fármacos podem ser úteis em diferentes doenças autoimunes”, detalhou o autor.
Essa relação pode até mesmo ajudar a baratear os remédios. “Como é muito caro desenvolver e testar novos medicamentos, as empresas farmacêuticas desejam encontrar novos usos para drogas que já estão em desenvolvimento para outras enfermidades. Assim, as companhias e os médicos podem planejar ensaios clínicos para testar tratamentos já desenvolvidos para o vitiligo. Na verdade, haverá uma reunião internacional para discutir isso em dezembro, em Roma”, adianta Spritz.
O autor e seu grupo de estudo darão continuidade à pesquisa e planejam uma análise mais detalhada dos genes identificados. “Para fazer isso, estamos estudando 350 famílias em que várias pessoas têm vitiligo, bem como outras doenças autoimunes, para descobrir quais são os genes compartilhados”, detalha o líder do trabalho. “Isso permitirá o uso de testes genéticos para diagnóstico refinado e o desenvolvimento de uma medicina personalizada para o vitiligo, de modo que o tratamento seja receitado com base exatamente no que está provocando o vitiligo em cada paciente”, completa.