Poucas pessoas têm a chance de descobrir a osteoporose antes que ela se manifeste em forma de fratura.
“A osteoporose é uma doença silenciosa e traiçoeira”, define a reumatologista Vera Szejnfeld, presidente da Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (Abrasso). A médica esclarece que o desgaste ósseo é um processo natural do envelhecimento, que se inicia por volta dos 40 anos. Contudo, o normal é chegar aos 70 com perda média de 10%. No caso de quem tem a doença, essa degeneração é muito maior. Como o desgaste, sozinho, não causa dor, muitos vão descobrir tarde demais. “A primeira manifestação é uma fratura, então o diagnóstico costuma ser tardio, quando de 30% a 40% do osso já foi perdido”, diz Szejnfeld.
Por causa da queda na produção de hormônios associada à menopausa, a osteoporose costuma afetar mais as mulheres, que também apresentam o problema antes que os homens. As estatísticas indicam que uma em cada três pessoas do sexo feminino sofrerá perda óssea acentuada depois dos 50 anos, sendo que na fase pré-menopausa, quando a menstruação começa a falhar, já é possível que os ossos estejam perdendo massa. A ocorrência entre homens é de um caso em cada cinco, e a degeneração costuma ocorrer após os 60 anos.
Isso não significa que as mulheres sofrem mais que os homens com a osteoporose. Pelo contrário. Para eles, as consequências costumam ter maior gravidade. “O que mais mata quem tem a doença é a fratura de quadril. Nas mulheres, um terço das pacientes morre em até um ano depois desse tipo de fratura.
De acordo com o médico, isso ocorre devido às complicações pós-cirurgias, como fibrilação arterial, acidente vascular e trombose, que são mais comuns entre o sexo masculino. Borges também lembra que as mulheres, por fazerem consultas frequentes com o ginecologista, acabam cuidando mais da saúde que os homens, o que aumenta as chances de prevenção, não só da doença, mas da ocorrência de uma segunda fratura. O relatório da Federação Internacional de Osteoporose indica que 50% das pessoas que quebram um osso vão fraturar outro, sendo que a esse risco vai aumentando exponencialmente.
Riscos
Embora muito vinculada ao envelhecimento, a osteoporose pode acometer pessoas de qualquer faixa etária, quando associada a determinadas doenças e ao uso de alguns medicamentos. A reumatologista Rosa Rodrigues Pereira, coordenadora da Comissão de Osteoporose da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), explica que enfermidades inflamatórias, como diabetes, artrite reumatoide, asma e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), por exemplo, predispõem à perda óssea, até mesmo crianças.
Hiper e hipotiroidismo, além de cânceres hematológicos, também podem favorecer o desgaste. Daí a necessidade de investigar esses pacientes, independentemente da idade. “No caso das doenças reumáticas, há o agravante de a dor articular reduzir muito o movimento, sendo que a imobilidade é um dos fatores de risco para a osteoporose”, diz a médica.
Os pacientes de doenças inflamatórias também têm maior probabilidade de sofrer perdas ósseas porque dependem de glicocorticoides, classe de medicamentos que, usados de forma crônica, reduzem a densidade do osso. O mesmo vale para alguns quimioterápicos indicados para pacientes de câncer de mama, assim como anticonvulsivos, anticoagulantes, lítio, protetores gástricos e furosemida (diurético usado por hipertensos).
Além disso, pessoas que passaram por cirurgia bariátrica ou que perderam uma quantidade significativa de peso devem fazer a densitometria óssea — o exame que detecta a osteoporose. “Esses pacientes têm má absorção de cálcio, magnésio e vitamina D”, justifica Rosa Rodrigues Pereira, da SBR. Para a reumatologista Vera Szejnfeld, da Abrasso, os profissionais de saúde deveriam estar mais atentos às doenças e condições que favorecem a osteoporose e, assim, orientar melhor os pacientes. “Há uma população muito grande nesses grupos de risco e ninguém está fazendo nada, nem diagnóstico nem prevenção.
Genética
Apesar de ser possível tratar a osteoporose e, inclusive, reverter boa parte dos danos, os médicos insistem que o ideal é prevenir. Calcula-se que 80% dos casos sejam genéticos, mas nos 20% restantes, além da influência das doenças preexistentes e dos medicamentos, os maus hábitos são os principais culpados. “Estamos em uma fase de demonização do leite e do sol”, critica o endocrinologista João Lindolfo Borges, da Sbem. “No leite e nos derivados, você tem uma grande concentração de cálcio. E a vitamina D, necessária para a absorção do cálcio, é produzida com a exposição à luz solar. Não precisa esturricar debaixo do sol, bastam 10 minutinhos, três vezes por semana, sem protetor. Ninguém vai pegar câncer de pele por isso”, ensina. Falta de mobilidade, tabagismo e excesso de álcool também estão diretamente associados à doença.
Depois do susto, a professora Cristhianni Caetano entrou na linha e corrigiu todos os maus hábitos. Hoje, corre e frequenta a academia, inclusive nos fins de semana, toma sol com moderação e inclui leite e derivados na alimentação. O resultado não foi só o ganho de massa óssea. “Estou sarada e bronzeada”, brinca. “Nunca tive um corpão deste, nem aos 20, nem aos 30”, comemora..