“Clinicamente, os resultados mostram que não há risco em esperar a transfusão até que os níveis de hemoglobina dos pacientes atinjam um ponto mais baixo do que o considerado hoje”, diz o médico Jeffrey L. Carson, professor de medicina e principal autor do trabalho. “Essa abordagem mais restritiva está associada a reduções no uso de sangue, na conservação de bolsas de sangue e a menos gastos”, conta. Mais de 100 milhões de bolsas sangue são coletadas anualmente pelo mundo, destinadas a diversos tratamentos: vítimas de acidentes, pessoas em tratamento oncológico, mulheres que sofrem hemorragia no parto, entre outros. No Brasil, foram coletadas 3,7 milhões de bolsas, no ano passado.
Os autores do trabalho fizeram algumas recomendações principais a respeito da indicação do procedimento. Para pacientes hospitalizados estáveis (incluindo os graves), é possível aguardar os níveis de hemoglobina caírem para 7g/dl, em vez dos 10 g/dl preconizados atualmente. No caso de pessoas submetidas a cirurgia ortopédica ou cardíaca e para aqueles com doenças cardiovasculares preexistentes, a transfusão também seria feita com um nível de 7g/dl, em vez de 8g/dl, exceto nos casos de síndrome coronariana aguda, trombocitopenia severa e anemia crônica.
“Além disso, as práticas padrões devem iniciar a transfusão com uma unidade de sangue, em vez de duas.
Validade
Outra recomendação dos pesquisadores diz respeito ao armazenamento de sangue. De acordo com eles, o biomaterial estocado por até 42 dias é tão seguro quanto sangue novo, com menos de 10 dias de coleta. “Uma das maiores controvérsias na medicina de transfusão é determinar se o sangue estocado por muito tempo é perigoso”, afirma Aaron Tobian, patologista da Universidade Johns Hopkins e vice-presidente da Associação Americana de Bancos de Sangue (AABB, sigla em inglês).
“Diretrizes são muito importantes, porque os médicos que fazem cirurgias e outros procedimentos decidem quando é necessário fazer a transfusão e quanto sangue deve ser transfundido. É importante para os médicos e os pacientes saberem que essas decisões são tomadas baseadas em evidências clínicas de alta qualidade. Precisamos adotar diretrizes baseadas no que a ciência revela”, acrescenta Carson.
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