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“Nosso trabalho mostra que, mesmo se você controlar firmemente a aparência e o sabor dos alimentos, o nosso cérebro pode detectar o teor dos nutrientes”, disse, em comunicado à imprensa, Sadaf Farooqi, coautor do estudo. Farooqi e equipe testaram as escolhas alimentares de 14 indivíduos obesos e que tinham variações raras no gene MC4R — a estimativa é de que essa falha genética acometa uma em cada 100 pessoas com problemas de peso. Também participaram do experimento voluntários magros e obesos que não tinham problema no MC4R.
Na primeira etapa, os participantes foram apresentados a um buffet livre de frango korma, uma comida tradicional indiana. Havia três pratos com aparência igual, mas diferenças na contribuição de gordura para o conteúdo calórico total: 20%, 40% e 60%. Os participantes não sabiam dessa distinção. Os pesquisadores descobriram que, embora os grupos não tenham mostrado diferenças em relação à quantidade de alimentos ingeridos, os indivíduos com a variante do MC4R comeram quase o dobro da quantidade de korma altamente rico em gordura do que os indivíduos magros, 95% a mais. Se levados em consideração apenas os obesos sem a peculiaridade genética, o aumento na ingestão de korma com alto teor de açúcar foi de 65%.
Sobremesa
Na segunda etapa, os participantes receberam uma sobremesa feita de morangos, chantilly e pedaços de merengue. Novamente,havia três opções visualmente indistinguíveis, mas com o açúcar compreendendo 8%, 26% ou 54% do total de calorias. Os obesos com a variante do gene o MC4R gostaram menos das opções ricas em açúcar do que os outros dois grupos de voluntários, e comeram “significativamente menos” de todos os três tipos de doce. “Para esses indivíduos, essa mutação os levou a preferir alimentos ricos em gordura, sem eles perceberem”, ressaltaram os autores.
Trata-se do primeiro estudo a fazer essa relação entre a genética e escolhas alimentares, mas não ficou claro para os pesquisadores qual é a razão para a aversão ao açúcar nos participantes que tinham a variante genética. Ainda assim, segundo eles, o trabalho evidencia a existência de uma via de sinalização específica do cérebro para modular as escolhas alimentares dos indivíduos. Portanto, compreender a fundo esse mecanismo poderia ajudar no desenvolvimento de novas formas de tratamento da obesidade e de outros transtornos metabólicos.
Crianças em perigo
Novas projeções globais indicam que a obesidade pode se tornar um problema ainda mais preocupante para crianças e adolescentes. Segundo o estudo Pediatric Obesity, sem a adoção de medidas mais eficazes, em 2025, cerca de 268 milhões de crianças de 5 a 17 anos poderão estar acima do peso, incluindo 91 milhões de obesos. No mesmo ano, até 12 milhões de meninos e meninas terão diminuição da tolerância à glicose, 27 milhões serão hipertensos e 38 milhões terão esteatose hepática (acumulação de gordura no fígado), indica também o relatório. “Essas previsões devem soar como um sinal de alarme para os gestores de serviços de saúde e profissionais de saúde. Eles terão de lidar com essa onda crescente de problemas de saúde na sequência da epidemia de obesidade”, ressaltou Tim Lobstein, coautor do estudo e integrante da Federação Mundial de Obesidade.