David Talan, principal autor do estudo e professor no Departamento de Medicina de Emergência na UCLA, e equipe analisaram 453 pessoas diagnosticadas com a infecção bacteriana nos rins, entre julho de 2013 e dezembro de 2014, em 10 departamentos de emergência de hospitais de grande porte espalhados pelo país. Doze por cento dos participantes foram acometidos por uma pielonefrite que não respondia ao antibiótico da classe padrão, a fluoroquinolona. O aumento de pacientes com esse perfil foi de 50%, se comparado com os resultados de um estudo semelhante feito uma década antes. Em alguns indivíduos com alguma condição de risco — como ter sido hospitalizado recentemente e submetido a tratamento com antibiótico — o índice chegou a 20%.
“Esse é um verdadeiro exemplo da ameaça representada pelo surgimento de novas estirpes de bactérias resistentes aos antibióticos, o que complica muito o tratamento de infecção”, disse Talan, em comunicado à imprensa.
Problema endêmico
Segundo os autores, a resistência ao medicamento estaria ligada à infecção por uma estirpe da Escherichia coli produtora de ESBL, uma enzima que enfraquece a ação dos antibióticos. Esse tipo do patógeno foi detectado pela primeira vez em 1979 e era mais frequentemente encontrado em nações em desenvolvimento e em hospitais. No estudo norte-americano, porém, uma em cada três pessoas infectadas com a E. coli produtora de ESBL não tinha fatores de risco tradicionais para a resistência ao medicamento. A constatação, acredita a equipe, sugere que a estirpe bacteriana se tornou endêmica nos Estados Unidos e que as pessoas saudáveis também estão em risco.
Talan e a equipe defendem, no artigo, o desenvolvimento de novos medicamentos e de novas práticas para o tratamento de pacientes com pielonefrite — entre os participantes do estudo contaminados pela E. coli produtora de ESBL, 75% haviam recebido inicialmente substâncias ineficazes contra esse tipo de bactéria, o que os colocou ainda mais vulneráveis ao micro-organismo. “Os médicos também precisam prestar muita atenção nas taxas de resistência a antibióticos em suas regiões de atuação e testar amostras de bactérias para determinadas linhagens específicas”, sugeriram.
Na mesma linha de estímulo ao melhoramento das práticas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem alertado sobre o desconhecimento das pessoas em geral sobre os efeitos das superbactérias. Um estudo divulgado em novembro pela agência das Nações Unidas em 12 países mostrou que 44% dos entrevistados acreditavam que a resistência aos antibióticos era um problema enfrentado apenas por pessoas que abusam da ingestão desse tipo de medicamento. “Na verdade, qualquer pessoa pode a qualquer momento e em qualquer país ser acometida por uma infecção resistente”, ressaltou, no documento, a OMS. A estimativa é de que as mortes anuais provocadas por esses superpatógenos pule das 700 mil atuais para 10 milhões em 2050.
“Esse é um verdadeiro exemplo da ameaça representada pelo surgimento de novas estirpes de bactérias resistentes aos antibióticos, o que complica muito o tratamento de infecção” - David Talan, principal autor do estudo e professor da Universidade da Califórnia em Los Angeles