A baixa produção de dopamina está ligada ao surgimento do Parkinson, doença degenerativa que causa tremores, diminuição dos movimentos voluntários e instabilidade postural.
Os autores usaram como base trabalhos anteriores que encontraram grandes quantidades de alfa-sinucleína em cérebros autopsiados de pessoas que tiveram Parkinson. Também escolhido como referência, um estudo feito por cientistas da Universidade de Goethe, na Alemanha, mostrou que a doença progride por meio de agregados dessa proteína. Eles acabam afetando estruturas cerebrais responsáveis pelo movimento e por funções básicas, como a memória e o raciocínio.
Dawson e seus parceiros, incluindo Rafaella Araújo Gonçalves, da UFRJ, resolveram investigar os mecanismos ligados à produção da alfa-sinucleína a fim de descobrir uma maneira de cessar os excessos. Em testes de laboratório, identificaram três proteínas-chaves com essa função, sendo que uma delas, a LAG3, se mostrou a mais importante. A segunda etapa da investigação envolveu experimentos com ratos, que receberam injeção de grande quantidade de alfa-sinucleína. Em seis meses, as cobaias desenvolveram sintomas do Parkinson e metade dos seus neurônios produtores de dopamina morreu.
A equipe também modificou roedores para que não tivessem a proteína LAG3, que provoca o acúmulo da alfa-sinucleína no cérebro, e repetiu o processo. A cobaias sofreram os mesmos efeitos negativos do primeiro teste, mas em menor escala. “Ratos típicos desenvolveram sintomas de Parkinson logo depois de receberem a injeção e, no prazo de seis meses, metade dos neurônios produtores de dopamina havia morrido. Mas os ratos sem LAG3 foram quase que totalmente protegidos desses efeitos”, comparou Dawson.
Para a equipe, essa diferença se deu porque a LAG3 bloqueia os anticorpos que combatem o Parkinson. Em testes com neurônios cultivados em laboratório, observou-se esse mecanismo de defesa, o que reforça a hipótese. “Ficamos animados por ter visto como a alfa-sinucleína se espalha através do cérebro, mas também que o seu progresso pode ser bloqueado por anticorpos existentes”, destacou Xiaobo Mao, um dos autores do trabalho e pesquisador da Universidade Johns Hopkins.
Multifatorial
Delson José da Silva, chefe da Unidade de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG) e membro da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), avalia que os resultados obtidos reforçam a hipótese de que o Parkinson é uma doença multifatorial. “A da proteína alfa-sinucleína em excesso entra dentro de uma suspeita que existe na área, a de que o Parkinson pode ser provocado por uma reação autoimune”, explicou. Segundo o especialista, esse acúmulo de proteína — ela chega a triplicar de tamanho e ganha uma forma fisiológica agressiva — pode levar à morte dos neurônios.
Silva acredita que o futuro das pesquisas na área está em descobrir maneiras de evitar que a alfa-sinucleína se multiplique e afete o cérebro. “Hoje em dia, os tratamentos para Parkinson estão focados no aporte da dopamina, que é um dos neurotransmissores afetados pela doença. Todos os remédios tentam estimular a produção dessa substância, o que ainda não resulta na cura.
Neurotransmissor em queda
A dopamina é uma substância química que tem como função auxiliar a transmissão de mensagens entre as células nervosas, além de auxiliar na realização de movimentos voluntários do corpo, guiando os músculos. Com o envelhecimento, esse neurotransmissor pode sofrer reduções, algumas pessoas apresentam quantidades extremamente baixas, gerando dificuldades de locomoção, uma das características do Parkinson. A reposição do neurotransmissor é o tratamento mais explorado, o que reduz os sintomas melhora a qualidade de vida. Há a suspeita de que a doença degenerativa tenha também causas genéticas, que agiriam com fatores ambientais, como a exposição a resíduos químicos, agrotóxicos e outros produtos tóxicos.
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