O Brasil é o 4º país com o maior número de meninas, com até 15 anos, casadas, de acordo com a pesquisa Ela vai no meu barco – Casamento na infância e adolescência no Brasil, realizada pelo Instituto Promundo em parceria com a Unicef, divulgada em 2015. E cerca de 88 mil meninas e meninos, de 10 a 14 anos, estão em casamentos consensuais civis ou religiosos, de acordo com dados de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Sobre a representatividade de mulheres no parlamento, o documento indica que os países buscam igualdade de gênero entre parlamentares, independente do tamanho da economia. “Apenas três dos países com a maior proporção de mulheres deputadas são de alta renda — Suécia, Finlândia e Espanha.
O Brasil está atrás de países com histórico de abusos contra mulheres como Irã, Sudão, Iraque, Índia e Síria. De acordo com a pesquisa, um dos indicativos que contribuem para a colocação é a falta de representatividade de mulheres no parlamento. Mas o relatório também chama atenção para os altos índices nos quesitos casamento infantil e gravidez na adolescência.
Para a cientista política e coordenadora do Coletivo Feminino Plural Télia Negrão, o Brasil deixa a desejar no combate ao problema. “O resultado demonstra uma dívida do Estado brasileiro e da sociedade para com as meninas. As políticas públicas são contraditórias e falta enfoque. Vimos a retirada do Plano Nacional de Educação de questões de gênero e sexualidade com repercussão nacional e em municípios. Totalmente contrário às políticas da ONU sobre educação sexual, gravidez na adolescência e empoderamento das mulheres. Esses dados nos fazem pensar o quanto estamos distantes de compromissos internacionais para reduzir esses índices negativos”, afirma.
Segundo a especialista, o problema é mais profundo do que parece e é resultado das desigualdades que assolam o país. “Está relacionado à desigualdade social, econômica e racial. Existe uma relação entre casamento infantil e rota de turismo sexual, ambos presentes no Norte e Nordeste, e correspondem à baixa escolaridade, baixo acesso à informação e exercício da sexualidade sem autonomia.