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ENTREVISTA

Homens não associam o excesso de peso à queda da testosterona

A desinformação pode levar à andropausa e a complicações decorrentes do quadro

Flávia Duarte
Pesquisa da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) revela que cerca de 79% dos homens entre 50 e 70 anos não relacionam a obesidade com a queda da testosterona - Foto: REUTERS/Lucas JacksonO corpo humano é uma máquina inteligente e de peças interligadas.
O desajuste em um dos sistemas pode provocar pane em outro. E os prejuízos para a qualidade de vida só aumentam, como um efeito cíclico e, na maioria das vezes, progressivo. A boa notícia é que há como interromper o processo de complicação da saúde. O primeiro passo é identificar a causa e o sintoma.

Quem imaginaria, por exemplo, que a obesidade está diretamente ligada à queda da testosterona? Os homens, aparentemente, desconhecem essa perigosa relação. Ao menos é o que conclui a pesquisa realizada em parceria com a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) que afirma: cerca de 79% dos homens maduros (50 e 70 anos) não relacionam a obesidade com a queda da testosterona. Os mais jovens, entre 18 e 22 anos, estão ainda mais desinformados. Quase 83% afirmaram desconhecer que o excesso de peso poderia levar ao quadro conhecido como andropausa ou hipogonadismo.

No estudo, foram ouvidos mais de 2 mil homens, em sete capitais brasileiras.
Os números acima se referem aos entrevistados só em Brasília. Mas pelo resto do país, a ignorância é igualmente perigosa. Afinal, o excesso de tecido adiposo altera o funcionamento da hipófise, dos testículos, o que inibe a produção de testosterona, especialmente a partir dos 45 anos de idade. O quadro se torna ainda mais preocupante quando se sabe que, segundo a Organização Mundial de Saúde, a expectativa é de que, em 2025, cerca 2,3 bilhões de adultos estejam com sobrepeso, e mais de 700 milhões sejam obesos. Atualmente, só no Brasil, segundo a Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica), mais da metade da população já está acima do peso.

O urologista Eduardo Bertero, chefe do Departamento de Andrologia da SBU, explica como o descaso com a balança pode comprometer, inclusive, a vida sexual masculina.

Eduardo Bertero - Foto: Arquivo Pessoal Qual a motivação de a SBU fazer uma pesquisa para associar a obesidade à andropausa?
Conscientizar a população masculina de que a obesidade traz outros problemas para a saúde e para a qualidade de vida. Alguns fatores de risco, como hipertensão arterial, eventos cardiovasculares, hipercolesterolemia, diabetes tipo 2 já são bem estabelecidos e conhecidos. No entanto, a diminuição da testosterona circulante como consequência da obesidade foi questionada e, para nossa surpresa, ignorada pela maioria dos entrevistados.

Qual o risco de os homens ignorarem o excesso de peso como fator causador de redução dos hormônios?
Bem, o risco de sofrer os males da deficiência androgênica (andropausa) e não fazer o tratamento adequado, como, por exemplo, a reposição hormonal com injeções de testosterona.

E por que a obesidade antecipa a diminuição dos hormônios masculinos?
O tecido gorduroso, ou a célula adiposa, aumenta a conversão de testosterona em estradiol, pois há um aumento de excreção pela célula da enzima conversora aromatase. A liberação de estradiol diminui a secreção de LH pela glândula hipófise e, com isso, diminui a estimulação para o testículo produzir testosterona.

Qual a função da testosterona no organismo dos homens?
Testosterona é o principal hormônio masculino e tem várias funções no organismo, além da sexual. É responsável pela libido, pelo desejo sexual e também por outras funções biológicas. É um anabolizante, responsável pela manutenção da massa muscular magra. Também tem funções cognitivas, para melhorar o humor e a memória, entre outros. É um hormônio muito importante.

Quais os sintomas mais comuns da andropausa?
Cansaço, fadiga, irritação, perda de massa muscular, osteoporose, perda acentuada de pelos, diminuição da libido e disfunção erétil.

Como se explicaria as diferentes preocupações masculina com a saúde de acordo com a faixa etária?
Acho previsível esperar que um senhor de mais de 50 anos preocupe-se mais com doenças cardiovasculares e com diabetes do que os homens mais novos. De uma maneira geral, os mais velhos também ficam mais alertas com problemas sexuais, até porque as doenças que contribuem como fatores de risco para isso, incluindo obesidade, hipertensão arterial, aumento do colesterol e diabetes tipo 2, são muito mais prevalentes na faixa etária mais elevada.

Disfunção erétil e falta de libido continuam a ser a maior preocupação deles? Poderíamos dizer que os homens são displicentes com a própria saúde?
Sem dúvida que a disfunção erétil e as disfunções sexuais, em geral, são as maiores preocupações deles.
A razão é simples: a vida sexual é muito importante e contribui muito para que o indivíduo tenha uma boa qualidade de vida. Dizer que o homem  é displicente com a saúde, eu diria que é uma verdade, embora ache que isso tenha melhorado nos últimos anos. Ele tem procurado mais auxílio médico, especialmente por causa das esposas, que ajudam muito nessa atitude. Além disso, a gente (SBU) tem feito campanhas públicas, e outras sociedades médicas além da imprensa ajudam muito o homem a procurar o médico e a prevenir doenças.

Como explicar tamanho desconhecimento dos homens do funcionamento do próprio organismo?
A ignorância dos homens em relação ao próprio organismo se deve ao fato de eles não procurarem o médico. Eu diria que até por medo, por receio de ficar investigando muito a fundo e descobrir coisas que ele não gostaria de saber, como uma doença, ou que o estilo de vida dele não é salutar em relação à alimentação ou ao sedentarismo. Ele não quer saber a verdade.

"A ignorância dos homens em relação ao próprio organismo se deve ao fato de eles não procurarem o médico.”
Eduardo Bertero, urologista

Saiba mais:

Fonte: Sociedade Brasileira de Urologia e Bayer.