Entre os momentos ou sentimentos mais complexos pelos quais passamos está o luto. Perder alguém querido traz à tona uma série de emoções, independentemente das crenças pessoais. Cada indivíduo vivencia a situação de uma maneira e, mesmo tendo a capacidade de vocalizar o que experimentamos, temos dificuldade em nos fazer entender. Imagine quando não se pode falar? Os animais também passam por sensações semelhantes quando perdem seus tutores ou amigos pets. Mudanças de comportamento são os sinais que eles usam para nos mostrar que algo está errado.
O lhasa apso Akiles, 10 anos, sofreu três grandes rupturas no ano passado e acabou deprimido. Os dois gatos com os quais conviveu grande parte da vida faleceram com meses de diferença, deixando o cachorrinho solitário. Alfredo tinha 19 anos e morreu de causas naturais, em maio. Em agosto, foi a vez de Abelardo deixar a família. Com 10 anos, o felino foi vítima de uma anemia rara e de difícil tratamento.
Entre a morte dos dois amigos, Akiles se separou também de uma de suas donas, que mudou de cidade. A estudante Tainá Ivo Calvo de Araújo, 22 anos, conta que sua mãe cuidava do cachorro com ela e foi para a Paraíba no início de julho, abalando ainda mais as emoções do animal.
Considerado um cachorro idoso, ele sofreu. Além de perder parte da vitalidade e do entusiasmo, teve o apetite diminuído. O veterinário o diagnosticou com depressão leve e fez um tratamento com florais. “Estimulamos que ele passeasse mais e, como ele sempre gostou de comida junto com a ração, o deixamos comer só o que queria para ficar mais animado”, afirma Tainá.
Dois meses depois de perder Abelardo, Akiles ganhou um novo amigo felino e, hoje, quatro gatinhos fazem companhia para a família. “Ele se dá bem com todos, nunca foi agressivo e, agora, está muito mais animado. Ele melhorou muito”, comemora a estudante.
As reações de Akiles ao vivenciar o luto estão dentro de um padrão esperado quando um pet passa por esse tipo de trauma. A diminuição de apetite e a prostração são comportamentos esperados, apesar de alguns animais apresentarem atitudes agitadas e ansiosas. Segundo a terapeuta canina Daniele Graziani, uivos, latidos, lambedura psicogênica e comportamento destrutivo também são algumas das formas pelas quais os animais manifestam o luto. Em alguns, a tristeza pela separação resulta em depressão. A doença pode ser menos agressiva como no caso de Akiles, mas, quando não é tratada adequadamente pode evoluir rapidamente, dificultando a recuperação do pet.
Companheiro até o fim
O filme Sempre ao seu lado é inspirado na história real do cachorro japonês Hachiko. O filhote de akita é adotado pelo professor Parker Wilson, interpretado por Richard Gere, e se torna seu melhor amigo. Todos os dias, Hachiko o acompanha até a estação de trem e o espera voltar do trabalho, sempre no mesmo lugar. Uma tarde, Hachiko se recusa a acompanhar Parker e tenta impedi-lo de sair de casa. No trabalho, o professor sofre um ataque cardíaco e morre. Desde então, durante nove anos, o cão nunca deixa a estação, aguardando, pacientemente, pela volta de seu companheiro.
Como eles entendem a perda?
Apesar das manifestações nítidas de tristeza e de sofrimento, os especialistas afirmam não ser possível garantir se os animais têm consciência da morte do dono ou do amigo, ou se apenas sofrem com a sua ausência. “Alguns parecem demonstrar maior percepção da morte. Há relatos de cães que se colocam próximos ao corpo, que invadem velórios, cemitérios e se recusam se afastar dos seus afetos”, menciona Daniele. A percepção, no entanto, é rara.
O especialista em comportamento canino Renato Buani relata que o mais comum é que o animal apresente um sentimento de espera. “Eles ficam aguardando a volta daquela pessoa, e isso pode se transformar em algo que vemos como próximo da tristeza. Mas, na maioria das vezes, eles não entendem que o dono se foi para sempre”, afirma. A terapeuta canina Daniele complementa: “É difícil afirmar com certeza, mas os animais não ficam avaliando o motivo pelo qual estão tristes. Eles apenas sentem a ausência.”
Em casos assim, o animal, além de sentir a separação de seu tutor e de não compreender que ela é definitiva, sente falta da rotina com o dono. “Ele não fica esperando só a pessoa, mas também o que fazia quando estavam juntos. Se era um passeio ou uma brincadeira, todo dia, no mesmo horário, o cachorro vai aguardar por aquele momento”, explica Buani.
Os animais estão habituados a manter um comportamento condicionado. Se todos os dias ele se senta, aguarda pelo dono e depois sai para passear, vai ter dificuldade de entender que, no dia seguinte, quando repetir seu comportamento, não terá o mesmo resultado. De acordo com Renato, isso cria uma ruptura na rotina do pet, levando a uma baixa comportamental. A mudança da intensidade de comportamento é um grande indicador da tristeza do animal. “Muitos deles chegam a chorar quando começam a perceber que o dono não volta”, conta Renato.
Cuidados
Para ajudar o animal a passar pelo processo de luto é preciso ter paciência. Quando o bicho perde um dos tutores, o ideal é que continue morando na mesma casa, com a mesma família. Nos casos em que o pet vivia só com o falecido, a sugestão é que o leve para morar em um lar com a mesma energia. “Se a família anterior era muito agitada, uma casa com pessoas agitadas é a melhor combinação”, explica Renato.
O especialista acrescenta ainda que estudos recentes mostram que animais que se mudam para lares com outros pets tendem a se adaptar mais rapidamente. Manter a rotina o mais normal possível também auxilia no processo de cura, assim como não validar o sofrimento do bicho. Segundo Renato, “deixar o animal no cantinho dele” e enchê-lo de carinho pode não ser o ideal. “Se ele fica triste, e prostrado e recebe carinho, pode encarar isso como recompensa e perpetuar o comportamento depressivo.” O afago é extremamente importante, mas deve ser feito nos momentos adequados para não atrapalhar o processo de superação do luto. O especialista afirma que o ideal é agir de forma natural, trazendo o pet para uma rotina normal, estimulando as brincadeiras com as quais ele está acostumado.
O lhasa apso Akiles, 10 anos, sofreu três grandes rupturas no ano passado e acabou deprimido. Os dois gatos com os quais conviveu grande parte da vida faleceram com meses de diferença, deixando o cachorrinho solitário. Alfredo tinha 19 anos e morreu de causas naturais, em maio. Em agosto, foi a vez de Abelardo deixar a família. Com 10 anos, o felino foi vítima de uma anemia rara e de difícil tratamento.
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Considerado um cachorro idoso, ele sofreu. Além de perder parte da vitalidade e do entusiasmo, teve o apetite diminuído. O veterinário o diagnosticou com depressão leve e fez um tratamento com florais. “Estimulamos que ele passeasse mais e, como ele sempre gostou de comida junto com a ração, o deixamos comer só o que queria para ficar mais animado”, afirma Tainá.
Dois meses depois de perder Abelardo, Akiles ganhou um novo amigo felino e, hoje, quatro gatinhos fazem companhia para a família. “Ele se dá bem com todos, nunca foi agressivo e, agora, está muito mais animado. Ele melhorou muito”, comemora a estudante.
As reações de Akiles ao vivenciar o luto estão dentro de um padrão esperado quando um pet passa por esse tipo de trauma. A diminuição de apetite e a prostração são comportamentos esperados, apesar de alguns animais apresentarem atitudes agitadas e ansiosas. Segundo a terapeuta canina Daniele Graziani, uivos, latidos, lambedura psicogênica e comportamento destrutivo também são algumas das formas pelas quais os animais manifestam o luto. Em alguns, a tristeza pela separação resulta em depressão. A doença pode ser menos agressiva como no caso de Akiles, mas, quando não é tratada adequadamente pode evoluir rapidamente, dificultando a recuperação do pet.
Companheiro até o fim
O filme Sempre ao seu lado é inspirado na história real do cachorro japonês Hachiko. O filhote de akita é adotado pelo professor Parker Wilson, interpretado por Richard Gere, e se torna seu melhor amigo. Todos os dias, Hachiko o acompanha até a estação de trem e o espera voltar do trabalho, sempre no mesmo lugar. Uma tarde, Hachiko se recusa a acompanhar Parker e tenta impedi-lo de sair de casa. No trabalho, o professor sofre um ataque cardíaco e morre. Desde então, durante nove anos, o cão nunca deixa a estação, aguardando, pacientemente, pela volta de seu companheiro.
Como eles entendem a perda?
Apesar das manifestações nítidas de tristeza e de sofrimento, os especialistas afirmam não ser possível garantir se os animais têm consciência da morte do dono ou do amigo, ou se apenas sofrem com a sua ausência. “Alguns parecem demonstrar maior percepção da morte. Há relatos de cães que se colocam próximos ao corpo, que invadem velórios, cemitérios e se recusam se afastar dos seus afetos”, menciona Daniele. A percepção, no entanto, é rara.
O especialista em comportamento canino Renato Buani relata que o mais comum é que o animal apresente um sentimento de espera. “Eles ficam aguardando a volta daquela pessoa, e isso pode se transformar em algo que vemos como próximo da tristeza. Mas, na maioria das vezes, eles não entendem que o dono se foi para sempre”, afirma. A terapeuta canina Daniele complementa: “É difícil afirmar com certeza, mas os animais não ficam avaliando o motivo pelo qual estão tristes. Eles apenas sentem a ausência.”
Em casos assim, o animal, além de sentir a separação de seu tutor e de não compreender que ela é definitiva, sente falta da rotina com o dono. “Ele não fica esperando só a pessoa, mas também o que fazia quando estavam juntos. Se era um passeio ou uma brincadeira, todo dia, no mesmo horário, o cachorro vai aguardar por aquele momento”, explica Buani.
Os animais estão habituados a manter um comportamento condicionado. Se todos os dias ele se senta, aguarda pelo dono e depois sai para passear, vai ter dificuldade de entender que, no dia seguinte, quando repetir seu comportamento, não terá o mesmo resultado. De acordo com Renato, isso cria uma ruptura na rotina do pet, levando a uma baixa comportamental. A mudança da intensidade de comportamento é um grande indicador da tristeza do animal. “Muitos deles chegam a chorar quando começam a perceber que o dono não volta”, conta Renato.
Cuidados
Para ajudar o animal a passar pelo processo de luto é preciso ter paciência. Quando o bicho perde um dos tutores, o ideal é que continue morando na mesma casa, com a mesma família. Nos casos em que o pet vivia só com o falecido, a sugestão é que o leve para morar em um lar com a mesma energia. “Se a família anterior era muito agitada, uma casa com pessoas agitadas é a melhor combinação”, explica Renato.
O especialista acrescenta ainda que estudos recentes mostram que animais que se mudam para lares com outros pets tendem a se adaptar mais rapidamente. Manter a rotina o mais normal possível também auxilia no processo de cura, assim como não validar o sofrimento do bicho. Segundo Renato, “deixar o animal no cantinho dele” e enchê-lo de carinho pode não ser o ideal. “Se ele fica triste, e prostrado e recebe carinho, pode encarar isso como recompensa e perpetuar o comportamento depressivo.” O afago é extremamente importante, mas deve ser feito nos momentos adequados para não atrapalhar o processo de superação do luto. O especialista afirma que o ideal é agir de forma natural, trazendo o pet para uma rotina normal, estimulando as brincadeiras com as quais ele está acostumado.