"É uma primeira etapa em direção a um tratamento capaz de frear a transmissão da doença", afirmou Hengli Tang, professor da Universidade do Estado da Flórida (FSU), nos Estados Unidos, que dirigiu o estudo.
Os pesquisadores americanos fizeram um seleção rigorosa entre 6.000 moléculas já aprovadas nos Estados Unidos e que são objeto de testes clínicos.
"Nos concentramos nas moléculas mais próximas a uma utilização clínica", explica Tang.
Durante trabalhos realizados em laboratórios com células infectadas pelo zika, os pesquisadores descobriram duas classes de substâncias, uma capaz de bloquear a multiplicação do vírus e a outra de impedir a morte dessas células.
A primeira categoria inclui a niclosamida, a substância ativa de medicamentos comercializados há meio século para o tratamento da tênia.
Na segunda classe se encontra o emricasan, um tratamento experimental para fibrose hepática, atualmente objeto de testes clínicos.
As duas classes de substâncias se mostraram eficazes antes e depois da exposição ao zika, e com benefícios importantes quando foram utilizadas de maneira conjunta.
Apesar da niclosamida ser bem tolerada e não apresentar riscos para o feto, de acordo com estudos feitos com animais, os pesquisadores não a recomendam para mulheres grávidas.
"Ainda não há provas de que a niclosamida seja eficaz.
Em relação ao emricasan, este ainda deve "seguir o processo normal de desenvolvimento dos medicamentos, e isso ainda vai levar algum tempo", acrescentou.
Não existe nenhuma vacina nem tratamento contra o zika, que causa sintomas brandos como erupção cutânea, dor articular e infecção ocular. Em 80% dos casos, a infecção passa despercebida.
No entanto, o vírus é particularmente perigoso para as mulheres grávidas, visto que pode causar danos permanentes ao feto em desenvolvimento, incluindo a microcefalia, uma má-formação congênita que faz com que os bebês nasçam com a cabeça anormalmente pequena e que prejudica o desenvolvimento cerebral.
O zika pode provocar também transtornos neurológicos em adultos, como a síndrome de Guillain-Barré, que afeta os nervos periféricos e pode provocar uma paralisia progressiva.
Transmitido principalmente pelo mosquito Aedesaegypti, mas também por contato sexual, o vírus provocou no ano passado uma epidemia que se espalhou rapidamente pela América Latina.
O Brasil, o país mais afetado, já registrou cerca de 1,5 milhão de pessoas infectadas e mais de 1.700 casos de recém-nascidos com microcefalia.
A niclosamida poderia ser utilizada não só em mulheres grávidas, mas também "para reduzir a carga viral entre os homens e as mulheres não grávidas, o que reduziria a transmissão do zika e poderia, além disso, evitar casos de síndrome de Guillain-Barré e outras complicações entre os humanos", segundo os pesquisadores.
"Nossas descobertas e as ferramentas que provemos devem fazer avançar de maneira significativa a pesquisa atual sobre o zika, e ter um efeito imediato sobre o desenvolvimento de tratamentos" contra o vírus, concluem os cientistas..