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Experimento contra Alzheimer anima cientistas Mirtilo se mostra um aliado contra o AlzheimerMemória perdida por Alzheimer pode ser recuperada Em feito inédito, cientistas detectam mudanças que ocorrem no cérebro das pessoas antes do surgimento do Alzheimer'Doença de cobre' faz jovem desmarcar casamentoRemédio promissor para Alzheimer tem potencial para reverter a doençaAlzheimer está estabilizado em países ricosNova droga traz benefícios cognitivos a pacientes com mal de AlzheimerEssa proteína é uma velha conhecida dos pesquisadores do Laboratório de Farmacologia e Terapêutica Experimental da UFSC. Contudo, não se sabia que ela também existia no cérebro.
Como esse receptor, que se localiza na superfície das células, se encontra superativado em pessoas com processos inflamatórios — e o Alzheimer é caracterizado por inflamações celulares —, a pesquisadora desconfiou que o acharia no cérebro. “Vi que não tinha nenhum trabalho na literatura mostrando que ele também poderia estar expresso no encéfalo”, conta. Então, Maíra A.
Para responder a essas questões, a pesquisadora utilizou diferentes modelos de estudo, começando pelo mais básico, a cultura de células. Depois, partiu para os modelos animais, induzindo em camundongos os sinais da fase inicial da doença e, em seguida, dos estágios mais avançados. A jovem cientista viu que estava certa. Ela descobriu a TRPA1 no cérebro e constatou que, como mecanismo de defesa, tentando evitar a progressão da enfermidade, as células passam a ativá-la exageradamente. Contudo, o que acontece é o oposto: “Esse excesso mata os neurônios”.
“Ela encontrou a proteína em um lugar que ninguém esperava, abrindo a possibilidade de que isso possa ajudar a controlar o Alzheimer”, diz João Batista Calixto, que orientou a pesquisadora. “O trabalho é inédito e tem grande relevância por ser um achado completamente novo. Ninguém saiu na frente da Maíra”, diz.
Além do diagnóstico, o trabalho da cientista catarinense poderá ajudar no desenvolvimento de futuros tratamentos de uma doença para a qual, até hoje, não existe medicamento específico. “Quando peguei o modelo de rato com sinais avançados de Alzheimer e o tratei com um bloqueador da TRPA1, que inibe essa proteína, vi, pelo contraste, que ela diminuiu muito”, conta a Maíra A. Bicca, que aguarda a publicação de um novo artigo com o resultado na revista Nature Neuroscience.
Parceria nos EUA
A primeira parte da pesquisa durou três anos e foi feita no Brasil. Durante o doutorado, Maíra A. Bicca ganhou uma bolsa do programa Ciência sem Fronteiras e passou 12 meses na Universidade de Northwestern, nos EUA, onde trabalhou com um banco de cérebros, que armazena tecidos humanos, incluindo os de pacientes de Alzheimer. Ao comparar as amostras de indivíduos sem a doença e aqueles com sinais claros do mal degenerativo, como a presença de placas da proteína beta-amiloide e redução expressiva de neurônios, a cientista percebeu que, no segundo caso, havia uma expressão anormal da TRPA1.
A passagem pela instituição norte-americana não permitiu apenas confirmar a presença do receptor no cérebro de humanos com Alzheimer. A então doutoranda brasileira participou de um grupo de pesquisa que desenvolveu um tipo de contraste que, injetado pelo nariz do paciente, permite identificar, por uma simples ressonância magnética, proteínas beta-amiloide isoladas no cérebro.
Embora as placas dessa substância estejam associadas à destruição dos neurônios, antes de se agregarem, elas são mais tóxicas ainda, e encontrá-las nesse estágio poderia, ao menos teoricamente, indicar o momento de uma intervenção terapêutica. “Fizemos testes com humanos e tivemos sucesso. Agora, tentamos usar o contraste para reconhecer também a TRPA1”, conta a pesquisadora, que continua colaborando com o grupo e publicou, com os colegas norte-americanos, um estudo na renomada revista Nature;
Carreira guiada pela curiosidade
Natural de Laguna, a 120km de Florianópolis, a jovem cientista conta que nasceu com o gosto pela ciência.
No segundo semestre, viu um anúncio no quadro de avisos para estágio de iniciação científica no laboratório de João Batista Calixto, um dos mais renomados cientistas brasileiros e, agora, professor aposentado da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Como sempre teve grande interesse pelo sistema nervoso central, a estudante de graduação ficou encantada em investigar justamente o Alzheimer. "Tenho caso na família, uma avó que não me reconhece mais. É uma doença devastadora, me motiva a poder ajudar os pacientes", afirma.
O dia a dia no laboratório abriu novos horizontes para Maíra, que nunca mais se afastou de lá. Engatou o mestrado e o doutorado, sob orientação de Calixto, e, agora, faz pós-doutorado na UFSC. Curiosamente, ela só soube do Prêmio Jovem Talento em Ciências da Vida na véspera do encerramento das inscrições. O doutorado sobre a TRPA1, lhe rendeu o prêmio, em junho.
O diretor de negócios da GE Life Sciences para América Latina, Gyvair Molinari, acredita que o reconhecimento vai abrir mais portas para a pesquisadora, que foi contemplada com US$ 2 mil e o convite para participar de qualquer congresso científico que escolher.