Segundo a equipe liderada por Andrew McIntosh, a contribuição genética para a dor crônica resulta da ação integrada de diversos fatores de risco ligados aos genes, com herdabilidade de 38,4%. Os efeitos cumulativos desses elementos de vulnerabilidade genética para a DDM também aumentam a chance de DC. McIntosh considera a associação uma descoberta inesperada. “Até a data, ela não havia sido rastreada em estudos do tipo. Nossos achados sugerem que existe uma relação genética potencialmente importante”, diz.
A pesquisa foi baseada em dados de 23.960 indivíduos do estudo nacional escocês Generation Scotland: Scottish Family Health Study e também em informações fenotípicas e genotípicas de 112.151 indivíduos do United Kingdom Biobank — estudo britânico que investiga contribuições genéticas e ambientais para o desenvolvimento de doenças.
Uma explicação alternativa aponta que a vida conjugal reflete o impacto do ambiente compartilhado pelo casal. “Cônjuges estão em um grupo em que se presume viver junto, com criação conjunta de crianças. A correlação entre marido e esposa pode ser também uma doença infecciosa comum, além de mesma dieta, privações, passatempos, entre fatores partilhados que ainda não identificamos. Além disso, o efeito do acasalamento assortativo não pode ser excluído”, observa McIntosh.
A teoria do acasalamento assortativo sustenta que os casais, ao se unirem, obedecem a um padrão regido pela seleção natural, no qual indivíduos de genótipos e/ou fenótipos parecidos se atraem com mais frequência do que aqueles com padrões aleatórios. Segundo os autores, identificar exatamente os mecanismos relevantes para dor crônica e distúrbio da depressão maior é crucial para o desenvolvimento de novos tratamentos para ambas doenças. “A resposta a essas perguntas-chave pode sinalizar novas direções de intervenções terapêuticas, além de destacar os sintomas que são mais sensíveis ao tratamento e à prevenção”, ressalta McIntosh.
Contraprova
O geneticista Gustavo Guida ressalta que os resultados são robustos por contar com dados de origens diferentes, o que permitiu aos autores terem, dentro do próprio estudo, uma contraprova de resultados, comparando informações dos dois bancos de dados. “Eles imaginaram que, se os resultados aparecessem em apenas um dos grupos, não seriam válidos. Ter dois referenciais permitiu que eles comparassem e testassem esses achados”, explica o especialista do Laboratório Exame, em Brasília.
Embora alguns fatores genéticos e ambientais tenham sido encontrados pela equipe de McIntosh, há cerca de 40% outros que ainda não foram identificados, calcula Guida. “Ainda tem muitos genes e variantes para serem descritos e, durante essa especificação, pode ser que encontrem fatores mais prevalentes. No momento em que eles se tornarem conhecidos, poderão ser desenvolvidos testes preditivos e alvos farmacológicos que interfiram nos mecanismos dessas condições. Essa é uma abordagem da medicina de precisão, que já é bem desenvolvida na pesquisa de tumores com perfil oncogenético.”
Males diversos
Os tipos mais comuns de dor crônica são a neuropática, a fibromialgia e a artrite reumatoide (AR). A neuropática é causada por uma lesão ou disfunção do sistema nervoso, que transmite e interpreta o estímulo exageradamente.
Há basicamente dois tipos de depressão: a reativa e a maior. A primeira é desencadeada por um evento triste ou traumático, como a morte de um ente querido. Em muitos casos, a medicação é dispensável e, quando necessária, não tem administração crônica. A depressão maior, por sua vez, não surge por evento ou motivo aparente. Estudos identificaram que pacientes com essa forma do distúrbio têm desequilíbrios neuroquímicos e rebaixamento no fluxo de neurotransmissores, necessitando, portanto, de medicação crônica para regular a função cerebral..