O leite materno é conhecido como um dos alimentos mais completos e essenciais para o início da vida humana, mas seu alto valor nutritivo pode sofrer mudanças de acordo com o tempo de gestação. Taxas mais altas de macronutrientes — como lipídios, carboidratos e proteínas — no leite de mães de prematuros eram conhecidas por médicos e estudiosos. Agora, um estudo dinamarquês detectou níveis baixos de micronutrientes, os metabólitos, no leite dessas mulheres. Esses compostos também interferem no desenvolvimento da criança, alerta a equipe em artigo divulgado recentemente na publicação científica Journal Nutrients.
Para a pesquisa, os autores desenvolveram uma metodologia capaz de detectar micronutrientes no leite de outras espécies, principalmente vacas. “Em seguida, por meio de colaboradores na Irlanda que tinham acesso a algumas amostras de leite materno de mães que deram à luz prematuramente, montamos esse estudo”, contou ao Correio Ulrik Kræmer Sundekilde, do Departamento de Ciência dos Alimentos da Universidade de Aarhus e um dos autores do estudo.
No experimento, foi analisado o conteúdo metabólito de amostras de leite de 45 mulheres — parte delas com filhos prematuros e outra que teve uma gestação completa — durante um período de 14 semanas após o parto. Constatou-se que o leite de mulheres que tiveram filhos antes do tempo tinha uma composição ainda mais distinta do que o das outras participantes. “Sabe-se que o leite materno de mães de prematuros é diferente, mas, até agora, apenas os macronutrientes tinham sido investigados. Nosso estudo descobriu que outros nutrientes de suma importância também são alterados”, detalhou o autor.
Hermínio de Paula Ramos, imunologista e alergista pediátrico da clínica AleRgria, em Brasília, observa que o estudo dinamarquês traz novos dados quanto a elementos essenciais para o desenvolvimento do bebê prematuro. “Entre os micronutrientes, estão aminoácidos essenciais, glutamatos, entre outros, que são muito importantes para a proteção do bebê porque influenciam em pontos importantes para o crescimento dele, como a formação do sistema imunológico do corpo”, detalhou.
Os investigadores ainda não sabem a razão das composições distintas, mas levantam algumas hipóteses. “Nós acreditamos que o leite de mães com bebês prematuros (nascimento antes de 37 semanas de gestação) é diferente porque as glândulas mamárias dessas mulheres não estão prontas para produzi-lo completamente. Outra possibilidade é que, talvez, a natureza tenha ‘concebido’ esse leite materno de forma adaptada à situação prematura, um suplemento mais adequado para as necessidades nutricionais desses bebês”, detalhou Sundekilde.
Personalização
A análise também mostrou que, algumas semanas após o nascimento dos bebês, a composição do leite das mães de prematuros se tornou um pouco mais semelhante à das que tiveram os filhos no momento indicado. Ainda assim, os níveis de alguns micronutrientes essenciais permaneceram baixos. Diante da variabilidade de composições, os cientistas apostam que o maior ganho do estudo seja a possibilidade de personalizar o leite materno, o que poderia gerar um alimento ainda mais completo para cada recém-nascidos.
“Apesar de, na maioria das vezes, os níveis de macronutrientes serem mais altos no leite de mães de prematuros, pode ocorrer de algum composto estar em baixa e, quando isso acontece, realizamos alterações. Esse novo método nos permite analisar se isso também pode ser feito com relação ao conteúdo de micronutrientes. Sabemos que é tecnicamente possível, a maioria dos hospitais dinamarqueses tem o equipamento necessário, mas há uma necessidade significativa de mais pesquisas”, detalhou o autor.
Ramos também acredita que os achados poderão ajudar em possíveis alterações no leite materno. “Sabemos que o de mães de prematuros também pode ter uma quantidade menor de carboidratos, que são adicionados quando necessários para que o bebê não tenha o peso baixo. Nesse caso, com o que os cientistas mostraram, o mesmo seria feito com os micronutrientes em busca de mais benefícios nutricionais”, detalhou o especialista. “Mas é necessário termos pesquisas mais amplas, com um número maior de voluntários e que mostrem se essa diferença ocorre em toda a população. Temos que saber também se, ao adicionarmos esses micronutrientes em uma customização do leite, isso realmente gerará algum tipo de benefício”, complementou.
Sundekilde ressalta que mais informações quanto aos micronutrientes são necessárias para que a personalização funcione. “Acreditamos em seu grande nível de importância na nutrição, principalmente por estarem presentes em uma situação em que o bebê precisa de um reforço protetivo, mas ainda precisamos identificar os metabolitos mais significativos na nutrição infantil”, destacou.
A equipe vai se focar, agora, em uma análise mais aprofundada das descobertas. “Buscamos um financiamento a fim de realizar uma análise que dure anos, com a inclusão de mais mulheres, em que também queremos analisar os prematuros durante o desenvolvimento deles. Pretendemos comparar o desenvolvimento infantil com diferentes formas de nutrição — o leite materno e as fórmulas infantis usadas para alimentação do grupo”, adiantou o autor.
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No experimento, foi analisado o conteúdo metabólito de amostras de leite de 45 mulheres — parte delas com filhos prematuros e outra que teve uma gestação completa — durante um período de 14 semanas após o parto. Constatou-se que o leite de mulheres que tiveram filhos antes do tempo tinha uma composição ainda mais distinta do que o das outras participantes. “Sabe-se que o leite materno de mães de prematuros é diferente, mas, até agora, apenas os macronutrientes tinham sido investigados. Nosso estudo descobriu que outros nutrientes de suma importância também são alterados”, detalhou o autor.
Hermínio de Paula Ramos, imunologista e alergista pediátrico da clínica AleRgria, em Brasília, observa que o estudo dinamarquês traz novos dados quanto a elementos essenciais para o desenvolvimento do bebê prematuro. “Entre os micronutrientes, estão aminoácidos essenciais, glutamatos, entre outros, que são muito importantes para a proteção do bebê porque influenciam em pontos importantes para o crescimento dele, como a formação do sistema imunológico do corpo”, detalhou.
Os investigadores ainda não sabem a razão das composições distintas, mas levantam algumas hipóteses. “Nós acreditamos que o leite de mães com bebês prematuros (nascimento antes de 37 semanas de gestação) é diferente porque as glândulas mamárias dessas mulheres não estão prontas para produzi-lo completamente. Outra possibilidade é que, talvez, a natureza tenha ‘concebido’ esse leite materno de forma adaptada à situação prematura, um suplemento mais adequado para as necessidades nutricionais desses bebês”, detalhou Sundekilde.
Personalização
A análise também mostrou que, algumas semanas após o nascimento dos bebês, a composição do leite das mães de prematuros se tornou um pouco mais semelhante à das que tiveram os filhos no momento indicado. Ainda assim, os níveis de alguns micronutrientes essenciais permaneceram baixos. Diante da variabilidade de composições, os cientistas apostam que o maior ganho do estudo seja a possibilidade de personalizar o leite materno, o que poderia gerar um alimento ainda mais completo para cada recém-nascidos.
“Apesar de, na maioria das vezes, os níveis de macronutrientes serem mais altos no leite de mães de prematuros, pode ocorrer de algum composto estar em baixa e, quando isso acontece, realizamos alterações. Esse novo método nos permite analisar se isso também pode ser feito com relação ao conteúdo de micronutrientes. Sabemos que é tecnicamente possível, a maioria dos hospitais dinamarqueses tem o equipamento necessário, mas há uma necessidade significativa de mais pesquisas”, detalhou o autor.
Ramos também acredita que os achados poderão ajudar em possíveis alterações no leite materno. “Sabemos que o de mães de prematuros também pode ter uma quantidade menor de carboidratos, que são adicionados quando necessários para que o bebê não tenha o peso baixo. Nesse caso, com o que os cientistas mostraram, o mesmo seria feito com os micronutrientes em busca de mais benefícios nutricionais”, detalhou o especialista. “Mas é necessário termos pesquisas mais amplas, com um número maior de voluntários e que mostrem se essa diferença ocorre em toda a população. Temos que saber também se, ao adicionarmos esses micronutrientes em uma customização do leite, isso realmente gerará algum tipo de benefício”, complementou.
Sundekilde ressalta que mais informações quanto aos micronutrientes são necessárias para que a personalização funcione. “Acreditamos em seu grande nível de importância na nutrição, principalmente por estarem presentes em uma situação em que o bebê precisa de um reforço protetivo, mas ainda precisamos identificar os metabolitos mais significativos na nutrição infantil”, destacou.
A equipe vai se focar, agora, em uma análise mais aprofundada das descobertas. “Buscamos um financiamento a fim de realizar uma análise que dure anos, com a inclusão de mais mulheres, em que também queremos analisar os prematuros durante o desenvolvimento deles. Pretendemos comparar o desenvolvimento infantil com diferentes formas de nutrição — o leite materno e as fórmulas infantis usadas para alimentação do grupo”, adiantou o autor.