O churrasco do fim de semana, a festa mais badalada da cidade, o show imperdível: nada disso parece ter o apelo de um bom livro, com a trilha sonora do álbum preferido. Almoçar com os amigos de trabalho parece não ter tanta graça quanto aproveitar o horário livre para meditar e refletir. Muitas vezes interpretados como antissociais, antipáticos ou esquisitos, os introvertidos só precisam de alguns momentos sozinhos. Ironicamente, cada vez mais eles estão se unindo. Em 2012, a escritora norte-americana Susan Cain lançou O poder dos quietos (Ed. Nova Fronteira), uma compilação de estudos e reflexões sobre a forma como os introvertidos são tratados e encarados pela sociedade.
O levante iniciado por Susan se deu por acaso. À época, o livro fez tanto sucesso e barulho entre quem estava acostumado a ficar quieto que assustou a própria idealizadora do projeto. No site oficial da escritora, ela conta que, assim que a obra foi lançada, sua caixa de e-mails não parou de receber mensagens. Crianças, adultos, médicos, professores, estudantes, pais, avós: de repente, introvertidos de todas as idades, profissões e partes do mundo começaram a sair da toca. “Todas as mensagens diziam a mesma coisa: até aquele momento, essas pessoas se sentiam sozinhas e estavam maravilhadas em descobrir que faziam parte de uma tribo vasta e distinta”, escreveu Susan. “Pela primeira vez em suas vidas, haviam recebido permissão para serem elas mesmas.”
Os retraídos não queriam apenas desabafar. Queriam ação, dicas de como se adaptar a um mundo barulhento; como se relacionar com extrovertidos; como fazer com que os filhos reclusos brinquem com outras crianças. A demanda foi tamanha que Susan teve a ideia de reunir um time para dar vazão aos pedidos. A empresa criada por ela se expandiu. Atualmente, a Quiet Revolution segue diferentes linhas de trabalho, que vão de assessoria empresarial a uma “ferramenta de avaliação de personalidade”, teste para descobrir se o indivíduo tende para a introversão, extroversão ou ambiversão (pessoas que reúnem características de ambos).
Canalizar os pensamentos em vias alternativas, que não a fala, é algo muito comum entre os acanhados. A escrita, em especial, é muito usada no lugar dos desabafos orais. Dani Fuller, 33 anos, mantém diversos grupos em redes sociais, blogs e sites sobre introversão e timidez. A economiária tem como objetivo espalhar para o mundo que não há nada errado em não ser expansiva.
Graças ao movimento Quiet Revolution, Dani encontrou “sua turma”. Antes de 2012, nunca havia passado por sua cabeça que a falta de manejo social não era um defeito, mas apenas uma característica de sua personalidade. “O livro me descrevia demais. Comecei a me entender melhor, saber de onde vêm meu comportamento e atitude”. Não saber quem era de verdade prejudicou mais suas relações interpessoais do que a própria introversão. Mesmo antenada e leitora voraz, ela confessa que não conhecia o termo a fundo. “Muitos que são introvertidos nem sabem também. E é aí que tudo dá errado. Se não compreendemos e aceitamos o outro, acontecem conflitos.”
Entender a si mesma foi fundamental para que Dani aprendesse a conviver — e a “explicar” — seu jeito para os outros.
Com a família, o problema também existe. “Nunca ouvi por aí pais que mandam o filho sair, mas os meus são assim — sempre acham que não estou aproveitando a vida ou que é absurdo eu não ter amigos”, descreve. “Antes, eu não sabia explicar. Agora, sei e mesmo assim eles não compreendem 100% a minha necessidade de querer estar em casa, que é o que eu realmente gosto. E ficar em casa não é sinônimo de ficar à toa ou de não aproveitar a vida.”
“Quando não entendia o que eu era, a toda hora só ouvia as reclamações por ser assim, e sentia a pressão para mudar, sofria demais. Chorava quase todo dia. Pensava em morrer, queria nascer de outro jeito ou dormir e acordar extrovertida para poder me encaixar, me adequar aos outros e aos lugares em que estava (escola, estágio, trabalho etc). A pior coisa que você pode fazer por si mesma é ignorar seu jeito e tentar ser igual aos demais. Isso não trará felicidade e muito menos funcionará. As pessoas não entendem esse jeito de ser mais quieto, que o tímido e o introvertido dividem. Parece sempre ter uma tendência a achar que tem algo errado com a pessoa. Sempre o obrigam a falar mais, mais alto, agir de forma mais aberta, ser mais participativo e por aí vai. No meu trabalho, já ouvi diversas vezes que nunca seria promovida agindo dessa forma. E aí eu me pergunto: ‘Qual forma? Ser eu mesma?’ Parece que não faz diferença se você trabalha bem: é preciso ser social, por mais que isso não tenha nada a ver com meu tipo de trabalho. Foi e é frustrante.” - Dani Fuller, 33 anos, economiária
Expediente sossegado
Helena Moura, psiquiatra membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) e da Associação Psiquiátrica de Brasília (APBr), comenta que a maioria dos modelos teóricos descreve introspecção como um comportamento mais inibido diante de situações que possam trazer algum tipo de risco, como frustração ou punição (perda financeira, por exemplo). “São pessoas que evitam contato social, temem trocar o certo pelo duvidoso, são mais pessimistas, reagem mais passivamente diante de um perigo (não levantam a mão em sala de aula quando o professor faz uma pergunta, por exemplo)”, enumera. Mas ser introvertido também tem lá suas vantagens: maior capacidade de concentração, interpretação e foco são apenas algumas das benesses de ser uma pessoa mais interiorizada.
Em uma pesquisa conduzida pelo Quiet Leadership Institute (empresa criada por Susan Cain), metade dos trabalhadores norte-americanos ouvidos se identificou como introvertido e 64% afirmaram que a empresa ou organização em que trabalham não aproveitam plenamente os talentos dos empregados com tais características. Em contrapartida, 96% dos líderes e gerentes se declararam extrovertidos. O que isso quer dizer? Que as equipes de liderança não representam, na maioria das vezes, a diversidade de personalidades da força de trabalho.
Mas por que isso acontece? Provavelmente, porque os introspectivos não deixam claro que estão interessados em cargos de chefia ou, pela própria personalidade mais recolhida, não passem a confiança necessária de que darão conta do recado. “Eles não se expõem, tendem a não socializar e, quando o fazem, geralmente não se dão bem em grupos”, resume o psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos, autor do livro Psicoterapia breve — abordagem sistematizada de situações de crise (Editora Ágora).
Na pesquisa feita pela empresa de Cain, apenas 30% dos trabalhadores afirmaram se sentir engajados em seu trabalho. Em outras palavras: 70% sentiam que não estavam trabalhando com seu potencial máximo. “Para eles, é muito difícil fazer o marketing pessoal. Eles se veem como perdedores sociais. Enquanto isso, muitos extrovertidos com menos capacidade vão para a frente, mantêm grupos sociais, ganham promoções, têm mais amizades e networkings.”
Outra razão, defendida por Susan Cain, é que o mundo corporativo é moldado pelos e para os extrovertidos. Reuniões em que as ideias de todos são “jogadas na mesa” ao mesmo tempo, por exemplo, podem inibir introvertidos de se pronunciarem. Para driblar essa dificuldade, o trabalho da Quiet Leadership Institute se baseia em três pilares: engajamento, inovação e liderança. Por meio de palestras e dinâmicas, os facilitadores bolam novas maneiras de introduzir os mais recatados nas decisões importantes das empresas.
Os introspectivos são, em geral, leitores vorazes, estudantes com grande capacidade crítica e profissionais detalhistas. O problema é colocar tudo isso para fora. “Os extrovertidos são o oposto. Por isso, às vezes, são até superficiais, porque passam por cima da reflexão”, compara o psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos.
Problemas na escola, no trabalho ou nas relações pessoais são os primeiros sinais de que a dificuldade talvez esteja passando do ponto. E isso causa prejuízos reais: a vergonha de apresentar trabalhos em grupo, por exemplo, pode se refletir em notas baixas. Não deixar claros os limites profissionais pode fazer com que o indivíduo trabalhe em excesso, fique com as tarefas mais complexas (ou desagradáveis) e até mesmo seja explorado por colegas de trabalho. Introvertidos também tendem a ter mais dificuldade em se relacionar profissionalmente, pondo em risco o precioso networking.
Além de ser introvertido, o assistente de importação documental Paulo Roberto, 25 anos, é tímido. Sua personalidade recolhida tem efeitos em todas as esferas da vida, mas, é no ambiente de trabalho, que os traços mais o incomodam. “Infelizmente, muitos cargos de baixa hierarquia não se encaixam com um perfil introvertido, então, é natural o recrutador sempre optar por um perfil extrovertido”, resume. Na faculdade, também se sentia deslocado, uma vez que a socialização afeta a realização de trabalhos em grupo, apresentações e notas.
Durante a infância e a adolescência, conviver com a introspecção era complicado. A vida adulta, porém, trouxe a maturidade necessária para lidar com eventuais entraves por estar sempre voltado para o lado de dentro. O divisor de águas para equilibrar seus relacionamentos profissionais foi entender o próprio perfil e as necessidades de cada posto de trabalho. “Há profissões e cargos nos quais os introvertidos tendem a naturalmente se dar melhor. Então, dá para minimizar os riscos com planejamento e possibilidades”, justifica.
Paulo Roberto expandiu o ensinamento para todos os seus relacionamentos. “Qualquer tentativa de socializar com perfis que não se encaixam ou combinam tem grande chance de ser frustrada”, defende. Hoje, o rapaz sabe impor seus próprios limites nos relacionamentos. A pressão por comportamentos que não o deixe confortável, por não ser de sua natureza, é o tipo de pressão que mais o aborrece.
“Minha família toda é introvertida (mãe e irmão), então, acredito que eu não tenha tido problemas com eles em relação a isso. Sempre tive poucos laços de amizade, pouquíssimos na verdade. Talvez, aí, a introversão tenha atrapalhado mais, uma vez que a grande maioria das pessoas com quem já tive o mínimo de contato têm um perfil totalmente diferente do meu, até mesmo oposto ao meu. Não que seja um problema, necessariamente, ser introvertido. Isso não é verdade. É tudo uma questão de compatibilidade. Se a maioria da população fosse introvertida, seriam os extrovertidos que teriam certos problemas para socializar.” - Paulo Roberto, 25 anos, assistente de importação documental
Amor introvertido
Relacionar-se com pessoas introvertidas pede delicadeza, uma boa dose de tato e paciência. O limite entre o cuidado, a preocupação e a não invasão do espaço alheio é frágil. O primeiro passo, segundo a psiquiatra Helena Moura, é entender que os momentos de isolamento podem ser uma escolha da pessoa, não uma limitação imposta pelo medo. Se o afastamento é causado pelo temor extremo de interagir, como acontece em casos de fobia social, é preciso ainda mais cautela. “É importante não forçá-los a passar por situações em que não se sintam à vontade, evitando deixá-los sozinhos numa festa, por exemplo”, ensina a médica. “Até o simples agendamento de uma consulta pode ser uma tarefa sofrível para um fóbico.”
Se, por um lado, ser mais cauteloso pode ser vantajoso em situações de perigo real, voltar-se para dentro de si o tempo todo pode fazer com que a pessoa sofra mais com ansiedade. As relações pessoais não raro ficam na corda bamba. Companheiros(as) de pessoas introvertidas reclamam de falta de mensagens durante o dia, telefonemas e tudo mais que envolva contato pessoal. O pessimismo também é uma realidade muito presente para os mais reservados.
Observação afiada, ouvidos atentos, racionalidade a todo vapor. Introspectivos, como o estudante Pedro Hanazaki, 22 anos, são pessoas emotivas mas, ao mesmo tempo, extremamente lógicas. “Um introvertido entende melhor como e por que as pessoas agem de certa maneira. Consegue analisar pessoas e ideias, e ter um feedback depois”, enumera. O problema, para ele, é justamente o excesso de pensamentos. Quando entram em seu próprio mundo de análises, é difícil focar na realidade externa, prestar atenção ao que está acontecendo ao redor. “Por isso, precisamos de um tempo a sós para sair desse estado”, explica.
Ainda assim, Pedro gosta de interagir. Na verdade, em um ambiente “seguro”, como em uma festa de amigos conhecidos, ele até chega a ser o centro das atenções. “O problema é que isso acaba sugando minha energia”, explica. De repente, a cabeça fica acelerada. Será que a história está interessante? Os outros estão entediados? Estou sendo egocêntrico, inconveniente? “É como uma energia mental que eu ativamente gasto quando me relaciono com os outros”, resume. “Não me considero tímido em circunstâncias normais, mas, quando a ansiedade e a autoanálise batem, fico bastante.”
Nessas horas, nada melhor do que fugir para um cantinho e recarregar as baterias. Mas o distanciamento ocasional, embora nada tenha a ver com mágoa ou ressentimentos, não raro gera sentimentos negativos em quem está do outro lado. Sem entender o motivo do “sumiço”, quem convive com um introspectivo às vezes se sente deixado de lado. “Consigo passar muito tempo sem falar com um amigo ou com os meus pais, mesmo gostando muito deles, mas as outras pessoas interpretam isso como uma tentativa de se afastar. Na minha cabeça, a amizade ainda é a mesma.” Quando o assunto é laços amorosos, a história tende a ficar ainda mais dramática. “Nunca duram muito, pois acabo ficando muito tempo sem mandar uma mensagem, o que acaba sendo meio frio, de certa forma.”
“Acho que todo introvertido já quis ser extrovertido, ao menos uma vez. Sempre que alguma interação social minha falhava, pensava em como queria ser diferente para lidar melhor com as pessoas e ter relações melhores. Com o tempo, percebi que o problema não estava na introversão e sim nos ataques de ansiedade que eu tinha. Às vezes, o problema era a pessoa com quem eu estava conversando, que dificultava a interação. Creio que você não deve jogar muitas informações para uma pessoa introvertida. Se você começa a falar sem parar, logo, ela se cansará e vai querer acabar com a interação. Procure fazer perguntas para os introvertidos e responda de acordo, em vez de ouvir e continuar a falar de você mesmo. Nunca pergunte para essa pessoa por que está quieta ou por que fala pouco. Só vai deixá-la mais ansiosa.” - Pedro Hanazaki, 22 anos, estudante
Embora a timidez seja uma característica comum aos introvertidos, os dois conceitos têm algumas diferenças sutis. Em ambos os casos, a interação social é comprometida: as duas características são comuns a pessoas que têm receio de se relacionar por medo de serem consideradas ridículas. Sentem-se incapazes de aprender o comportamento social, consideram-se desajeitadas e têm a autoestima seriamente diminuída. Mas, enquanto o tímido tem vergonha de se mostrar em público, o introspectivo é voltado para si mesmo, também, por conta de sua própria genética. “É uma genética complexa, que não envolve só genes, mas que define como é a personalidade da pessoa”, explica o psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos. “É uma pessoa que ouve inconscientemente um ‘não’. Toda vez que se oferece algo a ela, ela tende a evitar”, detalha.
Se para o tímido até estar entre pessoas conhecidas pode ser um martírio, o introspectivo é, geralmente, um bom ouvinte. O lado observador do introspectivo o torna um excelente detetive. Geralmente empáticos, os reflexivos conseguem captar, como antenas, as vibrações e emoções de seus interlocutores com precisão. Embora a interação social seja muitas vezes um sofrimento, o tímido nem sempre escolhe se recolher: fica de fora por puro medo. No caso dos introvertidos, o isolamento é intencional. Muitos, inclusive, chegam a ser confundidos com extrovertidos em situações de total “segurança”, como momentos com amigos muito íntimos ou familiares.
Quando a timidez traz prejuízo e sofrimento, há chances de a característica ser, na verdade, sintoma de fobia social, um transtorno psiquiátrico. Pessoas com esse problema, segundo a psiquiatra Helena Moura, ficam muito ansiosas diante de uma série de atividades que envolvem algum tipo de interação social, como conversar com alguém, em especial se for desconhecido, ou simplesmente estar em algum local onde possa ser observado por outros, como em um restaurante. “É natural se sentir pouco à vontade diante de pessoas desconhecidas ou em situações em que nos sentimos expostos, só que, para esses indivíduos, a reação tende a ser desproporcionalmente elevada”, completa.
A ansiedade, explica Helena Moura, às vezes, fica visível por meio de tremores nas mãos ou rubor facial, chamando ainda mais atenção e, realmente, causando estranheza em quem está ao redor. A partir daí, o ciclo vicioso está instaurado: o medo do constrangimento causa comportamentos inadequados (sabe aquela pessoa que passa a festa inteira sentada no mesmo lugar ou encostada na parede?), que causam constrangimento real (“não fiz nenhum amigo, devem me achar estranho mesmo”). E o problema só cresce.
João Paulo Costa, 27 anos, já desejou ser expansivo. A capacidade de ser assertivo, de se arriscar em busca de seus sonhos e de viver uma vida menos complicada (ao menos, aparentemente) já foram características almejadas, em um passado em que a aceitação de si mesmo ainda não era uma realidade. Mas, hoje, o servidor público consegue enxergar vantagens em encarar o mundo de dentro para fora. “Somos mais cautelosos e isso nos impede de tomar atitudes precipitadas, daquelas sem pensar com calma antes. Então, corremos menos risco de nos prejudicar.”
Quando criança, a dificuldade em se abrir, falar dos próprios sentimentos era um grande bicho-papão. Sem saber muito bem como lidar com a introspecção do filho, os pais dele, frequentemente, optavam por pular o assunto. “Eles achavam que eu não falaria sobre isso”, relembra João. Nos relacionamentos amorosos, demonstrar afeto era tarefa árdua. Exteriorizar o que estava dentro de si, em suma, é um fardo diário, mas que fica mais leve à medida que o medo dá lugar ao autoconhecimento. “Me relacionar com pessoas com personalidade diferente da minha é mais complicado porque não entendem o meu jeito de ser.”
Proteger-se da dor, contudo, não é garantia de que algo bom acontecerá. No âmbito profissional, essa máxima é ainda mais escancarada. “Hoje em dia, para se dar bem, é muito importante fazer networking. Como prefiro viver mais recluso, me sinto prejudicado”, justifica João. Participar de projetos em grupo e apresentações é sempre complicado. Para compensar, ele se apoia em uma grande vantagem dos introvertidos: saber ouvir. “Ser um bom ouvinte é importantíssimo para entender o que o outro quer”, reforça.
“A diferença entre a timidez e a introversão é que, no primeiro caso, a pessoa sente vergonha em se expor, tem medo de ser julgada. O tímido quer participar dos eventos sociais, mas não faz por medo. Já o introvertido consegue ser social sem sofrer de medo ou de ansiedade, mas prefere ficar sozinho. Introvertidos não têm problema em socializar, pelo menos não por muito tempo. Eles se desgastam e precisam ficar sozinhos depois de um certo tempo socializando para repor as energias. Isso acontece porque é da natureza introvertida contemplar a solidão e, assim, a pessoa se sente mais energizada. Acontece que as pessoas não sabem disso e acham que os introvertidos têm medo de socializar. Acredito que isso é falta de informação mesmo. No caso, eu sou introvertido e também tenho uma certa timidez.”- João Paulo Costa, 27 anos, servidor público
Introvertidos famosos
A revolução dos introvertidos não é de hoje. Vários deles se destacaram em diversos campos do conhecimento humano ao longo da história. Veja alguns exemplos de famosos citados no livro de Susan Cain:
- Albert Einstein
- Barack Obama
- Chopin
- Steven Spielberg
- J. K. Rowling
- Bill Gates
Introspecção que vem de berço
Se ser um adulto introspectivo é complicado, uma criança não expansiva tende a sofrer ainda mais. Letícia Gentil, psiquiatra da infância e adolescência da clínica Alergria, explica que é importante que os pequenos sejam, gradualmente, estimulados a serem assertivos, sempre por meio de reforço positivo dos comportamentos adequados. “Os pais devem tranquilizá-los, relembrando que todos cometem erros e estão sujeitos a críticas”, ensina. Outra dica: nunca é demais ressaltar que críticas fazem parte da vida e, nem sempre, serão negativas. Ao contrário, observações construtivas são poderosas aliadas no crescimento pessoal, desde que as mudanças de comportamento sejam implementadas.
Os prejuízos sociais de uma timidez ou introspecção no futuro são difíceis de mensurar. Se as características fazem parte de um transtorno, como depressão ou ansiedade, estes podem piorar com a idade. “A introversão severa pode levar a dificuldades nos relacionamentos sociais (namoros e amizades) ou profissionais (dificuldades em ser assertivo, em expor suas ideias aos chefes e nas apresentações de projetos, por exemplo)”, completa Letícia Gentil.
Aos 16 anos, Maria Clara Oliveira foi procurar emprego. Soube que muitas empresas usavam testes de personalidade para escolher seus candidatos e resolveu investir em um, visando, também, o autoconhecimento. Acabou descobrindo-se INFJ, parte da classificação de personalidade baseada na tipologia de Myers-Briggs. O instrumento é, na verdade, um teste baseado em teorias do psicólogo Carl Jung criado para identificar características da personalidade. Segundo o questionário, a personalidade de Maria Clara está entre as mais raras: somente 1% a 3% da população divide esse estereótipo. São indivíduos internalizados, independentes e altamente introspectivos.
Desde a adolescência, Maria Clara, hoje com 26 anos, se preocupava com seu jeito mais fechado. O conflito de personalidade era corriqueiro: enquanto os amigos pareciam cada vez mais próximos, ela sentia-se cada vez mais isolada. “Sofria muito com isso. Evitava expor meus sentimentos, falar sobre mim”, relembra. Dez anos depois do “diagnóstico”, descobrir que existem outras pessoas como ela a fez ter mais confiança em si mesma. “O teste me auxiliou nesse sentido, de ver que não era um defeito.”
A personalidade de Maria Clara tem várias nuances. Além da introspecção, a professora cita a empatia à flor da pele como traço mais marcante. Colocar-se no lugar do outro para entender o que está sentindo é sua característica mais marcante. “A introspecção é forte. Mas, ao mesmo tempo que preciso de um tempo sozinha para refletir, quero conviver, pois tenho necessidade de ajudar os outros”, pondera. Para dar vazão a seus sentimentos, a professora recorre à arte (outro traço típico dos INFJ). Escrita, pintura e desenho são as atividades que a ajudam a colocar para fora os pensamentos mais íntimos. “A faculdade me ajudou a desenvolver minha extroversão também. Antes, eu era uma pessoa muito tímida. Hoje, convivo, mas não dependo de estar junto de outras pessoas o tempo todo.”
"Acho que as vantagens sociais de ser introspectiva só são maiores para a gente que é assim. Acho que a gente gasta muita energia se envolvendo em projetos sociais, tentando evitar conflitos e a forma que encontramos de nos recarregarmos é passando algum tempo isolado. Tento sempre fazer novas amizades e tenho facilidade em iniciar o contato com outras pessoas, mas acho que os outros também têm que dar um espaço para a gente descansar. É engraçado porque muita gente me confunde com uma pessoa extrovertida por causa disso. Às vezes, tenho vontade de ser extrovertida, mas aprendi a lidar com isso e hoje acho que (ser introvertida) é uma característica positiva." - Maria Clara, 26 anos, professora
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. Na internet:
Quiet Revolution: https://www.quietrev.com/
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Introvertidos 2.0: https://www.facebook.com/groups/familiaintrovertidos/
Introvertímidos: https://www.facebook.com/groups/introvertimidos/
Palestra de Susan Cain, autora do livro O poder dos quietos, para a TED: https://www.youtube.com/watchv?=-nTp2e4bCMc
Na livraria:
Tipos psicológicos
C.G.Jung
Editora Vozes
562 páginas
O poder dos quietos: como os tímidos e introvertidos podem mudar um mundo que não para de falar
Susan Cain
Editora Nova Fronteira
344 páginas