Embora desde os anos 1990 tenha se mostrado que cerca de 30% das pessoas com obesidade têm perfil metabólico e cardiovascular saudável, o novo estudo alerta que eles não estão excluídos das intervenções recomendadas contra a obesidade.
O estudo, publicado nesta quinta-feira (18/06) na revista científica Cell, foi feito por pesquisadores do Instituto Karolinska - célebre por promover o Prêmio Nobel - sob a coordenação de Mikael Rydén. "A descoberta sugere que vigorosas intervenções de saúde podem ser necessárias para todos os indivíduos obesos, mesmo aqueles que até agora tenham sido considerados metabolicamente saudáveis. Como a obesidade é um dos principais fatores que alteram a expressão genética do tecido adiposo (gordura), nós devemos continuar a focar na prevenção à obesidade", declarou Rydén.
Segundo Rydén, a obesidade atingiu proporções epidêmicas globais afetando aproximadamente 600 milhões de pessoas em todo o mundo e aumentando consideravelmente o risco de doenças cardíacas, acidentes vasculares cerebrais, câncer e diabete tipo 2.
Desde a década de 1940, os cientistas acumularam cada vez mais evidências de que haja uma ligação entre a obesidade e as doenças metabólicas e cardiovasculares. Mas, nas décadas de 1970 e 1980, alguns especialistas começaram a questionar em que extensão a obesidade aumenta de fato esses problemas de saúde.
Depois, no fim da década de 1990, novos estudos começaram a mostrar que alguns indivíduos obesos apresentavam um perfil metabólico e cardiovascular saudável.
De acordo com Rydén, estimativas recentes sugerem que até 30% das pessoas obesas sejam metabolicamente saudáveis, indicando que eles precisariam de intervenções menos vigorosas para prevenção das complicações relacionadas à obesidade.
Segundo ele, uma das marcas da obesidade metabolicamente saudável é a alta sensibilidade ao hormônio insulina, que promove a captação da glicose do sangue pelas células para ser usada como energia.
No entanto, segundo Rydén, atualmente não há critério amplamente aceito para identificar a obesidade metabolicamente saudável e, por isso, é impossível saber se tal condição existe mesmo ou não. Para tentar responder a essa pergunta, Rydén, Carsten Daub e Peter Arner - todos do Instituto Karolinska - avaliaram a resposta à insulina em 15 pessoas saudáveis que nunca foram obesas e 50 pessoas obesas inscritas para uma cirurgia de redução de estômago.
Os cientistas coletaram biópsias do tecido de gordura abdominal antes e depois de sessões de duas horas de infusão intravenosa de insulina e glicose. Com base na taxa de captação de glicose, os pesquisadores classificaram 21 indivíduos obesos como sensíveis à insulina e outros 29 como resistentes à insulina.
O sequenciamento genético das amostras de tecido de gordura revelaram uma clara distinção entre os participantes que nunca foram obesos e os que pertenciam aos dois grupos de pessoas obesas. A gordura dos resistentes à insulina e dos sensíveis à insulina apresentou padrões praticamente idênticos de expressão genética na resposta à estimulação por insulina.
"Nosso estudo sugere que a noção de obesidade metabolicamente saudável pode ser mais complexa do que se pensava, pelo menos no que se refere ao tecido adiposo subcutâneo", afirmou Rydén.