Minas Gerais registrou neste ano a maior epidemia de dengue de sua história. Até 2 de agosto, segundo o último boletim divulgado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), foram notificados 526.622 casos da doença e 195 mortes no estado. O surto que teve início em fevereiro, porém, vem gerando outras repercussões para as vítimas do Aedes Aegypti: a queda de cabelo. A estudante Júlia Salomão, de 18 anos, decidiu procurar um dermatologista quando, depois de dormir na casa de uma amiga, teve que passar aspirador no quarto para recolher a quantidade de cabelos que se espalhou pelo cômodo. Antes disso, ela e pessoas próximas à jovem, já haviam notado que a queda estava maior do que o usual. Perdemos entre 50 e 100 fios ao dia. “Sempre tive muito cabelo e o fato de os fios estarem caindo acima do normal não me incomodou no início. Só que chegou num ponto que quando dividia meu cabelo ao meio, me dava agonia de tão pouco. Era tão assustador ver aquela imagem no espelho que eu pensei que ficaria careca. Fui ficando nervosa e resolvi procurar um especialista”, conta.
O eflúvio telógeno agudo, diagnóstico que Júlia Salomão recebeu, se caracteriza por períodos de intensa perda de cabelos que chegam a 600 fios por dia, podem durar até três meses, geralmente se resolve de forma espontânea, mas que causa grande preocupação justamente pela rapidez e volume de fios perdidos. A dengue é apenas uma das causas do problema, assim como o pós-parto. Diretora da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Leandra D´Orsi Metsavaht afirma que qualquer doença infecciosa e inflamatória, com febre e que provoque uma queda do estado geral da saúde, assim como alterações hormonais, procedimento cirúrgicos e doenças como diabetes, anemia, deficiência de ferro e doenças da tireóide podem desencadear o problema que tem início entre três e seis meses depois do fator que desencadeia essa queda abrupta.
O dermatologista e membro da SBD, Rubem Mateus Miranda explica que cada fio de cabelo da nossa cabeça passa por um ciclo de três fases: anágena, catágena e telógena. A primeira fase, que é a do crescimento, dura de dois a seis anos. A segunda, de uma a duas semanas. E a terceira, que é a fase de eliminação dos fios mortos, de cinco a seis semanas. Ou seja, todos os fios de cabelo passam por essas três fases e eles estão em diferentes fases de crescimento. “Nos casos de eflúvio telógeno agudo, depois de um a dois anos da fase anágena, o fio de cabelo vai direto para a fase telógena”, sintetiza. E é pelo fato de a raiz dos cabelos não ser afetada de forma definitiva que geralmente acontece uma reposição, mas não total, dos fios perdidos.
Esperar o organismo agir para repor a quantidade de cabelos perdidos não é tão simples para algumas pessoas que chegam a ficar ansiosas em relação à mudança da aparência. Nesses casos, a prescrição de loções e xampus para conter a queda e complexos vitamínicos para fortalecer o corpo é uma tentativa de amenizar o incômodo. O mais importante, no entanto, é o diagnóstico correto que relacione a queda de cabelo com a dengue para se ter certeza de que é algo transitório e não uma queda de cabelo real.
A advogada V. J., de 35 anos, já foi diagnosticada com dengue duas vezes e, nas duas ocasiões, teve queda de cabelo cerca de três meses depois da doença. “Na primeira vez achei que pudesse ser por estresse, mas era a dengue. Na segunda, achei que era a dengue, mas tive uma anemia muito forte, minhas plaquetas abaixaram demais. Já tem um ano que estou em tratamento com ferro, zinco e vitaminas e em acompanhamento com um clínico geral e um dermatologista”, relata.
Segundo ela, o cabelo saltava da cabeça. “Comecei a ter entradas típicas de cabelo de homem e fiquei preocupada de ser uma doença grave. Procurei um clínico geral que me falou que poderia ser em razão da dengue e, então, fui a um especialista em cabelos. O tratamento foi prolongado e começou a dar resultado junto com a abordagem para combater a anemia. Foi um ano e meio de dedicação e meu cabelo ganhou volume novamente. Só que, logo na sequência, tive outra dengue, que veio mais violenta e tive que recomeçar do zero o tratamento para a queda de cabelo”, relata.
A advogada afirma que foram realizados vários exames - de sangue e no couro cabeludo - para se chegar ao diagnóstico e iniciar o tratamento. Rubem Mateus Miranda reforça que, apesar de o movimento nos consultórios de dermatologistas ter aumentado em razão da epidemia de dengue pela qual Minas Gerais passou, é importante descartar outras hipóteses para a perda dos fios. “O importante é achar o gatilho, o fator causal dessa queda abrupta que pode ser a dengue ou não. A investigação dematológica inclui a avaliação de deficiências nutricionais e a triscoscopia, que é uma análise dos fios e do couro cabeludo para descartar outras causas inflamatórias ou genéticas”, salienta. Assim, segundo ele, se uma paciente teve dengue, mas o nível de ferro no organismo está baixo, a queda de cabelo pode se perpetuar e os fios não serão recuperados normalmente.
Leandra D´Orsi Metsavaht reforça que o importante é uma anamnese bem feita, que inclua exame físico e uma boa conversa sobre a história familiar e de vida do paciente. “Em alguns casos, exames laboratoriais e até uma biópsia do couro cabeludo prescinde a prescrição do tratamento. Se a causa do eflúvio telógeno agudo for a dengue, o que acontece é aceleração da queda de cabelo que já iria cair mesmo”, diz.
De acordo com o dermatologista Rubem Mateus Miranda, o tratamento para o eflúvio telógeno agudo em casos de dengue é à base de loções que ajudam a acelerar o processo de crescimento do cabelo e diminuir a queda dos fios. “Podemos pensar no corpo como uma cidade. Depois de um terromoto não serão os jardins e os parques que serão priorizados na reconstrução desse lugar. É a mesma coisa depois de uma doença infecciosa ou inflamatória, o corpo só vai liberar nutrientes para o cabelo depois que as prioridades já tiverem sido sanadas”, ilustra.
Metade da população vai se queixar de queda de cabelo a partir dos 50 anos. É comum as pessoas associarem a palavra alopécia à perda total de cabelo, mas na verdade, o termo é a denominação científica para todo e qualquer tipo de queda de cabelo e são mais de 100 tipos de alopécia existentes. A mais conhecida é a alopécia androgenética ou calvície que afeta predominantemente a população masculina, mas que também pode ocorrer em mulheres. No caso delas, a incidência é maior depois da menopausa, quando o cabelo fica mais ralo. No entanto, tem havido uma incidência maior de alopécia androgenética em mulheres jovens sem uma associação científica muito clara que justifique essa mudança. O que se suspeita é que o excesso do de produtos químicos acelere esse processo.
Outro tipo de alopécia é a areata que se apresenta em forma de círculos redondos no couro cabeludo e está muito associada ao estresse. Ela afeta igualmente homens e mulheres e pode aparecer em qualquer idade.
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O dermatologista e membro da SBD, Rubem Mateus Miranda explica que cada fio de cabelo da nossa cabeça passa por um ciclo de três fases: anágena, catágena e telógena. A primeira fase, que é a do crescimento, dura de dois a seis anos. A segunda, de uma a duas semanas. E a terceira, que é a fase de eliminação dos fios mortos, de cinco a seis semanas. Ou seja, todos os fios de cabelo passam por essas três fases e eles estão em diferentes fases de crescimento. “Nos casos de eflúvio telógeno agudo, depois de um a dois anos da fase anágena, o fio de cabelo vai direto para a fase telógena”, sintetiza. E é pelo fato de a raiz dos cabelos não ser afetada de forma definitiva que geralmente acontece uma reposição, mas não total, dos fios perdidos.
Esperar o organismo agir para repor a quantidade de cabelos perdidos não é tão simples para algumas pessoas que chegam a ficar ansiosas em relação à mudança da aparência. Nesses casos, a prescrição de loções e xampus para conter a queda e complexos vitamínicos para fortalecer o corpo é uma tentativa de amenizar o incômodo. O mais importante, no entanto, é o diagnóstico correto que relacione a queda de cabelo com a dengue para se ter certeza de que é algo transitório e não uma queda de cabelo real.
A advogada V. J., de 35 anos, já foi diagnosticada com dengue duas vezes e, nas duas ocasiões, teve queda de cabelo cerca de três meses depois da doença. “Na primeira vez achei que pudesse ser por estresse, mas era a dengue. Na segunda, achei que era a dengue, mas tive uma anemia muito forte, minhas plaquetas abaixaram demais. Já tem um ano que estou em tratamento com ferro, zinco e vitaminas e em acompanhamento com um clínico geral e um dermatologista”, relata.
Segundo ela, o cabelo saltava da cabeça. “Comecei a ter entradas típicas de cabelo de homem e fiquei preocupada de ser uma doença grave. Procurei um clínico geral que me falou que poderia ser em razão da dengue e, então, fui a um especialista em cabelos. O tratamento foi prolongado e começou a dar resultado junto com a abordagem para combater a anemia. Foi um ano e meio de dedicação e meu cabelo ganhou volume novamente. Só que, logo na sequência, tive outra dengue, que veio mais violenta e tive que recomeçar do zero o tratamento para a queda de cabelo”, relata.
A advogada afirma que foram realizados vários exames - de sangue e no couro cabeludo - para se chegar ao diagnóstico e iniciar o tratamento. Rubem Mateus Miranda reforça que, apesar de o movimento nos consultórios de dermatologistas ter aumentado em razão da epidemia de dengue pela qual Minas Gerais passou, é importante descartar outras hipóteses para a perda dos fios. “O importante é achar o gatilho, o fator causal dessa queda abrupta que pode ser a dengue ou não. A investigação dematológica inclui a avaliação de deficiências nutricionais e a triscoscopia, que é uma análise dos fios e do couro cabeludo para descartar outras causas inflamatórias ou genéticas”, salienta. Assim, segundo ele, se uma paciente teve dengue, mas o nível de ferro no organismo está baixo, a queda de cabelo pode se perpetuar e os fios não serão recuperados normalmente.
Leandra D´Orsi Metsavaht reforça que o importante é uma anamnese bem feita, que inclua exame físico e uma boa conversa sobre a história familiar e de vida do paciente. “Em alguns casos, exames laboratoriais e até uma biópsia do couro cabeludo prescinde a prescrição do tratamento. Se a causa do eflúvio telógeno agudo for a dengue, o que acontece é aceleração da queda de cabelo que já iria cair mesmo”, diz.
De acordo com o dermatologista Rubem Mateus Miranda, o tratamento para o eflúvio telógeno agudo em casos de dengue é à base de loções que ajudam a acelerar o processo de crescimento do cabelo e diminuir a queda dos fios. “Podemos pensar no corpo como uma cidade. Depois de um terromoto não serão os jardins e os parques que serão priorizados na reconstrução desse lugar. É a mesma coisa depois de uma doença infecciosa ou inflamatória, o corpo só vai liberar nutrientes para o cabelo depois que as prioridades já tiverem sido sanadas”, ilustra.
Metade da população vai se queixar de queda de cabelo a partir dos 50 anos. É comum as pessoas associarem a palavra alopécia à perda total de cabelo, mas na verdade, o termo é a denominação científica para todo e qualquer tipo de queda de cabelo e são mais de 100 tipos de alopécia existentes. A mais conhecida é a alopécia androgenética ou calvície que afeta predominantemente a população masculina, mas que também pode ocorrer em mulheres. No caso delas, a incidência é maior depois da menopausa, quando o cabelo fica mais ralo. No entanto, tem havido uma incidência maior de alopécia androgenética em mulheres jovens sem uma associação científica muito clara que justifique essa mudança. O que se suspeita é que o excesso do de produtos químicos acelere esse processo.
Outro tipo de alopécia é a areata que se apresenta em forma de círculos redondos no couro cabeludo e está muito associada ao estresse. Ela afeta igualmente homens e mulheres e pode aparecer em qualquer idade.