Presidente da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), Maira Caleffi apresentou no fórum dois estudos que avaliaram os estágios da doença em pacientes do Hospital Estadual Pérola Byington, unidade pública em São Paulo, e do Hospital Moinhos de Vento, serviço particular da cidade de Porto Alegre.
No Pérola Byington, referência no atendimento à mulher que recebe doentes encaminhadas de todo o País, 25,3% das pacientes tiveram a doença classificada nos estágios 0 ou 1, os mais iniciais. No Hospital Moinhos de Vento, o mesmo índice foi de 61,5%.
Nos dois primeiros estágios, o tumor de mama mede até 2 centímetros, com nenhuma ou pouca disseminação pela região afetada. Nessas condições, a chance de cura ultrapassa os 90%. "É difícil fazer a detecção precoce da doença no SUS por causa da demora na realização de exames. Só que a doença não espera. Ela precisa ser tratada rapidamente e adequadamente", afirmou Maira.
Os estudos apresentados pela Femama mostram diferença significativa também no índice de pacientes com doença avançada, classificadas como estágios 3 e 4. Nesses casos, o tumor já comprometeu os linfonodos das axilas ou se espalhou para outros órgãos do corpo.
Segundo Marcelo Calil, diretor clínico do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer (IBCC), também presente no evento, muitas regiões do Brasil não têm nem sequer aparelhos de detecção da doença. "Viajamos por várias localidades e encontramos mamógrafos quebrados. A questão é que é muito mais barato para o governo e menos danoso ao paciente tratar o câncer no início do que deixá-lo evoluir para um quadro avançado", afirmou.
Maira ressaltou que o tratamento precoce do câncer de mama também diminuiria as demandas judiciais por medicamentos inovadores, geralmente indicados para os casos mais graves. "A maioria dos casos de judicialização é de pacientes com cânceres avançados, que precisam de medicamentos mais caros e têm menos chances de cura. E aí fica impagável", afirmou.
Desigualdades
Os especialistas também reclamaram das desigualdades nos tratamentos disponíveis na rede privada em comparação com a pública.
Terapias inovadoras indicadas para pacientes com câncer de mama avançado já estão disponíveis para pacientes de planos de saúde, mas não para usuários do SUS.
"A estimativa é que 768 pacientes tenham morrido no Brasil por falta de acesso a essas terapias, que inclusive estão na lista de medicamentos básicos da Organização Mundial da Saúde, mas que não foram incorporados pelo SUS", declarou.
Presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, Gustavo Fernandes defendeu que é preciso que o governo faça o acompanhamento dos pacientes com acesso a diferentes tratamentos oncológicos para definir o que vale a pena custear. "Temos de ter métrica financeira, mas também de qualidade. Saber quanto um tratamento ajudou, se determinado investimento aumentou a sobrevida. É muito importante colocar qualificação nesses números. Somente com esses dados de eficiência a gente vai saber qual é a melhor forma de usar o dinheiro. A verba em saúde pode se transformar em um saco sem fundo se for usada de forma desmedida", afirmou..