Por muito tempo, a resistência ao uso do termo violência obstétrica deixou obscura as más práticas de assistência ao parto no Brasil e no mundo. A escuta e atendimento às mulheres que relatavam abusos, humilhações e maus tratos eram socialmente negligenciados e as denúncias caíam no descrédito. Foi preciso muito barulho para que essas vítimas pudessem ser escutadas. Um dado brasileiro, no entanto, mostra que uma em cada quatro mulheres sofre algum tipo de violência no atendimento ao parto. Recentemente, em agosto de 2015, a Organização Mundial de Saúde mapeou sete tipos de violência no parto com o objetivo de prevenir ocorrências no serviço de saúde. E agora, a notícia de que uma norte-americana foi indenizada US$ 16 milhões é mais um passo na luta de mulheres por uma assistência humanizada ao parto.
A história tem repercutido não apenas pelo valor da indenização – mais de 50 milhões em reais -, mas por sinalizar que é possível mudar para melhor o atendimento às gestantes e a forma como se recebe os bebês no mundo. Caroline Malatesta já era mãe de três meninas quando vislumbrou a chance de uma assistência humanizada ao parto de seu quarto filho. Para isso, ela procurou um centro de referência nesse modelo de atendimento que prioriza a fisiologia natural do trabalho de parto, que respeita o tempo da mãe e o tempo da criança, em que a mulher é a protagonista do trabalho de parto, em que o contato pele a pele entre mãe e bebê seja estimulado na primeira hora de vida da criança, que a amamentação aconteça logo depois do nascimento e que não se pratique intervenções desnecessárias como a episiotomia (corte que se faz entre a vagina e o ânus).
Só que o desenrolar da história não se deu como o esperado. O hospital Brookwood Medical Center, no estado do Alabama, nos Estados Unidos, onde ela vive com a família, não seguiu o plano de parto de Caroline. Nesse documento, ela informava os procedimentos pelos quais aceitaria passar durante a chegada do bebê (saiba mais sobre o plano de parto aqui).
Reportagem publicada da Cosmopolitan conta que a gestante foi contida à força pelas enfermeiras e imobilizada. Além disso, teve seu períneo cortado para, supostamente, facilitar a saída do bebê. No entanto, desde a década de 70, estudos clínicos começaram a questionar o uso rotineiro da episiotomia.
Hoje, já se sabe não apenas da inexistência de evidências científicas que comprovem a eficácia desse corte, mas também dos riscos que essa prática expõe às mulheres: dor perineal, edema, maior risco de infecção, hematoma e dispareunia (dor na relação sexual). Por isso, a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) é de restringir o uso da técnica para que as taxas não ultrapassem os 10%. No Brasil, ela ainda é feita rotineiramente. A pesquisa ‘Nascer no Brasil’, divulgada em junho de 2014, revelou que 53,5% das mulheres que têm seus bebês via vaginal são submetidas à episiotomia.
Em entrevistas concedidas à imprensa norte-americana, Caroline Malatesta afirma que sua “vida sexual se foi” e que ela tem frequentemente ataques de pânico. Por isso, ela resolveu processar o hospital. Um ano depois do nascimento de seu quarto filho, a sentença saiu. A maior parte do valor da indenização de U$ 16 milhões foi relacionada às lesões que lhe causaram dores pélvicas por meses e exigiram tratamento médico. A norte-americana ficou de cama e precisava passar horas por dia dentro de uma banheira para aliviar o desconforto.
A história tem repercutido não apenas pelo valor da indenização – mais de 50 milhões em reais -, mas por sinalizar que é possível mudar para melhor o atendimento às gestantes e a forma como se recebe os bebês no mundo. Caroline Malatesta já era mãe de três meninas quando vislumbrou a chance de uma assistência humanizada ao parto de seu quarto filho. Para isso, ela procurou um centro de referência nesse modelo de atendimento que prioriza a fisiologia natural do trabalho de parto, que respeita o tempo da mãe e o tempo da criança, em que a mulher é a protagonista do trabalho de parto, em que o contato pele a pele entre mãe e bebê seja estimulado na primeira hora de vida da criança, que a amamentação aconteça logo depois do nascimento e que não se pratique intervenções desnecessárias como a episiotomia (corte que se faz entre a vagina e o ânus).
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Hoje, já se sabe não apenas da inexistência de evidências científicas que comprovem a eficácia desse corte, mas também dos riscos que essa prática expõe às mulheres: dor perineal, edema, maior risco de infecção, hematoma e dispareunia (dor na relação sexual). Por isso, a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) é de restringir o uso da técnica para que as taxas não ultrapassem os 10%. No Brasil, ela ainda é feita rotineiramente. A pesquisa ‘Nascer no Brasil’, divulgada em junho de 2014, revelou que 53,5% das mulheres que têm seus bebês via vaginal são submetidas à episiotomia.
Em entrevistas concedidas à imprensa norte-americana, Caroline Malatesta afirma que sua “vida sexual se foi” e que ela tem frequentemente ataques de pânico. Por isso, ela resolveu processar o hospital. Um ano depois do nascimento de seu quarto filho, a sentença saiu. A maior parte do valor da indenização de U$ 16 milhões foi relacionada às lesões que lhe causaram dores pélvicas por meses e exigiram tratamento médico. A norte-americana ficou de cama e precisava passar horas por dia dentro de uma banheira para aliviar o desconforto.