Um total de 252 pessoas participaram durante 18 meses de um ensaio, chamado HVTN100, na África do Sul. Todas elas tinham risco muito baixo de contrair o HIV. O objetivo desta fase do teste era garantir que a vacina era segura. O sistema imunológico reagiu bem à imunização. “Queríamos determinar se a vacina era segura e suportável para os pacientes”, disse a pesquisadora Kathy Mngadi, ontem, na conferência. O ensaio se baseou em resultados significativos de 2009 de uma vacina experimental que reduziu em um terço os riscos de contaminação do vírus da Aids na Tailândia.
“Essa vacina experimental nos deu esperança, mas também revelou tudo que ainda tínhamos que aprender”, afirmou a codiretora do ensaio HVTN100, Fatima Laher.
FINANCIAMENTO Na berlinda “O fato de 2,5 milhões de pessoas serem contaminadas anualmente por HIV lança uma imagem inquietante da lentidão dos avanços na redução das novas infecções”, advertiu Haidong Wang, da Universidade de Washington, principal autor do estudo publicado na revista The Lancet. Se essa situação continuar, o cenário pode se agravar devido ao estancamento do financiamento dos programas contra o HIV/Aids. “Será necessário, portanto, um aumento em massa dos esforços dos governos e dos organismos internacionais para alcançar os US$ 36 bilhões necessários todos os anos para atingir o objetivo de colocar fim à Aids até 2030”, destacou Christopher Murray, da mesma instituição de Wang.
Segundo o relatório da universidade estadunidense, 38,8 milhões de pessoas viviam com o HIV em 2015, número que aumenta regularmente desde 2000, quando totalizavam 28 milhões. Neste cenário, é positivo lembrar que as mortes provocadas pela Aids caíram de um pico de 1,8 milhão em 2005 a 1,2 milhão em 2015, especialmente graças à intensificação dos tratamentos antirretrovirais (ARV) e à prevenção da transmissão do vírus de mãe para filho. A quantidade anual de novas infecções permaneceu relativamente constante em um nível de 2,5 milhões por ano no mundo, na última década, depois de um período de rápido declínio a partir de um pico de 3,3 milhões de novos infectados em 1997.
META da unaids O uso de tratamentos antirretrovirais avançou rapidamente de 6,4% em 2005 a 38,6% em 2015 para homens infectados, e de 3,3% a 42,4% para as mulheres, no mesmo período. Apesar dos avanços, a maioria dos países está longe de alcançar o objetivo fixado pela Unaids (agência da Organização das Nações Unidas para tratar da doença) até 2020, que consiste em tratar 90% dos pacientes infectados. Em 2015, 41% dos soropositivos receberam um tratamento ARV, segundo o estudo da Universidade de Washington.
Esta cobertura terapêutica é muito variável entre diferentes regiões e países. É necessária uma intensificação dos tratamentos, em particular no Oriente Médio, África do Norte e Europa do Leste, assim como em alguns países da América Latina. Alcançar o objetivo da Unaids até 2020 implica tratar com ARV 81% das pessoas infectadas.
Em 2015, 1,8 milhão de novas infecções, ou seja, três quartos delas, ocorreram na África subsaariana, seguidas por 212.500 no Sul da Ásia. Entre 2005 e 2015, a taxa de novas infecções por HIV aumentou em 74 países, especialmente Indonésia, Filipinas, África do Norte e Oriente Médio, assim como em alguns países da Europa Ocidental, como Espanha e Grécia. “Ainda existem grandes incertezas sobre as estimativas da quantidade de novas infecções por HIV em muitas regiões do mundo”, afirmam duas pesquisadoras francesas, Virginie Supervie e Dominique Costaglia.
Antirretroviral é a ferramenta brasileira
O Brasil participou ontem na conferência de Durban, ao lado de China e Costa do Marfim, da mesa “Treat All (test & start) champions”, da Organização Mundial da Saúde, apresentando sua experiência de política de acesso universal ao tratamento antirretroviral. Em junho, o tratamento alcançou 473 mil pacientes, sendo que 150 mil foram incorporados ao projeto nos dois últimos anos. Atualmente, a estimativa é de que 830 mil pessoas vivam com o HIV e Aids no país, segundo informou o Ministério da Saúde (MS) em nota.
O tratamento, segundo a pasta, é uma ferramenta de prevenção amparada nas mais recentes evidências científicas, sendo adotada por vários países. O Sistema Único de Saúde oferece, gratuitamente, 22 medicamentos para os pacientes soropositivos. Desse total, 11 são produzidos no Brasil. No entanto, no quesito de educar a população para se prevenir do contágio pelo HIV, as ações se mostram bem pontuais: o governo investiu cerca de R$ 32 milhões em campanhas e publicidade relacionadas ao HIV-Aids, em dois momentos – em 1º de dezembro, nas comemorações do Dia Mundial de Luta contra a Aids e no carnaval (às vésperas e ao longo da festa).
“O MS vem diversificando suas ações dentro de um conceito de prevenção combinada, que inclui, não apenas distribuição de preservativos, mas uma série de ações educativas, como a testagem rápida para HIV, incluindo fluido oral, o programa de profilaxia pós exposição ao HIV e, futuramente, profilaxia pré-exposição.
incidência diminui Em 2010, foram registradas 43 mil novas infecções por HIV no país, segundo o MS. Seis anos depois, em 2016, esse número passou para 44 mil novos casos. Apesar do aumento bruto, os números indicam, segundo o MS, discreta redução da taxa de incidência de Aids na população brasileira de 22,5 casos por 100 mil habitantes para 21,5 casos para 100 mil habitantes. “Atualmente, a prevalência de HIV no país está em torno de 0,4%, considerada baixa para os padrões mundiais. Além disso, o país apresenta estabilidade na taxa de mortalidade, que passou de seis óbitos a cada 100 mil, em 2005, para 5,7, em 2014”, complementa a nota..