Pessoas transexuais têm identidade de gênero diferente do sexo com o qual nasceram e podem manifestar, ou não, o desejo de se submeter a intervenções cirúrgicas para realizar a adequação dos seus atributos físicos de nascença, inclusive genitais, à sua identidade de gênero constituída. As técnicas de transgenitalização ou redesignação genérica ou sexual, popularmente conhecida como cirurgia de mudança de sexo, vêm avançando muito nos últimos anos, sendo a transformação da genitália masculina em feminina a mais disseminada e a de melhor resultado.
Isso porque para construir uma neovagina usa-se o pênis para formar a nova estrutura. Já para construir um neopênis é preciso estimular o clitóris. De acordo com José Cesário da Silva Almada Lima, professor e coordenador de cirurgia plástica do Hospital Universitário Ciências Médicas (HUCM-MG), que já fez 56 operações de redesignação, o resultado da cirurgia que constrói o pênis no lugar da vagina não é tão satisfatório quanto transformar o pênis em neovagina.
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IDENTIDADE DE GÊNERO
Enquanto o sexo biológico é o conjunto de informações cromossômicas, órgãos genitais, capacidades reprodutivas e características fisiológicas secundárias que distinguem machos e fêmeas, a identidade de gênero é uma experiência interna e individual de cada pessoa, que pode ou não corresponder ao sexo atribuído no nascimento, incluindo o senso pessoal do corpo (que pode envolver, por livre escolha, modificação da aparência ou função corporal por meios médicos, cirúrgicos) e outras expressões de gênero, inclusive vestimenta, modo de falar e maneirismos.
Fonte: Manual de Comunicação LGBT
Para a construção do neopênis, o paciente precisa tomar testosterona diariamente, o que deixa a voz mais grave, interrompe a menstruação, dá ganho de massa muscular e pode provocar a calvície, embora aumente o crescimento de pelos. Outra técnica visa o desenvolvimento do clitóris, que tem a mesma origem embrionária do pênis, embora um cresça e o outro não. Quando o clitóris alcança 6cm, ele é retirado do púbis para ser reimplantado e ter autonomia de movimento. A uretra é aumentada, usando tecido da antiga vagina. Os testículos são formados com o tecido dos grandes lábios vaginais, no qual são colocadas duas próteses esféricas de silicone.
A NEOVAGINA No caso da construção da neovagina, tira-se apenas o testículo extirpado para que não haja risco de câncer no futuro. Todas as demais estruturas são aproveitadas para dar forma à neovagina. “Fazemos um esvaziamento do cilindro peniano e dos dois corpos cavernosos e corpo esponjoso, que viram a uretra.
O Hospital Universitário Ciências Médicas é pioneiro em Minas Gerais em cirurgias de redesignação sexual. Desde o primeiro caso, em 1999, já foram realizados cerca de 50 procedimentos. “O procedimento depende de uma série de aspectos, como segmentos pré-operatórios dos pontos de vista psicológico, psicanalítico e endocrinológico. Há também que se verificar se há o perfil efetivo da transexualidade”, explica José Cesário.
Atualmente, o HUCM-MG não faz a cirurgia por não estar cadastrado no Sistema Único de Saúde (SUS), embora exista esse interesse, segundo Cesário. Como é irreversível, é obrigatório o acompanhamento psicológico por no mínimo dois anos para que se firme o perfil de transsexual. Sem isso não operamos”, acrescenta o cirurgião. A maioria dos seus pacientes está hoje casada. “Elas levam a vida como qualquer outra mulher.” Victoria, por exemplo, é artista plástica e tem relacionamento estável.
Segundo a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), a travesti nasce do sexo masculino ou feminino, mas tem sua identidade de gênero oposta ao seu sexo biológico, assumindo papéis de gênero diferentes daquele imposto pela sociedade. Muitas travestis modificam seus corpos por meio de hormônios, terapias, aplicações de silicone e/ou cirurgias plásticas, o que não é uma regra. Diferentemente das transexuais, as travestis não desejam realizar a cirurgia de redesignação sexual.
PERSONAGEM DA NOTÍCIA
“Eu dava prazer, mas não sentia”
A realidade das pessoas transexuais é revelada no documentário Meu nome é Jacque, que aborda a diversidade pela história de vida de Jaqueline Rocha Côrtes, uma transexual brasileira que vive com Aids há mais de 20 anos. Apaixonada por Vítor, seu atual marido, Jacqueline não se envolveu até fazer a cirurgia. Segundo ela, ter o corpo de mulher, com o qual sempre se identificou, foi definidor para que experimentasse o prazer sexual que não conhecia das relações anteriores. “Eu dava prazer, mas não sentia prazer antes da redesignação”, conta a militante, que tem a vida marcada por lutas e conquistas, chegando a trabalhar como representante do governo brasileiro e na Organização das Nações Unidas (ONU). Hoje, casada e mãe de dois filhos, ela vive em Araruama (RJ), focada na família. Ao acompanhar o cotidiano atual de Jacque e revisitar sua trajetória, o documentário apresenta os desafios rompidos pela transexual e a importância do apoio da família para que ela se transformasse. Em um trecho do filme, uma das irmãs de Jacque conta o episódio da infância em que um colega da escola disse que seu irmão era gay. Em casa, a mãe de Jacque reuniu todos os filhos, pequenos à época, e disse: ‘O irmão de vocês é uma pessoa diferente. E isso faz com que vocês precisem protegê-lo ainda mais’. A aceitação da família com o fato de Jacque não se identificar com o gênero masculino contribuiu para sua realização como mulher. A transexual, que ocupou cargo no Ministério da Saúde e representou o Brasil em reuniões da ONU, reforça a realidade que José Cesário vê em seu consultório.
MEMÓRIA
Em outros tempos