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Na revista Reumatologia Clínica, equipe liderada por Juan Antonio Castellano Cuesta fez uma vasta revisão da literatura científica para saber quais alternativas ao tratamento tradicional (veja arte) oferecem os melhores benefícios para o tratamento da AR, doença crônica e autoimune que afeta cerca de 1% da população e é mais comum em mulheres de 30 a 50 anos. Pode parecer contraditório, mas exercícios físicos foram cotados pelos espanhóis como uma das estratégias mais benéficas para reduzir o risco de fratura e perda de densidade mineral óssea, característicos da doença.
Acompanhadas por um profissional, as práticas foram as mais eficientes para o aumento da massa muscular, da força e da atividade neuromuscular, sem prejudicar as juntas. Rodrigo Aires Corrêa Lima, coordenador de Reumatologia da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES/DF), explica que, além de combater os efeitos óbvios da AR, os exercícios inibem o processo inflamatório crônico que libera citocinas. Essas substâncias inflamatórias produzidas pelas células agem negativamente nas placas de colesterol das artérias, aumentam o risco para a osteoporose e induzem diretamente a atrofia da musculatura, processo chamado sarcopenia.
Outro efeito estudado foi a influência positiva dos exercícios físicos no sistema imunitário, que é hiperativo na AR e gera inflamação constante das articulações. Dependendo das comorbidades, além do grau de limitação de cada paciente, outras especialidades como terapia ocupacional podem ser necessárias para que as atividades sejam seguras e adequadas às limitações individuais. O médico do esporte Getúlio Bernardo Morato Filho, professor do curso de medicina da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS), completa que as atividades físicas são importantes também para a saúde mental. “Elas ativam a produção de opioides endógenos, que melhoram a analgesia e promovem a sensação de bem-estar. Atividades em grupo favorecem o humor e diminuem sintomas depressivos associados à presença de doenças crônicas”, explica.
Nutrição
Os espanhóis mostram ainda que intervenções nutricionais podem ser aliadas interessantes. Por exemplo, o jejum supervisionado — com ingestão de 200 a 300 calorias diariamente, durante uma semana ou, no máximo, 10 dias — diminui a inflamação, mas as dores reaparecem com a normalização da dieta. No entanto, seguida de um ano de vegetarianismo, a prática alivia dores articulares, inchaços, rigidez e taxa elevada de sedimentação de proteína no organismo.
A dieta mediterrânea, por sua vez, pode reduzir a pressão arterial, melhorar o metabolismo de glicose e de lipoproteínas, e diminuir a inflamação e a oxidação provocadas por estresse. O uso de suplementos como ômega 3, azeite de oliva e vitamina D também se mostrou benéfico. Pacientes com AR, diz Getúlio Morato, geralmente apresentam deficiência de vitamina D, cujas evidências sugerem que, em níveis mais altos, propicia melhora na qualidade de vida.
Com receptores encontrados em células diversas do organismo, essa vitamina aumenta a absorção de cálcio no intestino, protege a saúde óssea e parece ter ação importante no sistema imunológico. “O que ainda não ficou claro é se a reposição de vitamina D promove esses efeitos ou se esses efeitos benéficos encontrados em pessoas com níveis normais de vitamina D são causados por melhores hábitos de vida, que estão associados a taxas melhores do composto”, diz. Apesar de não haver consenso, muitos médicos são motivados por estudos que mostram que o composto, em pacientes com taxas baixas da vitamina, diminui a dor e marcadores inflamatórios sem efeitos colaterais importantes.
Também considerado benéfico pelo grupo espanhol, o óleo de peixe, rico em ácidos graxos ômega 3, ácido eicosapentaenoico (EPA) e docohexaenoico (DHA), está associado à redução de marcadores inflamatórios e ao aumento da produção de resolvinas. Essas substâncias diminuem a inflamação e o risco cardiovascular, tendo efeito moderado no alívio da dor, na rigidez matinal e na progressão da doença.
Precaução
Faltam, porém, estudos que comprovem a segurança e a eficácia desses suplementos. Não se sabe, por exemplo, se são recomendados a todos pacientes com AR e nem se indivíduos saudáveis podem prevenir a doença os consumindo. Todos os médicos frisam que esses recursos não devem substituir medicamentos tradicionais. Segundo Getúlio Morato, cuidado especial deve ser tomado por pacientes que usam medicamentos que propiciam sangramentos, visto que esses suplementos, em doses elevadas, podem alterar o tempo de coagulação do sangue.
Nelson Iuif Junior, médico geriatra e nutrólogo da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran), ressalta o aspecto complementar dessa prática. “Essencialmente, todas essas intervenções alimentares podem obter alguma melhora por redução da inflamação. A dieta e os alimentos podem ser coadjuvantes no tratamento, porém, de forma alguma, deve-se evitar as potentes drogas utilizadas, pois elas têm resultados comprovados pela ciência e por anos de pesquisa.”
Alto impacto sobre os brasileiros
Levantamento mostra que a idade média de diagnóstico da artrite reumatoide no Brasil é de 39 anos. Na pesquisa do Instituto Nielsen, 35% dos 324 brasileiros consultados disseram que a doença abalou a vida profissional deles, obrigando 14% a se aposentar. Outros 17% pediram demissão, uma taxa superior à média global dos países envolvidos na pesquisa — 13 no total —, que foi de 10%. Além disso, 16% tiveram de trocar de trabalho, porcentual também superior à média geral, de 10%. A maioria dos pacientes (55%) reclama do estigma decorrente da doença, o que também acaba interferindo na vida profissional. Isso porque, segundo a pesquisa, o medo de sofrer discriminação desestimulou 19% dos entrevistados do país a procurar emprego. Outros 22% não buscam apoio emocional na família e 17% evitam se socializar com parentes e amigos.
Em alta no SUS
Dez anos atrás, o Ministério da Saúde instituiu a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde (SUS), que contempla a homeopatia, a fitoterapia e a acupuntura, entre outras abordagens. Mesmo sem evidências científicas robustas, a inserção das terapias alternativas foi um sucesso entre profissionais de saúde e pacientes: de 2008 a 2015, houve aumento de 526% no número de unidades de saúde que oferecem alguma prática integrativa, saindo de 967 estabelecimentos para 5.139 em 17% dos municípios e 100% das capitais.
Rodrigo Aires Corrêa Lima, coordenador de Reumatologia da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES/DF), cita dietas, meditação, acupuntura, massagens, quiropraxia e homeopatia como algumas das práticas classificadas como confiáveis e benéficas contra a artrite reumatoide (AR). "Contudo, 'tratamentos' como auto-hemoterapia, vacina para brucelose e lavagem intestinal não melhoram os sintomas e podem trazer sérios danos à saúde", alerta. O reumatologista ressalta que medicamentos à base de ervas vendidos pela internet e telefone, muitas vezes, não passam de corticoides ou outros remédios disfarçados.
Lima lembra, ainda, que as abordagens alternativas são adjuvantes do tratamento tradicional da AR, que, por ser uma doença autoimune inflamatória, deve ser tratada com terapias especificamente voltadas para esses pontos. "Os medicamentos que controlam a doença são os que regulam essa autoimunidade exagerada, diminuindo a inflamação e suas consequências para as juntas e outros órgãos. São da classe dos imunossupressores, que funcionam muito mais como reguladores do sistema imunitário", explica. Os chamados antirreumáticos, contudo, podem demorar de semanas a meses para fazer efeito.
Uso vetado
O médico Genésio Pacheco da Veiga diz ter encontrado a vacina enquanto pesquisava o controle bacteriológico da peste bubônica e a brucelose — doença bacteriana com complicações osteoarticulares — na Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro. Após 46 anos de estudo, ele afirma que a substância cura artrite reumatoide, artrose, espondilite anquilosante, osteoartrite, gota, lesão por esforço repetitivo (LER), entre outras doenças do aparelho locomotor. A Anvisa e conselhos médicos vetam o uso da vacina alegando que não existem estudos comparativos que comprovem a sua eficácia. No entanto, Veiga diz que executou, junto ao médico José Felippe Junior, uma pesquisa com 400 pacientes cujos resultados, contudo, não foram validados.