Em termos globais, a agência de combate à aids aponta que o número de novas infecções pelo mundo caiu apenas de forma modesta, de 2,2 milhões em 2010 para 2,1 milhões em 2015. O Brasil e a América Latina, porém, caminharam em uma direção oposta. "Estamos soando o alarme", disse Michel Sidibé, diretor-executivo da UNAids. "O poder da prevenção não está sendo realizado. Se houver um aumento de novos casos de infecção agora, a epidemia será impossível de ser controlada. O mundo precisa tomar medidas urgentes e imediatas", alertou. Hoje, são 36,7 milhões de pessoas vivendo com a doença pelo mundo e com 1,1 milhão de mortes.
No total, a população vivendo com aids no Brasil passou de 700 mil para 830 mil entre 2010 e 2015, com 15 mil mortes por ano.
Na América Central, as taxas de aumento foram de quase 20% em países como Belize, Nicarágua e Guatemala. No México, a alta foi de 8%, contra 5% na Colômbia e 4% no Brasil. Em pelo menos dez países latino-americanos, porém, houve queda no número de novos casos, incluindo Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela.
No Brasil, apenas 6% do orçamento seria usado para programas de prevenção e, dos 830 mil pessoas vivendo com a doença, 452 mil estariam recebendo a terapia, cerca de 55%. Em termos gerais, o Brasil gastaria cerca de US$ 800 milhões com o combate à aids, segundo dados de 2014. Mas o estudo alerta que a prevenção pode estar falhando. Quase metade dos homens que tem relações sexuais com outros homens nunca tinha sido testado.
A preocupação dos especialistas da ONU não é apenas com o Brasil Segundo a entidade, depois de "quedas significativas" da aids no mundo, os avanços se estagnaram. Desde 1997, o número de novas infecções pelo mundo caiu em 40% e em 70% entre crianças. Mas, ainda assim, 1,9 milhão de pessoas a cada ano desde 2010 em média foram afetadas. "A prevenção precisa ser fortalecida", alerta a entidade.
A ONU espera acabar com a aids até 2030. Mas os últimos dados mostram tendências contrárias. No Leste Europeu, o número de novos casos aumentou em 57% entre 2010 e 2015.
Na avaliação da entidade, governos precisam focar seus esforços em determinadas populações mais vulneráveis. Homens que mantêm relações com outros homens têm 24 vezes mais chance de ser contaminados do que a média da população, a mesma taxa que usuários de drogas injetáveis. Já prostitutas têm dez vezes mais chances e prisioneiros, cinco vezes mais. No total, esses grupos representam um terço das novas contaminações no mundo.
Apesar dos avanços, apenas 57% das pessoas infectadas sabem que são portadoras do vírus e somente 46% dos doentes têm acesso a tratamento, cerca de 17 milhões de pessoas.
O avanço da doença ocorre no mesmo momento em que as doações internacionais sofreram quedas importantes. Em 2013, elas foram de US$ 9,7 bilhões. Mas caíram para US$ 8,1 bilhões em 2015. No ano passado, US$ 19,2 bilhões eram necessários para lidar com a doença.