Há 10 anos, sob coordenação da pesquisadora Elita Scio Fontes – professora do Departamento de Bioquímica do Instituto de Ciências Biológicas da UFJF e doutora em química de produtos naturais –, estudos químicos e biológicos revelam que o extrato retirado da planta foi capaz de diminuir em até 70% a glicemia em ratos diabéticos com apenas uma dose diária, taxa superior à dos medicamentos tradicionais antidiabéticos que reduziram a glicemia em 50%. Além disso, foi observado que o fitoterápico potencializa o sistema antioxidante, sem causar dano ao fígado ou aos rins.
Outra vantagem observada foi o aumento do HDL (bom colesterol). “Essa formulação apresentou atividade antioxidante importante e notamos que, mesmo depois de interromper o tratamento por seis meses, a glicemia ainda permaneceu em níveis normais”, explica a professora Elita. A pesquisadora ressalta que outra vantagem do fitoterápico é a aplicação por meio não invasivo, como ocorre com alguns medicamentos tradicionais que têm de ser usados por meio de seringas.
No entanto, Elita esclarece que o estudo ainda está em fase preliminar de testes e até a chegada ao mercado do Glico-CP será necessário um longo trabalho de pesquisa, que entra agora em fase pré-clínica, que significa a avaliação da substância em humanos. De acordo com a pesquisadora, os ratos diabéticos receberam a dose dos medicamentos entre um e dois meses, quando começaram a apresentar a melhora dos índices de glicemia. “Estudos pré-clínicos realizados em ratos diabéticos tratados com extrato da planta mostraram uma redução significativa da glicemia, o que motivou a continuação do trabalho”, explica.
Baixo custo Além das vantagens terapêuticas, a professora Elita afirma que outro benefício do novo medicamento é o baixo custo, em razão, principalmente, da facilidade de cultivo da embaúba, que fornece a folha para a retirada do extrato.
As embaúbas são árvores leves, pouco exigentes quanto ao solo e muito comuns em áreas desmatadas e em recuperação. Elas têm frutos atrativos para várias espécies de aves e são capazes de se dispersar rapidamente. Como têm caule e troncos ocos, vivem em simbiose com formigas que habitam seu interior e as protegem de animais herbívoros. Povos ameríndios já usavam a Cecropia – que tem mais de 10 espécies – como lenha e em fitoterapia. No Oeste da América do Sul, cinzas da folha são usadas no preparo do tradicional chá de ipadu, um estimulante à base de coca.
EM BUSCA DE PARCERIA
Para o desenvolvimento dos estudos, a pesquisadora Elita Scio Fontes conta que foi necessário, primeiro, obter licença de cultivo da planta com o objetivo de pesquisa. A partir daí, foi retirado o extrato e testado em ratos. A etapa, agora, é conseguir recursos para o teste pré-clínico. Ela explica que, nesta etapa, os testes serão feitos em voluntários.
O primeiro passo é o uso do fitoterápico em pessoas sadias e, em seguida, a pesquisa com diabéticos. No entanto, Elita comenta que não há recursos garantidos para as próximas etapas. Essas novas fases incluem o processo de reunir parcerias para que a tecnologia alcance as indústrias de fitoterápicos e de desenvolvimento de novos medicamentos. “Como se trata de uma tecnologia de alto potencial de demanda, a formulação fitoterápica deve ser licenciada para empresa farmacêutica e laboratório. Em breve, me dedicarei a promover essas parcerias”, diz Elita, animada pelos resultados promissores até agora..