Cartilha para saúde digestiva sugere cuidados à alimentação e pode aliviar sintomas gastrointestinais

Cartilha O importante papel das dietas para a saúde digestiva é da federação Brasileira de Gastroenterologia

por Carolina Cotta 03/07/2016 10:42

A alimentação correta, saudável e equilibrada e com suficiente aporte de calorias e nutrientes é essencial para o bem-estar e a qualidade de vida, principalmente quando certas condições exigem uma dieta mais específica. A Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG) encoraja a população a adotar hábitos alimentares mais corretos e saudáveis. Confira as orientações da cartilha O importante papel das dietas para a saúde digestiva sobre os principais cuidados com a alimentação no caso de alguns desconfortos e doenças gastrointestinais.

Dispepsia Funcional


O que é: síndrome, muito frequente, caracterizada por dor ou desconforto na região superior e central do abdome.

Sintomas: dor de estômago (do tipo queimação ou fome), azia, digestão lenta, empachamento e peso no abdome superior depois das refeições, náuseas e saciedade precoce.

Dieta: embora uma parcela significativa dos pacientes dispépticos relacionem piora dos seus sintomas com a ingestão de determinados alimentos, nenhuma dieta específica está indicada. Os alimentos que agravam o quadro, obviamente, devem ser evitados. Intolerâncias específicas, como ao glúten, lactose ou frutose, devem ser consideradas e, se confirmadas, a dieta de exclusão deve ser iniciada. Existe a possibilidade de que um subgrupo de dispépticos possam apresentar alergia ou hipersensibilidade a determinadas substâncias alimentares. O exemplo mais clássico é a hipersensibilidade ao glúten, que pode ocasionar sintomas em um pequeno subgrupo pacientes. É preciso adotar hábitos dietéticos saudáveis (comer devagar, mais vezes ao dia, menor quantidade) e evitar o consumo de alimentos gordurosos, condimentados, ácidos, cafeína, álcool e cigarro.

Síndrome do Intestino Irritável (SII)


O que é: distúrbio funcional do trato digestivo para o qual não se demonstrou, até o momento, alterações metabólicas, bioquímicas ou estruturais das vísceras. O problema se expressa por meio da acentuação, inibição ou simplesmente modificação da função intestinal. Acomete entre 10% a 20% da população ocidental e predomina no sexo feminino. Ocorre mais em grupos etários mais jovens (15 a 44 anos) do que naqueles com idade mais avançada (45 anos ou mais). Essa síndrome é responsável por uma grande parcela dos atendimentos ambulatoriais em gastroenterologia, sendo também muito comum nos atendimentos de clínica médica, implicando na necessidade de uma constante atualização desse tema por parte dos médicos, tanto generalistas como gastroenterologistas.

Sintomas: tem evolução crônica e clinicamente manifesta-se por dor ou desconforto abdominal, associado à alteração do hábito intestinal – constipação, diarreia ou alternância de uma e de outra. Outros sintomas frequentes são muco nas fezes, urgência retal, distensão abdominal e flatulência.

Dieta: o estilo de vida e os hábitos alimentares devem ser sempre cuidadosamente avaliados nos pacientes portadores da SII sendo um ponto importante na abordagem terapêutica desses pacientes. Orienta-se uma alimentação adequada e saudável, pobre em gorduras e em alimentos que possam agravar o quadro. Quando existe predomínio de constipação intestinal, é importante orientar sobre o consumo de fibras e líquidos e também recomendar a prática regular de exercícios físicos. Essas orientações são bastante benéficas e, com frequência, aliviam os sintomas. Por outro lado, o consumo excessivo de café (cafeína), de alimentos gordurosos e de carboidratos não digeríveis podem agravar os sintomas dos pacientes com (SII) e predomínio de diarreia. Nos últimos anos, pesquisadores australianos propuseram a adoção de uma dieta pobre em alimentos contendo oligos sacarídeos, dissacarídeos e monossacarídeos fermentáveis e polióis, conhecida como Low FODMAP (Fermentable Oligosaccharides Dissaccharides Monosaccharides e Polyols). Estudos recentes demonstraram que essa dieta pode aliviar os sintomas de pacientes com SII, especialmente na forma com diarreia, melhorando a consistência das fezes, reduzindo a frequência evacuatória, a flatulência e a distensão abdominal. Uma dieta pobre em FODMAPs foi capaz de promover melhora em 68% dos pacientes com SII, comparada com 23% daqueles que mantiveram a dieta habitual. Essa dieta tem sido recomendada para os pacientes com sintomas mais intensos e que não respondem ao tratamento convencional.

Flatulência

O que é: é comum que os pacientes atribuam inúmeros sintomas ao excesso de gás no tubo digestivo. Na
prática, contudo, não é tarefa fácil para o médico definir se os sintomas vêm de uma produção excessiva de gás ou da dificuldade em sua eliminação. Essas queixas são relatados tanto por pacientes com desordens funcionais (síndrome da distensão funcional, dispepsia funcional, síndrome do intestino irritável, constipação funcional) como orgânicas (má absorção, doença inflamatória intestinal, intolerâncias alimentares).

Sintomas: presença de gases no tubo digestivo, flatulência, distensão e dor abdominal. É frequente um agravamento dos sintomas ao final do dia e após a ingestão de determinados alimentos.

Dieta: a produção do gás pode ser reduzida com a introdução de uma dieta composta por alimentos que forneçam o mínimo de substratos para as bactérias colônicas, incluindo proteínas (carne vermelha, frango, peixe e ovos), alguns carboidratos (pães sem glúten e arroz), além de algumas verduras, legumes e frutas (alface, tomate, cerejas e uvas). Os alimentos contendo carboidratos não-absorvíveis, teoricamente capazes de aumentar a produção dos gases intestinais, devem ser evitados, como feijão, soja, brócolis, cebola, aipo, repolho, couve-flor, ervilhas, pepino, rabanete, cenoura, passas, bananas, fibras fermentáveis e amidos complexos como trigo e batata. Muitos pacientes notam redução significativa na eliminação dos gases logo após o inicio dessa dieta, porém a sua aderência a longo prazo é difícil.

Constipação intestinal

O que é: acomete cerca de 20% da população mundial e constitui um dos sintomas mais frequentes de procura ao médico. É mais comum em mulheres e idosos e se encontra entre as doenças funcionais do intestino.

Sintomas: fezes endurecidas, esforço excessivo no ato evacuatório, evacuações infrequentes ou sensação de evacuação incompleta.

Dieta: O tratamento inclui medidas comportamentais e dietéticas, além de medicamentos. O paciente deve ser orientado sobre horário, obediência ao reflexo evacuatório, postura durante o ato evacuatório e a atividade física aeróbica que é capaz de estimular a motilidade intestinal e deve ser recomendada. A dieta deve ser rica em líquidos e fibras. As fibras (insolúveis e solúveis) estão presentes em especial nos cereais, frutas, legumes e vegetais. O equilíbrio delas, que devem ser ingeridas sem excessos, é muito importante.


Intolerância à lactose

O que é: incapacidade do organismo de digerir a lactose, devida à ausência ou quantidade insuficiente da lactase, responsável por fragmentar a lactose em dois monossacarídeos (glicose e galactose) que, então, são absorvidas. Quando a lactase está ausente (alactasia) ou deficiente (hipolactasia), a lactose não é absorvida no intestino delgado e passa para o intestino grosso, onde, por ação bacteriana, será fermentada.

Sintomas: a fermentação produz gases que podem ocasionar sintomas digestivos, como distensão abdominal, cólicas, flatulência e diarreia. É um problema bastante comum na população adulta.

Dieta: o objetivo do tratamento é o controle dos sintomas digestivos sem a exclusão total do leite e produtos lácteos. Para tanto, é preciso equilibrar a ingestão com a capacidade digestiva. A maioria das pessoas intolerantes à lactose pode ingerir 12g/dia de lactose sem apresentar sintomas. As maiores concentrações de lactose se encontram no leite, enquanto que os queijos, geralmente, contêm quantidades menores.

Intolerância à frutose


O que é: frutose é um carboidrato (açúcar) simples presente na nossa dieta. Quando a frutose é absorvida de forma incompleta pelo intestino, ela pode ser fermentada pela microbiota intestinal, resultando na formação de substâncias químicas e gases, causando sintomas. Com o envelhecimento, a maioria das pessoas vai apresentar má absorção de açúcares, incluindo a frutose, especialmente quando grandes quantidades são consumidas. A frutose está presente em frutas, legumes, grãos, alimentos industrializados e mel. A ingestão diária varia de 20g a 60g, dependendo da dieta. O consumo de frutose tem aumentado significativamente nas últimas décadas e está implicado no aumento da obesidade, síndrome metabólica e doença hepática.

Sintomas: As principais manifestações incluem inchaço e dor abdominal, diarreia e constipação, ruídos intestinais e outros sintomas devido ao aumento da produção de gás, como arrotos e flatulência excessivas, além de náuseas e vômitos.

Dieta: A redução da ingestão de frutose para níveis tolerados leva rapidamente ao alívio dos sintomas na maioria dos pacientes. Alimentos ricos em frutose: mel, xarope de milho, sucos de frutas concentrados, maçã, figo, ameixa, uva, pera, banana, manga, laranja, cereja e melancia. Também contêm frutose, mas em baixo teor, o tomate, abacaxi, abacate, pêssego, milho, repolho, pepino, beterraba, cenoura, abóbora e batata-doce. A absorção da frutose é facilitada pelo consumo concomitante de glicose. A sacarose, açúcar muito consumido em nosso meio, é formada por uma molécula de glicose e outra de frutose. Quando não há a disponibilidade de sacarose, o uso de glicose imediatamente antes das refeições pode reduzir os sintomas de intolerância à frutose. Pequenas quantidades de frutose consumida após refeições são mais bem toleradas do que uma única dose com o estômago vazio.

Doenças do esôfago


O que é: o esôfago é um órgão muscular que tem duas principais funções, como o de transporte de alimentos da boca ao estômago e o de barreira exercida por seus dois esfíncteres, o esfíncteresofagiano superior (EES), que o separa da faringe e o esfíncter esofagiano inferior (EEI), que o separa do estômago. A mais prevalente doença do esôfago é a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), que tem como um de seus principais fatores de risco a obesidade, frequentemente associada a erros ou maus hábitos alimentares.

Sintomas: queimação” e/ou regurgitações, azia, dor no peito, tosse seca e rouquidão.

Dieta: alimentos ricos em gorduras são de mais difícil digestão, se acompanham de esvaziamento gástrico mais lento, fatores esses que estão envolvidos na fisiopatologia da DRGE. Alimentos que, sabidamente, reduzem a pressão do EEI, tais como os gordurosos, chocolate, café puro, bebidas alcoólicas, chá ou aqueles que o paciente percebe que lhes causa sintomas, principalmente pirose e/ou regurgitações, devem ser evitados. Importante também é uma recomendação de natureza comportamental. Não se deitar com estômago cheio, aguardar pelo menos de duas a três horas. Muitos pacientes se beneficiam com a elevação da cabeceira da cama, medida que nem sempre é bem aceita.

Doença Celíaca (DC)


O que é: distúrbio autoimune em que se encontram anticorpos circulantes contra o glúten e alterações na mucosa intestinal, em indivíduos geneticamente predispostos. Atinge cerca de 1% da população.

Sintomas: os sintomas clássicos de diarreia, distensão abdominal, borborigmos, perda de peso não são tão comuns quanto no passado. Atualmente, a DC pode ser assintomática, apresentar gastrointestinais ou manifestações extraintestinais (déficit de crescimento, alterações do esmalte dentário, menarca atrasada, abortos de repetição, infertilidade, menopausa precoce; osteoporose; predisposição a tumores, principalmente linfomas). O diagnóstico é feito pela determinação de anticorpos no sangue e biopsia do intestino delgado proximal (por endoscopia).

Dieta: a exclusão do glúten deve ser total e permanente, inclusive cuidando para não haver contaminação cruzada. Consultar nutricionista para manter a dieta balanceada, quando da substituição das farinhas. Faz parte do tratamento a leitura minuciosa dos rótulos dos alimentos adquiridos.

Fonte: Federação Brasileira de Gastroenterologia