

Talvez por isso tenham se passado seis anos desde o primeiro ato a favor da amamentação em público em BH, até que o prefeito Marcio Lacerda referendasse lei que garante às mulheres o direito a alimentar os filhos em lugares públicos, sejam eles de natureza estatal ou privada, como praças, pontos de ônibus, restaurantes, centros de compra ou supermercados. Em síntese, se o espaço ou estabelecimento permitir o livre trânsito de pessoas, está liberada a amamentação.
Em 90 dias deve sair a regulamentação da nova regra, publicada ontem no Diário Oficial do Município (DOM). Essa normatização começa a ser definida a partir de hoje às 11h, em reunião entre o secretário municipal de Governo, Vítor Valverde, e o autor do projeto convertido em lei, vereador Gilson Reis (PCdoB). Segundo ele, vai ser necessário definir qual ente público aplicará a multa – de R$ 500 a R$ 1 mil, em caso de reincidência – a quem constranger mãe por amamentar, além de definir como será o mecanismo de punição. “Temos de estabelecer formas menos burocráticas, que possam ser menos embaraçosas para a mãe com o bebê, mas que permitam que a pessoa que contrariou a lei seja responsabilizada pelo ato”, afirma.

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Polly explica que uma das maneiras de o filho não largar o peito à medida em que vai crescendo é amamentar exclusivamente com o leite materno até os 6 meses e, se possível, nunca complementar com mamadeira ou acalmar o bebê com a chupeta em lugares públicos como forma de evitar o constrangimento. “É preciso encarar que dar o peito é um gesto natural e parar de se preocupar com o que os outros vão pensar”, completa Milena Gomes, que também se posiciona publicamente, com o filho Raul, de 2 anos.
“É preciso entender que a amamentação não é um ato mecânico. É uma decisão. E, nesse processo de decisão que começa a ser construído na gestação e perdura pelos primeiros meses de vida da criança, é preciso persistência, força de vontade e apoio. Caso contrário, a mulher acaba desistindo”, defende Clécio Lucena, presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, Regional Minas Gerais. O médico afirma que há evidências científicas muito sólidas de que a amamentação efetiva e prolongada, por no mínimo seis meses, diminui o fator de risco de câncer de mama e é também um fator protetor contra a doença. “Além disso, tem o lado da afetividade; sabemos que a amamentação é uma das mais importantes formas de estabelecimento de vínculo entre mãe e bebê”, observa. Segundo ele, o puerpério é uma fase difícil para a mulher e o aleitamento pode interferir positivamente para diminuir efeitos psicológicos negativos em relação ao início da maternidade.
Clécio Lucena reforça que o processo de amamentação é natural e que assim deveria ser entendido. “É um ato absolutamente necessário para a sobrevivência da raça humana. O que é estranho, na verdade, é a necessidade de existir uma lei para garantir esse direito à mulher e à criança”, reforça.
Saúde no peito
A Organização Mundial de Saúde recomenda o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses da criança e, partir de então, como complemento, até 2 anos ou mais. Veja os benefícios
» Reduz a mortalidade infantil: o aleitamento materno pode evitar 13% das mortes em crianças menores de 5 anos em todo o mundo
» Evita diarreia: crianças não amamentadas têm risco três vezes maior de se desidratar e morrer por diarreia
» Evita infecção respiratória: a proteção é maior quando a amamentação é exclusiva nos primeiros 6 meses
» Diminui os riscos de alergia: a amamentação exclusiva nos primeiros meses de vida diminui o risco de alergia à proteína do leite de vaca, de dermatite atópica e de outros tipos de alergias, incluindo asma
» Diminui o risco de hipertensão, colesterol alto e diabetes: o aleitamento apresenta benefícios de longo prazo
» Reduz a chance de obesidade: indivíduos amamentados têm chance 22% menor de vir a apresentar distúrbios de peso
» Melhor nutrição: o leite materno contém todos os nutrientes essenciais para o crescimento e o desenvolvimento das crianças
» Efeito positivo na inteligência: crianças amamentadas apresentam vantagem nesse aspecto sobre as demais
» Melhor desenvolvimento da cavidade bucal: o exercício que a criança faz para sugar o leite da mama é fundamental para o alinhamento correto dos dentes e boa oclusão dentária
» Protege contra o câncer de mama: estima-se que o risco de desenvolver a doença entre mães que amamentam diminua
4,3% a cada 12 meses de amamentação
» Evita nova gravidez: a amamentação é um excelente método anticoncepcional nos primeiros seis meses após o parto, com
98% de eficácia
» Promoção do vínculo afetivo entre mãe e filho: a amamentação
é uma forma muito especial de comunicação entre a mãe e o bebê
» Melhor qualidade de vida: de forma geral, crianças amamentadas adoecem menos
Fonte: Ministério da Saúde