No entanto, a falta de incentivo à lactação é um impedimento para que muitas mães alimentem seus filhos e filhas exclusivamente no peito nos primeiros seis meses. Um dos tabus culturais que infelizmente ainda faz parte da realidade brasileira é a não aceitação da amamentação em público em razão da hipersexualização do corpo feminino pela sociedade machista. Amamentar não tem nada a ver com sedução ou sexo.
Para garantir o direito das novas gerações em receber o melhor alimento possível nos primeiros meses de vida – e que terá repercussões positivas na vida adulta - o Brasil tem visto surgir leis municipais e estaduais que punem quem constranger mulheres amamentando. Em BH, a lei da amamentação em público foi sancionada pelo prefeito Marcio Lacerda e publicada e nesta quarta-feira (29/06) no Diário Oficial do Município (DOM).
A lei n° 10.940, de autoria do vereador Gilson Reis, garante às crianças o direito ao aleitamento materno em locais fechado ou aberto, destinado à atividade de comércio, cultural, recreativa, ou à prestação de serviço público ou privado, similares, congêneres e em bens públicos como praças, ruas e edifícios públicos, incluindo suas autarquias. Em caso de descumprimento, o estabelecimento será multado em R$500,00. Em caso de reincidência, o valor sobre para R$1.000,00.
A multa aplicada aos estabelecimentos e bens públicos será integralmente revertida ou destinada ao custeio da educação infantil. A lei, segundo o Executivo, será regulamentada por decreto no prazo de 90 dias a partir da data da sua publicação. Nesse prazo, outras diretrizes em relação a lei, sobre como será realizada a fiscalização e por quem, serão trazidas pelo documento.
Presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia Regional Minas Gerais, Clécio Lucena afirma que as evidências científicas são muito sólidas de que a amamentação efetiva e prolongada por no mínimo seis meses diminui o fator de risco de câncer de mama e é também um fator protetor contra a doença. “Além disso, tem o lado da afetividade e sabemos que a amamentação é uma das mais importantes formas de estabelecimento de vínculo entre mãe e bebê”, observa. Segundo ele, o puerpério é uma fase difícil para a mulher e o aleitamento pode interferir positivamente para diminuir efeitos psicológicos negativos em relação ao início da maternidade.
Clécio Lucena reforça que o processo de amamentação é natural e assim deveria ser entendido. “É um ato absolutamente necessário para a sobrevivência da raça humana. O que é estranho, na verdade, é a necessidade de existir uma lei para garantir esse direito à mulher e à criança”, reforça.
O mastologista lembra ainda que o aspecto social tem um peso muito grande para o sucesso ou não da amamentação. “A mãe precisa se sentir protegida, confortável, tranquila e ser apoiada na sua decisão por profissionais de saúde, família e em espaços públicos. É algo que jamais deve ser visto como motivo de constrangimento. O processo orgânico de produção de leite inclui a preparação emocional dessa mãe. Uma mulher que está vivendo situações de estresse pode bloquear a produção da prolactina, hormônio relacionado à produção de leite. É preciso entender que a amamentação não é um ato mecânico. É uma decisão. E nesse processo de decisão que começa a ser construído na gestação e perdura pelos primeiros meses de vida da criança é preciso persistência, força de vontade e apoio. Caso contrário, a mulher acaba desistindo”, salienta.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o aleitamento materno exclusivo até os seis meses de idade da criança e, partir de então, até os 2 anos ou mais. Veja os benefícios:
- Mortalidade infantil: o aleitamento materno pode evitar 13% das mortes em crianças menores de 5 anos em todo o mundo.
- Evita diarreia: crianças não amamentadas têm um risco três vezes maior de desidratarem e de morrerem por diarreia quando comparadas com as amamentadas
- Evita infecção respiratória: a proteção é maior quando a amamentação é exclusiva nos primeiros seis meses
- Diminui os riscos de alergia: a amamentação exclusiva nos primeiros meses de vida diminui o risco de alergia à proteína do leite de vaca, de dermatite atópica e de outros tipos de alergias, incluindo asma e sibilos recorrentes
- Diminui o risco de hipertensão, colesterol alto e diabetes: o aleitamento materno apresenta benefícios em longo prazo
- Reduz a chance de obesidade: indivíduos amamentados tiveram uma chance 22% menor de vir a apresentar sobrepeso/obesidade
- Melhor nutrição: o leite materno contém todos os nutrientes essenciais
para o crescimento e o desenvolvimento das crianças
- Efeito positivo na inteligência: crianças amamentadas apresentam vantagem
nesse aspecto quando comparadas com as não amamentadas
- Melhor desenvolvimento da cavidade bucal: o exercício que a criança faz para retirar o leite da mama é fundamental para o alinhamento correto dos dentes e uma boa oclusão dentária
- Proteção contra câncer de mama: Estima-se que o risco de contrair a doença diminua 4,3% a cada 12 meses de duração de amamentação.
- Evita nova gravidez: A amamentação é um excelente método anticoncepcional nos primeiros seis meses após o parto com 98% de eficácia
- Promoção do vínculo afetivo entre mãe e filho: a amamentação é uma forma muito especial de comunicação entre a mãe e o bebê e uma oportunidade de a criança aprender muito cedo a se comunicar com afeto e confiança.
- Melhor qualidade de vida: crianças amamentadas adoecem menos (FONTE: Ministério da Saúde).