Brasileiros desconhecem vacina contra pneumonia pneumocócica

Em Minas, 2.519 pessoas já morreram este ano vítimas da infecção nos pulmões. Estudo realizado entre março e abril deste ano com 3.253 latino-americanos acima de 50 anos, incluindo o Brasil, mostra que 49% da população do país não sabe que a vacina pneumocócica existe

por Valéria Mendes 25/06/2016 11:00
BRIAN SNYDER
A pneumonia representa uma ameaça à saúde dos grupos que estão nos extremos da vida: crianças menores de 5 anos e idosos. No entanto, apenas a vacina para os bebês é bem difundida entre a população brasileira (foto: BRIAN SNYDER)
A queda da temperatura favorece a transmissão de importantes doenças infectocontagiosas. Ao contrário da gripe, em que a vacinação é altamente difundida como forma de prevenção da doença, quase metade da população brasileira acima de 50 anos (49%) não sabe que a pneumonia pneumocócica, de origem bacteriana, pode ser também prevenida com vacina. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 1,6 milhão de pessoas morrem de pneumonia por ano no mundo. No Brasil, a pneumonia por todas as causas - seja ela de origem viral, bacteriana ou fúngica -, é a segunda doença respiratória mais comum. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), até 23 de maio deste ano, 2.519 pessoas morreram vítimas de pneumonia: 17 óbitos por dia. Em 2015, 8.160 pessoas morreram por pneumonia no Estado.

A pneumonia é uma infecção que afeta os pulmões e os sintomas característicos são tosse, febre e dificuldade de respirar. Crianças, idosos e pessoas com determinadas doenças crônicas, como diabetes mellitus, doenças cardíacas e pulmonares, são mais vulneráveis a esse tipo de infecção. A bactéria pneumococo pode ser transmitida de pessoa para pessoa por contato direto com secreções respiratórias, como saliva e muco. Lavar as mãos regularmente e desinfetar superfícies potencialmente contaminadas ajudam a prevenir a doença. Mas a vacina é a forma mais eficaz e segura para prevenção dessa enfermidade respiratória.



A pneumonia representa uma ameaça à saúde dos grupos que estão nos extremos da vida. Enquanto meninos e meninas abaixo dois 2 anos não têm o sistema imunológico totalmente desenvolvido, nos idosos, as defesas do organismo começam a se enfraquecer com a idade. Mestre em imunologia celular pela Universidade de Cambridge, na Inglaterra, especialista em patologia clínica, diretora Médica da Vacsim e responsável médica de vacinação da Drogaria Araújo, Paula Távora afirma que de cada dez casos de gripe, quatro são hospitalizados e podem evoluir para pneumonia. “As doenças pneumocócicas invasivas são responsáveis por 50% de todas as internações que temos no período outono-inverno”, salienta. A especialista explica que a pneumonia invasiva é aquela que desce dos brônquios para o tecido pulmonar. Já a pneumonia não invasiva são as que descem para a traquéia e o paciente desenvolve rinite, sinusite ou bronquite.

Como a associação entre o vírus da gripe e a bactéria pneumococo é comum, o ideal seria que os idosos recebessem não apenas a vacina da gripe, mas também a pneumocócica. No entanto, a imunização dessa faixa etária não está contemplada no Programa Nacional de Imunização do Ministério da Saúde.

O calendário da Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm) recomenda a vacina pneumocócica 13 valente e 23 valente para todas as pessoas acima dos 60 anos. “Entre 50 e 60 anos, fica a critério do médico recomendar ou não a vacinação e na faixa etária entre os 5 e 50 anos a pneumonia não é tão grave quanto nos extremos da vida. Quem morre pneumonia são os idosos e doentes crônicos e, infelizmente, a saúde pública ainda não oferece a vacina contra a pneumonia para os maiores 60 anos”, afirma a presidente da entidade, Isabella Ballalai.

Vacinação
Enquanto os bebês e os doentes crônicos são contemplados com a vacinação na rede pública, pessoas acima de 60 anos não têm esse direito garantido pelo Sistema Público de Saúde (SUS). No caso dessa faixa etária, apenas quem vive em instituições fechadas – como asilo e hospitais – têm direito à imunização gratuita. Ou seja, boa parte da população de risco não tem acesso à prevenção. A desinformação também agrava o cenário da enfermidade no país. Estudo encomendado pela farmacêutica Pfizer e realizado entre março e abril deste ano com 3.253 latino-americanos acima de 50 anos e entrevistados na Argentina, no Brasil, no Chile, na Colômbia, na Costa Rica, no México e no Peru mostra que 24% da população do país acima de 50 anos sequer sabe o que é a pneumonia. Além disso, apenas 26% dos brasileiros e das brasileiras dessa faixa etária acreditam que correm o risco de contrair a doença (veja infográfico).

Valdo Virgo / CB / D.A Press
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A orientação da SBIm de vacinação de rotina para os idosos é iniciar a imunização com a 13 valente (dose única). Entre seis e doze meses depois, tomar uma 23 valente e, cinco anos depois, repetir a dose. Disponíveis na rede privada, a pneumo 23 tem preço médio de R$ 100 e a pneumo 13, R$ 250.

Para Isabella Ballalai, a vacinação é uma das melhores formas de reduzir a pneumonia pneumocócica na população. “É importante lembrar também que a vacina não protege apenas contra a pneumonia, mas também contra meningite, sepse e otite. A bactéria pneumococo causa várias doenças além da pneumonia”, salienta a especialista.

É importante dizer que a vacina só protege contra a infecção nos pulmões causada pela bactéria Streptococcus Pneumoniae, conhecida popularmente como pneumococo. No entanto, três em cada dez casos de pneumonias por todas as causas em pacientes hospitalizados são geradas pela bactéria penumococo, segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia. “Pneumonia é o nome genérico para as doenças que atingem os pulmões e que podem ser transmitidas por vírus, bactérias e, menos comumente, por alguns fungos. Para as pneumonias viróticas não temos tratamento específico, a não ser medidas de suporte. No caso da infecção por fungo, o tratamento é muito específico, além de ser um tipo que não atinge a população geral nas mesmas proporções que as pneumonias de origem bacteriana”, ressalta Paula Távora.

Segundo ela, a preocupação com a vacinação contra a pneumococos se apoia na realidade de que a bactéria não escolhe idade, além de ser transmitida facilmente, ou seja, pelas vias respiratórias. “A literatura nos mostra que a incidência nos extremos da vida é maior. No entanto, o empenho deve ser por estimular o conhecimento em relação à prevenção da pneumonia pneumocócica. A vacina não pode ficar restrita aos bebês. De cada 100 pessoas que têm pneumonia, 50 são por pneumonia pneumocócica, condição que leva a complicações e morte, principalmente acima dos 50 anos de idade. A vacina reúne os tipos mais importantes de pneumococos, que causam as pneumonias mais graves, e é a melhor forma de prevenção, indiscutivelmente”, defende.

Na rede pública
O Programa Nacional de Imunização (PNI) oferece a vacina pneumocócica 10 valente a bebês de dois a quatro meses de idade e um reforço com um ano de vida. Já a pneumocócica 23 é oferecida para idosos acima de 60 anos, mas apenas para os que vivem em instituições fechadas como casas geriátricas, hospitais, asilos, casas de repouso. A dose de reforço é ministrada cinco anos depois da primeira.

Além dessas duas situações, pacientes com condições clínicas especiais têm direito à vacina contra a pneumonia pneumocócica pela rede pública e as doses são oferecidas nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE). Nesses locais, a pneumocócica 10 valente é aplicada em criança de 2 meses até cinco anos e a pneumocócica 23 em pessoas a partir dos 5 anos.

Em 2015, segundo o Ministério da Saúde, foram imunizados 94,23% dos bebês no primeiro ano de vida. No entanto, no ano passado, os adultos com mais de 50 anos correspondiam a 45,7% dos quase 630 mil hospitalizados por pneumonia em hospitais do SUS.

Diferenças da vacinas
O Brasil disponibiliza dois tipos de vacinas contra a pneumonia pneumocócia: as polissacarídicas e as conjugadas. No caso da pneumocócica 23 valente (polissacarídica), licenciada em 1977, a indicação é para pessoas a partir de 2 anos de idade e idosos a partir de 60 anos. O ponto negativo dessa vacina é a curta duração da proteção e a ausência de memória imunológica.

As vacinas pneumocócicas conjugadas foram licenciadas pela primeira em 2000 e possuem o componente imunogênico polissacarídico associado com um componente proteico. É considerado um avanço de tecnologia porque são capazes de induzir uma resposta imune mesmo em crianças abaixo de dois anos de idade, com produção de altos títulos de anticorpos e geração de memória imunológica por longo tempo. “A diferença é que as conjugadas geram uma resposta imunológica melhor”, explica a presidente da SBIm, Isabella Ballalai.

No Brasil, temos a pneumocócica conjugada 10 valente e a 13 valente. Uma vez imunizada, a pessoa está protegida para o resto da vida contra os sorotipos específicos de cada uma dessas vacinas.

Soraia Piva / EM / D.A Press
(foto: Soraia Piva / EM / D.A Press)