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O consumo de bebidas quentes, a 65 graus Celsius ou mais, provavelmente é cancerígeno, anunciou nesta quarta-feira (15/06) a Agência Internacional de Investigação do Câncer (AIIC), em Lyon (França), cujos trabalhos são referências no assunto. "Estes resultados sugerem que o consumo de bebida muito quente é possivelmente responsável pelo câncer de esôfago e que a temperatura, e não a bebida em si, é o fator envolvido", declarou Christopher Wild, diretor da AIIC após uma reavaliação do risco cancerígeno do café, da erva-mate e das bebidas quentes consumidas.
"O tabagismo e o consumo de álcool são as principais causas de câncer no esôfago, especialmente em muitos países ricos", ressalta o Dr. Wild. No entanto, a maioria dos cânceres de esôfago ocorrem em certas regiões da Ásia, da América do Sul e da África Oriental, onde o consumo de bebidas muito quentes é frequente.
Na China, Irã, Turquia e em países da América do Sul, onde o chá ou o mate são bebidos tradicionalmente muito quentes (cerca de 70°C), o risco de câncer de esôfago aumenta com a temperatura em que a bebida é consumida, de acordo com estudos. "As temperaturas normais de consumo para café e chá em países da Europa e América do Norte são bem abaixo. Café e chá são muitas vezes bebidos abaixo dos 60 graus", indica a Dra. Dana Loomis, epidemiologista da AIIC.
O câncer de esôfago é o oitavo mais comum no mundo e uma das principais causas de morte por câncer, com cerca de 400.000 mortes em 2012 (5% de todas as mortes por câncer).
No entanto, não há indicações sobre a proporção de casos de câncer de esôfago ligados ao consumo de bebidas muito quentes, observou a agência do câncer da OMS.
Reavaliação
A pesquisa visa estabelecer um risco de causar câncer, mas não o nível de risco, adverte a agência da OMS.
Este trabalho de re-avaliação, cujo resumo foi publicado na revista Lancet Oncology, foi conduzido por um grupo de especialistas internacionais "sem conflitos de interesses", assegura Kurt Straif da AIIC.
A decisão de classificar as bebidas quentes entre as substâncias "provavelmente cancerígenas" é baseada em "dados limitados", caso contrário seriam classificadas junto com os agentes cancerígenos comprovados.
O café, uma das bebidas mais consumidas no mundo, não é mais considerada como "possivelmente cancerígena", após a reavaliação de especialistas com base em "mais de 1.000 estudos em humanos e animais".
Em 1991, o café foi declarado como "possivelmente cancerígeno" pela AIIC. Ele era suspeito de estar envolvido a casos de câncer na bexiga, com base em dados limitados que, sobretudo, não levavam suficientemente em conta o tabagismo, um grande risco para esse tipo de câncer, ou a exposição ocupacional a produtos tóxico.
Desde então, uma série de estudos realizados na Europa, Estados Unidos e Japão, não forneceram evidências de uma associação entre o câncer de próstata e café.
Além disso, muitos estudos epidemiológicos têm demonstrado que o consumo de café não tem efeito cancerígeno para os cânceres de pâncreas, mama e próstata, e uma redução do risco foi observada para os cânceres do fígado e do endométrio (revestimento do útero), segundo a AIIC.
A notícia da retirada do café da lista foi saudada no exterior. "É uma grande notícia para os consumidores de café e confirma os estudos anteriores", declarou a Associação Nacional do Café dos Estados Unidos.
Roel Vaessen, secretário-geral do Instituto para a Informação sobre o Café (ISIC), com sede na Grã-Bretanha, também comemorou a notícia e disse que o café "tomado a temperatura desfrutável, abaixo dos 60 graus" e em quantidade "moderada" de até 5 xícaras ao dia, seus efeitos são saudáveis.
Além disso, dados sobre mais de outros 20 tipos de cânceres não são conclusivos. Quanto ao mate (folhas de chá), popular na América Latina, mas também no Oriente Médio, desde que bebido frio ou não muito quente, não é considerado uma substância cancerígena.
Contactado pela reportagem, o Instituto Nacional da Erva Mate (INYM) da Argentina, principal produtor mundial, indicou que este ano um estudo sobre o perfil térmico no consumo do mate determinou que em todos os casos, a água que entra no organismo não supera normalmente os 55 graus, o que está dentro do limite recomendado pela OMS.