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Os dados são da pesquisa “A dor no cotidiano”, feita pelo Ibope Conecta e a Pfizer, que ouviu 1.007 brasileiros e brasileiras adultos de todas regiões e classes sociais. Segundo a fisiatra Lin Tchia Yeng, do Centro de Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC/FMUSP), sentimos dor devido a algum desbalanço entre estímulos dolorosos vindos do meio externo e/ou interno do organismo e também pelo grau de capacidade do corpo em lidar com eles. “Quando a dor persiste por mais tempo, ou não é controlada adequadamente, há impactos em áreas do cérebro que podem comprometer o humor, o bem-estar, a capacidade de raciocínio, a concentração e até a qualidade da execução das atividades do dia a dia.”
O fato de tantas pessoas se queixarem de dor atualmente teria relação direta com a sociedade contemporânea. “A vida muito corrida provoca o aumento de estressores físicos e emocionais, e promove as multitarefas, o sedentarismo e a alimentação fast food. Esses aspectos estão totalmente conectados às queixas das pessoas com dor”, comenta a especialista. Sentir dor é, muitas vezes, inevitável, mas nunca algo natural. A dor é um alerta do organismo e quando não tratada pode evoluir para uma doença que é a dor em si. A Associação Internacional dos Estudos da Dor (IASP) define a sensação como uma experiência física e emocional desagradável, associada ou relacionada a uma lesão real ou potencial dos tecidos.
Já a forma como a dor se expressa e é encarada é diferente em função da cultura, das experiências prévias de cada pessoa com esse tipo de sofrimento e também de um gênero para outro. As mulheres têm mais tendência a sentir diferentes tipos de dor por questões hormonais, genéticas e sociais. A dupla ou tripla jornada de trabalho, por exemplo, as deixa mais susceptíveis a desenvolverem dores musculoesqueléticas crônicas. A fibromialgia é um dos casos, acometendo sete mulheres para cada homem. A artrite reumatoide, doença autoimune que tem como sintomas clássicos a dor, inchaço e rigidez nas articulações, também atinge mais elas: são três mulheres para cada homem.
SINAL DE ALERTA
As dores podem ser agudas ou crônicas. A primeira dura segundos, dias ou semanas e nada mais é do que uma reação, um sinal de alerta a cirurgias, traumatismos, queimaduras, inflamações ou infecções. Já a dor crônica ou persistente é aquela que dura mais de três meses, como a causada por fibromialgia, neuropatias, lesões por esforços repetitivos e câncer. A dor crônica muitas vezes é o resultado de uma dor aguda que não foi tratada adequadamente e assim se torna a própria doença do paciente. Viver essa realidade de dor compromete o bem-estar social e emocional, levando a quadros de depressão. A qualidade de vida é muito afetada nesses pacientes que têm problemas de apetite e sono.
Aos 19 anos, Raiane Priscila de Souza Andrade teve que trocar a escola pelo hospital. Diagnosticada com síndrome dolorosa complexa regional, em 2013, sua hipersensibilidade é tão grande que, muitas vezes, ela não suporta o toque. “Não consigo ir à escola porque é tanta dor que não me concentro”, lamenta a jovem que vai duas vezes por semana à Clínica de Dor do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (HC/UFMG), onde faz tratamento multidisciplinar com psicoterapia, fisioterapia e terapia ocupacional, além dos bloqueios terapêuticos (injeções com substâncias anestésicas). “Uso cinco medicamentos diferentes, mas, segundo os médicos, tenho uma dor crônica intratável”, comenta.
A dor de Raiane tem origem neurológica, mas existem vários tipos de dor crônica. A Classificação Internacional de Doenças (CID-11), a partir de 2017, as dividirá em sete categorias. Entre os Transtornos Dolorosos Primários está a fibromialgia. Já a Dor Oncológica é muito prevalente em alguns tipos de câncer, como pâncreas, cabeça e pescoço e tumores ósseos. Além disso, 90% dos pacientes com a doença avançada têm dor moderada ou intensa. A Dor Musculo-esquelética engloba as lombalgias, dores articulares (artrites e artroses) e lesões de tendões. Já a Dor Neuropática é causada por lesão ou disfunção de um nervo, como a polineuropatia dolorosa diabética. São comuns as parestesias, formigamentos e dormências.
A Dor Pós-cirúrgica, segundo o anestesiologista e clínico de dor Gustavo Lages, é a que persiste após o período normal de cicatrização. “Uma dor no dia seguinte a uma cirurgia é normal e deve ser tratada, mas se passar de dois meses já é uma dor crônica. Predisposição genética e alguns perfis psicológicos são fatores de risco para uma catastrofização da dor”, pondera o coordenador da Clínica de Dor do HC/UFMG e membro da equipe do Hospital Mater Dei. A Dor Visceral, geralmente, é uma dor mal caracterizada e mal localizada, muitas vezes semelhante a uma cólica, caso de uma endometriose. E a Dor de Cabeça tem extensa classificação, sendo as mais comuns a cefaleia tensional, a enxaqueca e a cefaleia por abuso de analgésicos.
DOR CRÔNICA
A Organização Mundial de Saúde (OMS) convocou a Associação Internacional para o Estudo da Dor (IASP) para uma força-tarefa a fim de desenvolver uma nova e mais pragmática classificação para a dor crônica. O esforço ocorreu para a revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11), que será lançada em 2017. Especialistas afirmam que a falta de uma codificação adequada para condições de dor crônica nas edições prévias do CID prejudicou a realização de estudos epidemiológicos e um melhor entendimento dos mecanismos da dor crônica, seu tratamento em larga escala e o financiamento adequado para programas de tratamento ao redor do mundo. A força-tarefa da OMS com a IASP listou os transtornos de dor crônica mais comuns e os classificou em sete categorias:
Transtornos Dolorosos Primários
•Dor Oncológica
•Dor Pós-cirúrgica
•Dor Musculo-esquelética
•Dor Visceral
•Dor Neuropática
•Dor de Cabeça
Fonte: Pesquisa A Dor no Cotidiano