Esse tipo de inflamação surge porque o sistema imunológico passa a atacar o próprio organismo e a destruir células saudáveis, num distúrbio ainda não totalmente compreendido pela ciência. Com o passar dos anos, essa situação desgasta o organismo, podendo provocar uma série de problemas. De acordo com estudos recentes, essa condição contribui, por exemplo, para o desenvolvimento dos males de Alzheimer e de Parkinson, da insuficiência cardíaca, do diabetes e do câncer, entre outras enfermidades.
Citocina
Segundo a equipe de cientistas, cujos resultados foram publicados na revista especializada British Journal of Nutrition, os polifenóis são capazes de equilibrar a citocina, uma molécula que desempenha importante papel na regulação do sistema imunológico, responsável pela comunicação entre células e estimulação do processo inflamatório.
Outra descoberta do estudo foi o efeito anti-inflamatório dos ácidos fenólicos (um tipo de polifenol) após serem absorvidos pelo sistema digestivo, o que havia sido pouco investigado até então. De acordo com os pesquisadores, os resultados indicam que o grupo de polifenóis analisado é benéfico, ao prevenir e tratar a inflamação crônica. “Pessoas idosas são mais suscetíveis à inflamação crônica; então, seriam os principais beneficiados ao suplementar em suas dietas alimentos que são fonte de moléculas de polifenóis”, escreveram os autores no estudo.
Hábitos saudáveis
Somada à recomendação de uma dieta que inclui os compostos anti-inflamatórios, especialistas alertam para a necessidade de manter atividades físicas regulares e sono reparador como forma de intensificar os cuidados contra os males da inflamação. “Dietas como a ocidental, rica em gordura, acompanhadas de insônia, estresse e sedentarismo, são fatores que elevam o risco de inflamação crônica. Por isso, não basta mudar os hábitos alimentares”, enfatiza o nutrólogo Leandro Minozzo.
A mesma recomendação é destacada por Paulo Barboni, químico e pesquisador no desenvolvimento de analgésicos. “Os alimentos favorecem o equilíbrio do corpo, mas eles não são suficientes. É preciso fazer exercícios físicos, evitar o consumo de bebidas alcoólicas e o tabagismo, enfim, ter uma vida saudável é essencial.”
Os benefícios do açaí
Em outra investigação sobre os benefícios dos polifenóis, cientistas focaram em uma fruta bastante popular no Brasil: o açaí. Realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Minas Gerais, e da Universidade Texas A&M, nos EUA, o estudo buscou avaliar a capacidade de o alimento gerar efeitos anti-inflamatórios, anticancerígenos e de regulação da gordura no sangue.
As análises foram realizadas com roedores e em ambientes controlados, de forma que ainda não é possível estimar os mesmos resultados em pessoas. Esse é, no entanto, o próximo passo da pesquisa. “Nosso estudo avalia de forma mais aprofundada os possíveis mecanismos de ação pelos quais os compostos polifenólicos do açaí atuam na redução do processo inflamatório, do estresse oxidativo e da adipogênese e do estímulo da apoptose, processos que estão diretamente relacionados às alterações bioquímicas e ao aparecimento de doenças, como as cardiovasculares, diabetes, obesidade, câncer, entre outras”, explica ao Correio Manoela Maciel, pesquisadora do Departamento de Nutrição e Saúde da UFV e coautora do trabalho, publicado na revista especializada Journal of Functional Foods.
De acordo com Manoela, é importante que o consumo do açaí seja feito de forma balanceada e acompanhado de outros cuidados para diminuir os riscos de doenças graves. “Ainda não há um consenso em relação à dose recomendada para o consumo do açaí.
Cuidados básicos
“Não se pode dizer que nenhum alimento cure ou previna doenças, mas apenas reduz o risco. No entanto, para que o açaí exerça seu efeito benéfico à saúde, ele deve ter seus compostos bioativos preservados e devem ser consumidos em doses adequadas, diariamente, além de ser acompanhado de atividade física, como todo alimento funcional. Deve-se considerar os cuidados no processamento e armazenamento para que não haja oxidação do produto, com consequente perda das suas propriedades benéficas à saúde.”
Hércia Stampini, professora-associada da UFV e coautora do estudo sobre o açaí.