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“A primeira vez que ouvi sobre o sistema nervoso entérico foi há dois anos, e eu estava tipo ‘O que é isso?’ (…) Mesmo entre os neurobiólogos, a única exposição que fazem sobre ele é algo como meia página em um livro. Mas se trata de algo realmente muito importante”, ressaltou, em comunicado, Xiling Shen, professor de engenharia biomédica da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, e autor do estudo. Já se sabe que esse sistema funciona independentemente dos comandos cerebrais e que há neurônios dele que se conectam ao sistema nervoso central.
A partir dessas informações, Shen e a equipe se propuseram a criar uma janela de observação do sistema nervoso entérico. A estrutura, de vidro transparente e vidro borosilicato resistente, foi implantada na pele de ratos, ao longo do estômago. Como a região não tem ossos, para estabilizar a janela, os cientistas usaram uma pequena peça impressa em 3D. O dispositivo não alterou as funções digestivas e impediu que o intestino se movesse muito, permitindo, assim, um acompanhamento inédito do SNE durante vários dias.
Segundo Shen, com os resultados, esse sistema nervoso independente está pronto para ser explorado. “Cerca de um quarto da população tem uma desordem gastrointestinal funcional. Você provavelmente já ouviu esse termo, que engloba doenças como a síndrome do intestino irritável, a constipação e a incontinência. Se olharmos para a fisiologia dessas doenças, o intestino parece bem. São os nervos que estão de alguma forma com defeito. E a razão pela qual o termo inclui tantas doenças é porque realmente não temos ideia do que está acontecendo com os nervos”, justificou o pesquisador.
Atividade elétrica
Em uma segunda etapa, os cientistas gravaram as atividades elétricas e ópticas do intestino, registro que também ainda não havia sido feito. Para isso, usaram camundongos modificados para que os nervos ficassem verdes quando estimulados. Com um sensor de grafeno que obteve sinais elétricos dos nervos, foi possível ter um registro panorâmico da atividade neural, com imagens, inclusive, de quando as células nervosas disparavam impulsos elétricos.
Registros parecidos já são feitos do cérebro e da medula especial, o que facilita o desenvolvimento das pesquisas científicas. “Sabe-se muito sobre eles porque podemos abri-los, olhar para eles, registrar as atividades neurais e mapear os seus comportamentos”, disse Shen. “Agora, podemos começar a fazer o mesmo com o intestino. Podemos ver como ele reage a diferentes drogas, neurotransmissores ou doenças. Ativamos, mesmo artificialmente, usando luz, os neurônios individuais no intestino, o que ninguém havia feito antes. Essa inovação ajudará a compreender esse sistema nervoso que ainda é completamente escuro para nós.”