Até agora, diversas pesquisas haviam revelado problemas oculares em crianças nascidas com zika, mas todas elas tinham microcefalia.
A pesquisa, liderada por Rubens Belfort Jr, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), teve a participação de cientistas da Fundação Altino Ventura, em Recife (PE), do Hospital de Olhos de Pernambuco e do Instituto da Visão (SP).
Segundo os autores da pesquisa, o caso estudado sugere que a microcefalia não deveria ser um critério para dar continuidade aos casos de infecção congênita por zika - como tem determinado o Ministério da Saúde -, já que crianças sem a má-formação ainda poderiam ter sido infectadas pelo vírus durante a gestação. De acordo com ele, manter a microcefalia como critério para dar prosseguimento às investigações dos casos poderia acabar excluindo crianças que têm problemas oculares sérios e outras lesões neurológicas.
Até agora, haviam sido registrados problemas oculares em crianças com microcefalia e zika congênita em Pernambuco e na Bahia. Segundo os autores do novo estudo, esses registros levaram a comunidade científica a estabelecer a microcefalia como um critério para a triagem de bebês com zika congênita. Segundo eles, em fevereiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o vírus zika e a microcefalia como emergência internacional de saúde pública.
"A partir de então, a presença ou ausência de microcefalia tem sido usada como critério de triagem e apenas os casos que cumprem esse critério foram classificados como casos de infecção congênita pelo vírus zika, para serem depois investigados", escreveram os autores.
No artigo, os cientistas sugerem que a microcefalia deixe de ser um critério para triagem. "Enfatizamos a necessidade de que as autoridades de saúde pública forneçam exames oftalmológicos para bebês com suspeita de infecção congênita por vírus zika, porque os achados oculares podem ser sub-diagnosticados se a microcefalia continuar a ser um critério de inclusão desse grupo de bebês nas triagens", escreveram os cientistas.
O estudo descreve distúrbios oftalmológicos em bebê de 57 dias de idade, com circunferência do crânio de 33 centímetros e peso de 3,5 quilos. O bebê foi submetido a exames oftalmológicos por um neurologista por ter suspeita de infecção congênita pelo vírus zika. A mãe relatou que não teve sintomas de zika, nem usou drogas ilícitas, álcool ou tabaco durante a gravidez.
"A criança apresentou espasmos nos membros inferiores e superiores ao nascer.
Ao ser submetido a testes sorológicos, o bebê teve confirmada a presença de infecção congênita por zika. Segundo os cientistas, não foram detectadas, nem no bebê nem na mãe, doenças como toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, herpes, HIV ou dengue..