Lack coordenou um estudo da Agência de Padrões Alimentares (FSA, pela sigla em inglês) da Inglaterra feito com 1.303 bebês de 3 meses e que testou o potencial preventivo da introdução precoce de amendoim e ovos. As crianças foram examinadas quando completaram 1 ano e, depois, com 3. No fim, aquelas que receberam os alimentos precocemente tiveram 67% menos risco de desenvolver alergia alimentar quando comparadas às que só tomaram leite materno até os 6 meses.
No caso dos ovos, 1,4% dos pequenos expostos aos 3 meses ficou sensível ao alimento, percentual que subiu para 5,5% no caso dos alimentados exclusivamente com leite materno. O efeito foi maior em relação ao amendoim. Nenhuma das 310 crianças introduzidas precocemente ao alimento desenvolveu alergia.
“O resultado da análise aumenta o corpo de evidência de outros estudos que indicam que a introdução precoce de amendoim, principalmente, previne o desenvolvimento de alergia a ele”, diz Lack. “Nós ficamos extremamente contentes com esse resultado, pois precisamos encontrar formas de prevenir um problema que afeta uma grande quantidade de crianças de até 3 anos”, afirma. Ele destaca, porém, que o estudo seguiu normas de segurança e os bebês foram acompanhados de perto por médicos.
Outra observação do especialista é que os pais devem continuar a seguir as diretrizes governamentais. No Brasil, a recomendação do Ministério da Saúde é a alimentação exclusiva por leite materno até os 6 meses e, a partir daí, a introdução dos sólidos, incluindo os potencialmente alergênicos. Essa é a mesma diretriz da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Novas práticas
Também conhecido por desencadear alergias em crianças, o leite de vaca foi introduzido precocemente em um estudo da Universidade de McMaster, no Canadá, divulgado ontem na reunião Anual da Sociedade Torácica Americana. O trabalho incluiu dados de 1.421 bebês canadenses que receberam derivados do alimento antes de 1 ano de idade, sendo que, até os 6 meses, as crianças continuaram sendo amamentadas pelas mães. Na pesquisa, quantidades moderadas do leite de vaca foram oferecidas aos bebês de até 6 meses e de 7 a 12 meses.
Comparados aos grupos das mesmas faixas etárias que não foram expostos ao alimento, os percentuais de redução de sensibilização ao leite quando as crianças completaram 1 ano foram, respectivamente, 33% e 47%. “As implicações clínicas do nosso estudo são que a introdução precoce de alimentos alérgenos antes de 1 ano deve ser encorajada e ela é melhor do que evitar ingredientes para reduzir o risco de sensibilização alimentar”, disse, em nota, o principal autor do estudo, Maxweel Tran.
Outra pesquisa canadense, publicada no Jornal da Associação Médica Canadense, encontrou evidências de que introduzir alimentos alergênicos no primeiro ano de vida pode prevenir alergia. O trabalho concentrou-se no amendoim, um dos alimentos que mais desencadeiam reações nos pequenos e foi realizado com 640 crianças de 4 a 11 meses e com alto risco identificado de desenvolver sensibilidade ao ingrediente. “Essas crianças tinham eczema severo ou alergia a ovo, que são fatores de riso para desenvolver o problema”, esclarece Gerald Nepom, diretor da Rede de Tolerância Imunológica, organização responsável pelo estudo.
Das crianças que não tiveram acesso à leguminosa na alimentação, 17% desenvolveram alergia a ela aos 5 anos. “Mas apenas 3% das que estavam no grupo escolhido aleatoriamente para comer amendoim nos primeiros 11 meses de vida tiveram o mesmo problema naquela idade”, conta Nepom. “Por décadas, os alergologistas têm recomendado que crianças pequenas evitem o consumo de alimentos alergênicos como prevenção.
Risco varia conforme a época de nascimento
Um estudo da Universidade de Southampton, no Reino Unido, publicado no jornal Allergy descobriu marcadores específicos no DNA que associam a estação do ano em que uma pessoa nasce ao risco de desenvolvimento de alergia. Os cientistas analisaram amostras de DNA de indivíduos nascidos na Ilha de Wight, na costa sul da Inglaterra, e descobriram que um marcador epigenético em particular, a metilação do DNA, está relacionado ao desencadeamento de processos alérgicos mesmo 18 anos depois. Segundo os pesquisadores, por exemplo, pessoas nascidas no outono têm um risco aumentado de eczema, quando comparadas às nascidas na primavera.
John Holloway, geneticista do Departamento de Alergia e Doenças Respiratórias da universidade e principal autor do estudo, disse que já se sabia que a estação de nascimento tinha alguns efeitos sobre a saúde. “Geralmente, quem nasce no outono ou no inverno tem risco aumentado para asma. Mas, até agora, não sabíamos que os efeitos poderiam durar tanto”, afirmou. “Os marcadores epigenéticos ficam ligados ao DNA e podem influenciar a expressão genética — o processo pelo qual genes específicos são ativados para produzir uma determinada proteína — durante muitos anos, talvez até pela próxima geração”, observa.
Os pesquisadores ressaltaram que são necessários mais estudos para entender melhor de que forma se dá a influência das estações e se isso pode ser explicado por diferenças específicas, como temperatura, incidência solar e dieta. “Também precisamos investigar mais a relação entre a metilação do DNA e as doenças alérgicas, e se outras exposições ambientais têm potencial de alterar o epigenoma”, observa John Holloway.
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