Apresentado recentemente no encontro científico anual da Sociedade de Radiologia Intervencionista, no Canadá, o método é conhecido como embolização bariátrica arterial, e já é realizado em testes com humanos desde 2013. A ideia é tratar pacientes com obesidade mórbida atacando a sensação de fome associada ao hormônio grelina, produzido na mucosa gástrica. Recentemente, esse peptídeo foi apontado como um regulador do apetite e da homeostase energética, processo pelo qual o cérebro regula a ingestão e o gasto de energia.
A técnica, desenvolvida no Johns Hopkins, tem como alvo as células que produzem a grelina, alcançadas pela embolização. Esse processo, minimamente invasivo, leva para as células um material que bloqueia o fluxo sanguíneo. Para isso, é feito um pequeno corte no pulso do paciente, onde se introduz um cateter, direcionado ao fundo gástrico, parte superior do estômago perto da entrada do esôfago, onde o hormônio é produzido. A embolização causa uma isquemia nesse local, reduzindo, dessa forma, os níveis de grelina e, consequentemente, reduzindo o apetite.
“O estudo foi desenhado para avaliar se podemos modificar a sensação de fome. O conceito é que, se podemos reduzir a quantidade de grelina circulando no sangue, os pacientes terão menos fome”, conta Aaron Fischman, diretor do Programa Vascular e de Radiologia Intervencionista da Faculdade de Medicina Ichan. “Essa técnica pode, inclusive, ser um coadjuvante da cirurgia bariátrica e uma faceta a mais em uma abordagem multidisciplinar no tratamento da obesidade”, afirma.
Bons resultados
O teste cujos resultados foram apresentados no encontro da Sociedade de Radiologia Intervencionista envolveu sete participantes, sendo seis mulheres, de 31 a 59 anos, com IMC entre 40 e 50. Além da obesidade, os voluntários não tinham problemas sérios de saúde. Cada um recebeu instruções de uma equipe multidisciplinar, envolvendo médicos, fisiologistas, especialistas em hormônios, gastroenterologistas, nutricionistas, psicólogos e cirurgiões. Eles aprenderam a adotar um estilo de vida saudável, com dieta e prática de exercícios físicos, antes e depois do procedimento. Depois, passaram pelo processo da embolização, realizado de forma endoscópica. Guiado por uma câmera, o cirurgião injetou esferas microscópicas através de um pequeno cateter inserido no pulso ou na virilha do paciente. As microcápsulas eram direcionadas ao fundo gástrico, onde reduziam o fluxo sanguíneo. Com isso, a secreção de grelina era limitada.
Nos sete pacientes, a técnica mostrou-se segura. Após a embolização, em média, eles perderam 5,9% do peso em um mês; 9,5% em três meses, e 13,3% passados seis meses. Em duas semanas, um mês e três meses, respectivamente, os voluntários reportaram redução de fome de 81%, 59% e 26%. Os níveis de grelina foram medidos e sofreram uma queda de 17,5%.
Para Josemberg Campos, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, é preciso cautela na avaliação do método. “Quando alteramos a vascularização de um órgão, temos uma série de efeitos colaterais possíveis, como formação de úlceras no estômago”, observa. Segundo ele, outras técnicas experimentais minimamente invasivas e que também visam aumentar a sensação de saciedade poderão ser mais seguras. Ele cita a aplicação de toxina botulínica e a sutura endoscópica, que estão sendo investigadas. Por enquanto, Campos indica o balão gástrico, nos casos de obesidade leve ou moderada, e a cirurgia bariátrica tradicional. “Tivemos avanços muito grandes na cirurgia para obesos graves. Hoje, este é um procedimento pouco invasivo, feito sob via endoscópica. A segurança da cirurgia está relacionada ao hospital em que será realizada, à experiência da equipe e ao preparo do paciente.
Avanço importante
“A embolização gástrica é um avanço potencialmente importante no tratamento da obesidade para pacientes que não são considerados candidatos apropriados para a cirurgia bariátrica. É claro que precisamos compreender melhor esse processo e o nível de segurança, eficácia e a relação com a redução do hormônio grelina, associado à forme. Por isso, significativas pesquisas, por meio de ensaios clínicos muito bem desenhados, são necessárias antes que esse procedimento possa se tornar parte da prática diária da radiologia intervencionista”,
Michael Wolf, médico do Departamento de Radiologia do Centro Médico de Albany, em Nova York
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